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Chapéu
História

Volume 2 da Enciclopédia do Golpe desnuda papel da mídia

Linha fina
Ex-presidenta Dilma Rousseff participou do lançamento em São Paulo, durante encontro com professores, e destacou luta das mulheres e a importância da educação e comunicação
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Foto: Levante Popular da Juventude

São Paulo – A ex-presidenta Dilma Rousseff foi a convidada de honra do lançamento, na noite de quarta-feira 7, da Enciclopédia do Golpe – O Papel da Mídia, segundo volume da obra que reúne diversos artigos transformados em verbetes e se debruça sobre o processo do golpe, disfarçado de impeachment, que a tirou da Presidência, em agosto de 2016, e seus desdobramentos até os dias de hoje. O encontro foi promovido pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), no auditório do Clube Homs, na Avenida Paulista. 

Durante seu discurso, Dilma não poupou críticas aos apoiadores do golpe que está ditando os rumos do país, entre eles setores do Judiciário, que “tem dois pesos e duas medidas quando se trata de Lula, quando deveria garantir o avanço da democracia”; do Congresso com os parlamenetares que “protagonizaram e apoiaram o impeachment sem crime de responsabilidade, que tiveram seus nomes envolvidos em escândalos variados, inclusive com malas de dinheiro”, e à mídia "oligopolizada", nas mãos de poucas famílias.

"Uma mídia que produziu algumas das características do golpe, como a intolerância e o anticomunismo primitivo travestido de anti-petismo, misógino e machista, para construir estereótipos e reforçar preconceitos contra a mulher. Sempre me acusaram de ser dura, obcecada pelo trabalho, ou frágil, e que eu deveria reconhecer o meu lugar e que por isso eu deveria renunciar. Já os homens que me cercavam eram empreendedores e sensíveis", denunciou.

Dilma também destacou o papel dos educadores no resgate da história e na disputa por uma versão dos fatos que não encontra lugar nos meios de comunicação tradicionais. "Professores, vocês que transmitem o conhecimento. País nenhum vira nação sem professores e não estamos ainda à altura da nação que somos. E vocês têm a missão de puxar esse carro", disse Dilma, emocionada.

Resistência – A presidenta deposta também criticou o ministro da Educação de Temer, Mendonça Filho, que ao ameaçar ir a todas as instâncias para proibir um curso livre sobre o golpe de 2016 na Universidade de Brasília (UnB) provocou reação em defesa da autonomia universitária, que levou outras universidades a abrirem o mesmo curso, entre as quais Unicamp, USP, UFC, UFRGS, UFJF, UFPB, UFBA, UFMS e UFRN. "Conseguiu que todo mundo criasse curso sobre o golpe nesse país, quando eles não gostam que se use essa palavra".

Dilma também criticou a "ultra-direita", que fez emergir como "subproduto do golpe" movimentos como MBL, Vem pra Rua e a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL-RJ). "Eles prometeram muita coisa, que tudo ficaria melhor com a nossa saída. Mas aí chegaram as malas de dinheiro enquanto os direitos e programas (sociais) foram sendo retirados."

E chamou atenção aos ataques à soberania nacional pelo governo de Michel Temer. "Para o pré-sal, além de internacionalizar, querem alterar o modelo de partilha, trazendo de volta o modelo de concessão, com perdas para o país. E tem ainda as privatizações, com a Eletrobras na mira, e todas as hidrelétricas no meio", disse.

O livro – A Enciclopédia do Golpe é organizada pelo Instituto Defesa da Classe Trabalhadora (Declatra) e editada pela Praxis. O primeiro volume foi lançado em novembro do ano passado, e reuniu 22 artigos assinados por intelectuais de diversas áreas como o sociólogo Jessé Souza, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, o jornalista Luís Nassif, o ex-ministro da Justiça, Eugênio Aragão, a desembargadora, Magda Biavaschi e o historiador Luiz Alberto Moniz Bandeira. A ideia é dar “nome aos bois”, identificando os atores do golpe.

Este segundo volume se dedica ao papel da mídia no processo e reúne 28 textos, de jornalistas, cientistas sociais, cientistas políticos, economistas, cineastas, militantes da democratização da mídia e juristas, que analisam como a mídia contribuiu para o atual cenário político, social e econômico brasileiro. Desde canais de televisão, passando por instrumentos como a fotografia, até as mídias sociais e as chamadas fake news. Leia mais em reportagem da Rede Brasil Atual.
 

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