Pular para o conteúdo principal
Chapéu
Conjuntura

“Golpe começa a ser percebido pela população”

Linha fina
Para Lindberg Farias, reformas impopulares de Temer fazem com que cada vez mais brasileiros entendam os interesses de classe por trás do impeachment; senador participou, ao lado de Aldo Fornazieri e Tereza Cruvinel, de mesa do seminário Em Defesa dos Bancos Púbicos
Imagem Destaque
Foto: Seeb-SP

 

 

São Paulo – A crise econômica, os estados brasileiros quebrados financeiramente, as reformas impopulares como a da Previdência têm contribuído para que a população perceba que o impeachment da presidenta Dilma foi um golpe da elite brasileira. A opinião é do senador Lindbergh Farias (PT-RJ), que participou de mesa sobre conjuntura no seminário Em Defesa dos Bancos Públicos, promovido pelo Sindicato na segunda-feira 10. “Nossa narrativa de que o golpe não foi contra Dilma, foi contra os trabalhadores, está começando a ser entendida. Está cada vez mais claro que foi um golpe da burguesia para, num momento de crise econômica, manter seus lucros e privilégios apertando os trabalhadores. A lei da terceirização, por exemplo, é a diminuição de salários e aumento das jornadas”, afirmou. 

> Assista MB com a Presidenta sobre terceirização

O parlamentar citou ainda a reforma da Previdência como outra medida que contribui para a impopularidade do governo ilegítimo de Temer. “As pessoas fazem as contas e entendem. Segundo o IBGE, os homens ficam em média sete anos fora do mercado de trabalho e as mulheres nove. Se a reforma passar, um homem e uma mulher que começaram a trabalhar aos 16 anos só terão direito à aposentadoria integral aos 72 anos e 74 anos [respectivamente].”

Lindbergh disse que diante desse quadro, a esquerda teria que retomar a Presidência, em 2018, com outro projeto. “Temos que ter outra estratégia e outro programa porque os anteriores estão superados. Se insistirmos neles, seremos derrotados. Temos de ter um programa de reformas de base do século 21. Vamos ter de romper com a estratégia anterior: não enfrentamos nenhum setor do capital. Isso deu certo enquanto a economia cresceu, mas não mais quando a economia começou a piorar”.

O senador petista fez críticas ao próprio partido ao lembrar que, no momento da crise, o governo Dilma nomeou o ex-executivo do Bradesco e ex-ministro de FHC, Joaquim Levy, como ministro da Fazenda (de 1º de janeiro a 18 de dezembro de 2015). “Foi um erro drástico. Levy fez um ajuste fiscal que aumentou o desemprego.” Para Lindbergh foram erros como esses que afastaram o PT da população mais pobre: “A favela da Rocinha [no Rio de Janeiro] votou em Lula duas vezes, em Dilma duas vezes, mas não se mexeu quando veio o golpe. Não podemos vacilar mais, se vamos eleger Lula [em 2018] não podemos incorrer no mesmo erro. Não podemos colocar Levy ou [Henrique] Meirelles para comandar a política econômica.”

Lindbergh lembrou ainda outras reformas que deveriam ter sido feitas pelos governos petistas como a da mídia (“não peitamos a Globo”), o enfrentamento aos altos jutos bancários e a taxação de grandes fortunas. “Nós subestimamos a luta de classes no Brasil, subestimamos a influência da burguesia”, admitiu.

“Tenho convicção que vamos voltar a governar esse pais, mas temos de estar melhores, não temos direito de errar novamente”, concluiu.

Faltaram reformas – O cientista político Aldo Fornazieri foi igualmente crítico em relação aos governos petistas. “Ocorreram muitos êxitos como a redução da desigualdade e a valorização do salário mínimo, mas não podemos atribuir a crise somente ao golpe. Ela, em boa medida, se deve ao fracasso de um projeto, que não promoveu reformas progressistas capazes de diminuir as desigualdades sociais no Brasil. Permanência no poder tem de ter propósito.”

Fornazieri também apontou a crise da esquerda em todo o mundo. “Vivemos uma profunda crise das organizaçoes de esquerda, com causas tanto de natureza ideológica quanto ligadas às transformações das últimas décadas: as revoluções tecnológicas que transformaram toda a sociedade. E mesmo assim todo o instrumental da esquerda é dos séculos 19 e 20.”

Para o cientista político, o resultado disso é a falta de comunicação com os trabalhadores e os mais pobres. “Há uma crise retórica, que criou um curto circuito da linguagem com a base, base que não é mais o operário fabril. A comunicacao é fundamental. Se você não tem capacidade de convencimento, entra em crise e perde para outro ator político que tem capacidade de convencimento melhor que a sua. E não adianta apenas culpar o capital e a mídia. Não podemos ter a pretensão de que a grande mídia seja a nosso favor, então existe um problema de comunicação e de propostas da esquerda.”

Temer descartável – Para a jornalista Tereza Cruvinel, o fracasso do golpe tornou Temer uma figura descartável para a elite e as forças políticas que o colocaram no poder. “O programa do golpe fracassou na economia, e na política o Temer está se tornando desnecessário. Se ele não entregar as reformas, como a da Previdência, ele se torna descartável antes mesmo de 2018 [quando ocorre a eleição presidencial].”

Cruvinel, que presidiu a Empresa Brasileira de Comunicação entre 2007 em 2013, disse que o problema de Temer cair antes das eleições é que a esquerda não construiu uma saída política para essa situação. “E o que vamos fazer? Vamos até 2018 assistindo a essa fúria demolidora?”, questionou. “É improvável que Gilmar Mendes, que é um ministro do STF que não esconde ter lado, casse a chapa Dilma/Temer no julgamento do TSE. Mas não podemos subestimar e deixar de levar em conta essa possibilidade. Pode sim ter o descarte de Temer via cassação e eleição indireta”, afirmou, lembrando que o político do PMDB tem somente 10% de aprovação e 92% da população acha que o país está no rumo errado. “A greve geral do dia 28 de abril também pode influenciar a decisão do TSE”, opinou. 

seja socio