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Chapéu
Isso muda o mundo?

Desrespeitos marcam dezenas de demissões no Itaú

Linha fina
Funcionários que deram a vida pelo banco são dispensados de uma hora para outra e ainda recebem tratamento como se fossem bandidos
Imagem Destaque
Foto: Maurício Morais

São Paulo – Os bancários do Itaú que trabalham no Centro Tecnológico não têm paz. Se não bastassem as demissões que devastaram a área de Tecnologia em junho deste ano, desta vez o terror se instalou no setor Compensação. O Sindicato vem cobrando o banco, por meio do Departamento de Relações Sindicais, uma negociação séria sobre as reestruturações que estão ocorrendo naquele departamento. 

“A área está passando por um processo de modernização dos serviços e já estávamos pressionando o banco a respeito, pois era claro que trabalhadores seriam dispensados, porém não fomos atendidos em nossas reivindicações e aconteceu o que mais temíamos”, informa a dirigente sindical e bancária do Itaú Valeska Pincovai. 

Na terça-feira 15 e na madrugada de quarta-feira 16, foram demitidos 27 trabalhadores do setor. “E sem um pingo de consideração, como o Itaú costuma fazer”, protesta a dirigente. Cobrado pelo Sindicato, o Itaú respondeu que os demitidos são trabalhadores aposentados e que outros serão contratados para repor as vagas. 

“Esses bancários dedicaram anos de suas vidas prestando serviços ao banco e são jogados na rua como se fossem descartáveis”, condena Valeska. “E ouvir do banco que estão sendo dispensados porque estão aposentados e não precisam mais do emprego é falta de humanidade! Sabemos que o país está passando por uma crise. O Itaú por acaso fez levantamento das condições de vida de cada um desses bancários?”, questiona a dirigente. 

“Pegou todo mundo de surpresa, foram chamando e mandando embora. Foi uma falta de respeito, porque podiam ter avisado antes. Está difícil cair a ficha”, conta um dos demitidos, de 62 anos. “O Itaú não dá valor para o funcionário. A gente ajuda a construir o banco e depois não vale mais nada. Quando é para mandar embora, eles chegam e mandam, não têm a menor consideração. É simplesmente descartado.” 

A dirigente sindical Valeska Pincovai

O Itaú lucrou R$ 12 bilhões somente nos seis primeiros meses de 2017, e Roberto Setubal – um dos principais controladores do banco –, é um grande apoiador da reforma trabalhista, que será responsável por tornar as relações entre patrão e empregado ainda mais injustas, e as condições de trabalho ainda mais precárias.  

“O mínimo que deveria ter sido feito, por respeito a tanta dedicação, era ter dado oportunidade de que esses trabalhadores se preparassem para a saída, pois aposentadoria é uma miséria, apesar de o governo dizer que não têm dinheiro para a Previdência. E ainda tem o problema do desemprego que vivemos hoje. Muitos desses demitidos sustentam suas famílias e agora estão desesperados”, afirma Valeska. 

Dono do Itaú defende reforma trabalhista
Todo mundo que não é patrão é contra a reforma trabalhista

Desrespeito – As demissões foram marcadas por um tratamento desrespeitoso, denunciam os trabalhadores. Eles contam que foram escoltados até a porta do centro administrativo. 

“Eu me senti lesada, uma falta de respeito, de consideração”, desabafa outra demitida que trabalhou mais de 25 anos no Itaú.  “O que mais me incomodou foi esse controle. Uma funcionária ficou me acompanhando no exame demissional e depois, onde eu ia, ela ia atrás, pegou minhas coisas no meu armário. Eu fiquei envergonhada, achei assédio moral ficar controlando quem eu cumprimentava, e também por acompanhar até a portaria. Muito desagradável, como se eu estivesse roubando alguma coisa”, relata.

“Depois de tantos anos dedicando suas vidas ao Itaú, passando mais tempo no trabalho do que com suas próprias famílias, eles têm de sair acompanhados como se fossem bandidos! Alguns não tiveram nem o direito nem de falar como os outros bancários”, critica Valeska. 

O Sindicato está acompanhando a situação e não irá aceitar demissões no local, mesmo que de aposentados. “Vamos deflagrar protestos e demais atividades sindicais, pois não é justo tratar essas pessoas como se não servissem mais para o banco, sem dialogar, sem saber qual a condição financeira de cada um, e não deixar que eles se preparem para uma nova vida! Tem como fazer diferente Itaú, isso sim muda o mundo!”

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