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Chapéu
Na luta

Bancários em Curitiba pela democracia, por seus direitos e por Lula

Linha fina
Trabalhadores e dirigentes de diferentes categorias profissionais em todo o país participaram de ato pela liberdade do ex-presidente e pela retomada do Estado Democrático de Direito
Imagem Destaque
Foto: Seeb-SP

Curitiba – José Vando Pereira tirou férias para passar uma semana em Curitiba. Os pontos turísticos, no entanto, não estão no roteiro do bancário que chegou à capital paranaense na segunda-feira 16. Com 30 anos só de Banco do Brasil, o funcionário do Cesup, departamento que fica no centro de São Paulo, é uma das milhares de pessoas que diariamente passam pelo acampamento Lula Livre.

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“Vim para o movimento a favor do Lula porque acho que é importante que ele saiba que as pessoas estão aqui dando força. Em nome da família dele que está sofrendo tanto; da esposa, que foi vítima desse processo criminoso; dos filhos, que de certa forma estão sendo perseguidos pela grande imprensa e não podem estar aqui”, disse. “Estou aqui porque acredito na inocência do Lula. Tirei férias e vim exatamente para isso. Volto segunda-feira para São Paulo.”

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Nesta quarta-feira 18, o trabalhador teve o que chamou de “grata surpresa”. Logo cedo, encontrou as presidentas das entidades representativas dos bancários, no grande ato das centrais sindicais por Lula Livre: Ivone Silva, do Sindicato, e Juvandia Moreira, da Contraf-CUT. “É muito bom saber que a luta sindical vai além das questões corporativas, trabalhistas, que são importantes. Mas o viés político é fundamental”, disse.

Vando contou estar feliz em reencontrar Juvandia, com quem conviveu em várias lutas das campanhas nacionais unificadas (ela antecedeu Ivone na presidência do Sindicato), e conhecer pessoalmente Ivone. “O trabalhador tem de entender que tem de estar junto desses movimentos, do Sindicato – que está sendo tão agredido nesse momento. Isso é fundamental.”

Sentado à sombra – junto com os dirigentes sindicais, o sol também chegou forte a Curitiba –, Vando falou sobre suas impressões do acampamento. “É um ambiente de pessoas irmanadas em prol da luta para libertar Lula. E acho isso necessário, é o mínimo que a gente pode fazer: vir aqui dizer que é favor do Lula, reconhece que ele é honesto e não merece estar preso.”

Revezamento na luta por direitos

“Os bancários estão em Curitiba porque tiramos no nosso congresso de fazer revezamentos aqui. Semana que vem estarão outros militantes, a diretoria, para participar”, informa Ivone, feliz por ter participado do bom dia a Lula. “Foi muito bom dar esse bom dia de que nós estamos na resistência, para dizer pra ele que estamos nas ruas todos os dias na defesa dos nossos direitos trabalhistas, nossos direitos sociais. Que ele está preso, impedido de falar, mas nós estamos aqui fora falando por ele, andando por ele, ocupando todos os espaços que nós podemos, fazendo a denúncia do que está acontecendo no país.”

A dirigente conta que muitas vezes as pessoas falam: mas por que defender o Lula? Só porque vocês gostam do PT, gostam da CUT?  “Não é isso. Defender o Lula é defender todos os cidadãos. No caso Lula, nossa Constituição foi rasgada. Lá diz que se pode recorrer até a última instância. Então, o presidente está preso após o julgamento em segunda instância e isso é cercear o direito dos cidadãos brasileiros de terem seu direito à defesa.”

E critica a justiça seletiva. “Além da prisão de Lula, querem cercear nosso direito de manifestação. Lá no Congresso votaram uma lei que para poder fazer manifestações – imagina a luta dos bancários, passeatas, greves, manifestações nas ruas contra a retirada de direitos que os banqueiros já começaram –, tem de pedir autorização. E a Justiça, você acha que vai dar?  A Justiça é aquela que dá os interditos proibitórios para os banqueiros nos proibindo de fazer a nossa greve, que é votada democraticamente numa assembleia. Essa mesma Justiça que está fazendo os bancários pagarem as condenações quando está perdendo as ações trabalhistas.”

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Veja vídeo com Ivone:

O secretário-geral da Intersindical, o bancário Edson Carneiro, o Índio, acrescentou que o juiz Sérgio Moro "adequou" o julgamento de Lula ao calendário eleitoral. E que essa perseguição ao petista representa algo mais amplo, um ataque maior à democracia e aos trabalhadores. "Por isso devemos saudar essa unidade por um 1º de Maio histórico."

Outros bancários

Elias Jordão, presidente do Sindicato dos Bancários do Paraná, também participa do revezamento da categoria no acampamento. “Curitiba se tornou nos últimos dias o centro da luta e da resistência que já está acontecendo no Brasil todo há bastante tempo. E nós trabalhadores bancários estamos aqui permanentemente revezando entre nossa direção do Sindicato, aposentados, da ativa que não participam do movimento sindical ou social, mas que compreendem a importância desse momento. Muitos que talvez nem sejam de esquerda, mas entendem o que está em jogo no momento. O risco de tudo que está acontecendo: o desrespeito à Constituição, aos direitos individuais. E, claro, se isso está acontecendo com o Lula, poderá acontecer com qualquer cidadão também.”

O dirigente destaca que a importância dessa luta não se trata apenas da defesa daquele “que sem sombra de dúvida foi um dos melhores presidentes do Brasil para a classe trabalhadora”, mas vai muito além disso. “É a defesa dos bancos públicos, da nossa Constituição, o retorno dos nossos direitos trabalhistas que estão solapados diariamente com o golpe que está acontecendo até agora.”

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Estado e Justiça têm de ser para todos

A presidenta Juvandia Moreira visitou o acampamento pela segunda vez. “Por aqui passa gente inclusive de outros países que estão indignadas com o que está acontecendo no Brasil, que estão compreendendo que a democracia no Brasil está ameaçada, porque estamos vivendo um Estado de Exceção. Não é mais um Estado Democrático onde as regras são cumpridas, a lei, a Constituição é cumprida”, disse.

“O Lula está sendo condenado, está preso, porque ele é liderança nas pesquisas, porque ele ganharia as eleições se fosse hoje. Se ele tivesse 1% da intenção de voto não estaria sendo perseguido. E ele está sendo perseguido porque ele defende a igualdade, o fortalecimento das empresas públicas contra os interesses das multinacionais que querem tomar conta do nosso petróleo, da energia, da água, dos bancos públicos, que querem transformar o Brasil num quintal dos EUA, da Europa”, continuou Juvandia.

A dirigente destacou ainda que a resistência a isso é necessário porque são os brasileiros que irão perder, como já estão perdendo com o golpe de 2016. “A miséria está aumentando, em todas as capitais desse país a gente vê que o número de pessoas que estão vivendo nas ruas aumentou muito. O centro de São Paulo dá dó de se ver.”

Veja vídeo com Juvandia:

“Todo cidadão deveria ter direito a casa, a fazer as três refeições por dia, a estudar, a ter qualidade de vida. É essa ideia que o Lula representa e por isso está preso. Então, quem está preso somos todos nós que defendemos um país democrático: independente de partido político, de central sindical, de credo religioso, de orientação sexual. Todos nós que defendemos um país justo e democrático, com distribuição de renda, sem violência, temos de resistir nesse momento, lutar para  resgatar nossa democracia. Não existe direito sem democracia, não existe liberdade sem democracia, não existe justiça sem democracia e é por isso que nós estamos aqui”, concluiu a dirigente.


 

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