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Chapéu
Cinema

Filme que aborda o autoritarismo da ditadura ganha prêmio

Linha fina
‘Construindo Pontes’ foi o grande vencedor do 20º Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental, em Goiás
Imagem Destaque
Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil

Por unanimidade, o filme Construindo Pontes foi o vencedor do 20º Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica), da Cidade de Goiás, com o Grande Prêmio Cora Coralina. Dirigido pela paranaense Heloísa Passos (foto), com sensibilidade, o documentário de 73 minutos aborda o dualismo político a partir das posturas incisivas da própria diretora e de seu pai, Álvaro. As informações são da Agência Brasil.

“É uma imersão e uma entrega, onde estou atrás e na frente das câmeras com meu pai”, disse ela.

A discussão do filme surge a partir de uma coleção de imagens das Setes Quedas, no Paraná, paraíso natural destruído no início dos anos 1980 para a construção da Usina de Itaipu, a maior hidrelétrica do mundo. Lembrar a construção da usina, realizada no auge do regime militar, desperta recordações de um passado imerso em autoritarismo político e econômico. Paralelo a isso, há conflitos de opinião da diretora e do seu pai conservador.

Assista ao trailer:

O júri se comoveu com a coragem da diretora Heloísa Passos em expor uma relação pessoal, deixando evidente a urgência e necessidade de abrir diálogos, saber ouvir e não fugir de conflitos. Para Heloísa, é um filme de descoberta cinematográfica e pessoal, a partir do momento em que ela se propõe a filmar na casa de seu pai, com duas câmeras e um gravador.

“Eu descobri um pai generoso fazendo cinema com ele. Isso para mim é transformador porque é o tempo do cinema fazendo a gente olhar a vida dentro e fora da nossa casa”, disse. “A nossa demanda e a correria do dia a dia não nos permitem esse olhar, no cinema, você para pra isso”, observa.

Esse é o primeiro longa-metragem de Heloísa, mas ela já assumiu a direção em sete curtas-metragens, além de atuar como diretora de fotografia em mais de 25 longas.

Dualismo político

Para o cineasta João Batista de Andrade, membro do júri de premiação, o meio ambiente é muito presente no filme, já que uma das grandes discussões ambientais aborda as represas das usinas e de como essa política de geração de energia está inserida na questão ambiental.

“E ali a política era a ditadura militar”, disse.

Segundo o cineasta, o filme mostra que cada pessoa tem um histórico de relacionamento com o mundo e analisa as coisas de acordo com sua vivência.

“Não há filme melhor para refletir o que acontece no Brasil de hoje e a necessidade de criar pontes e acabar com o absolutismo da visão de cada um”, afirmou. “O filme realmente merecia a premiação”.

Construindo Pontes também ganhou o Troféu do Júri Jovem do Fica, grupo composto por estudantes e representantes dos cursos das áreas de cinema e humanidades das universidades locais. Para esse júri, o filme é premiado por tratar da superação de conflitos pessoais, políticos e ambientais, que dependem da capacidade de combater a intolerância e construir diálogos em busca de uma sociedade mais justa e sustentável.

A diretora Heloísa Passos dedicou a premiação a todas as cineastas e produtoras goianas de cinema. Segundo ela, 74% da equipe do filme são mulheres.

“Nós, mulheres, já trabalhamos há muitos anos no setor do audiovisual, mas de um tempo para cá estamos tendo mais visibilidade. Também temos mais paridade nas comissões de fomento e curadoria, então mais projetos onde a mulher é protagonista e tem esse lugar de fala estão sendo selecionados”, disse.

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