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Chapéu
Campanha 2018

Bancos propõem pagar PLR menor às mães em licença-maternidade

Linha fina
Setor mais lucrativo da economia e que desconhece o significado da palavra crise quer aprofundar injustiças de gênero ao sugerir pagar PLR mais baixa às bancárias que se afastam para cuidar dos recém nascidos; proposta gerou indignação entre as mulheres, que já ganham menos do que os homens
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Arte: Fabiana Tamashiro

Atualização: a pressão da categoria e do Comando Nacional dos Bancários, em mesa de negociação, deu resultado. A Fenaban recuou da proposta de não pagar PLR integral para mulheres em licença-maternidade. Negociação continua. CLIQUE AQUI e saiba mais. 

Na oitava negociação da Campanha Nacional 2018, além da tentativa de retirar outros direitos dos bancários e da oferta de apenas 0,5% de aumento real, a Fenaban (federação que representa os altamente lucrativos Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, Santander, Caixa e outros bancos) propôs pagar PLR proporcional aos dias trabalhados para as mulheres em licença-maternidade, e não integral como hoje está previsto na CCT.

A ideia causou assombro no Comando Nacional dos Bancários, que representa os trabalhadores na mesa de negociação, e foi prontamente rejeitada. Uma nova rodada com a Fenaban ocorrerá nesta quinta-feira 23.

“Essa proposta é um verdadeiro insulto, ainda mais vindo de um setor que lucra cada vez mais e cujas trabalhadoras mulheres, apesar de serem mais escolarizadas, são obrigadas a viver com salários mais baixos do que os pagos aos homens”, protesta Neiva Ribeiro, secretária-geral do Sindicato dos Bancários de São Paulo.

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Obviamente, este item da proposta geral da Fenaban também gerou intensa reação negativa entre as bancárias.

“Acho um absurdo. Retirar um direito de mulheres, mães de famílias que muitas vezes são provedoras de suas casas, mulheres que assim como funcionários homens contribuíram para o crescimento e lucros exorbitantes dos bancos. Isso é injusto e preconceituoso”, protestou uma trabalhadora.

“A maioria dos negociadores da Fenaban são homens e pelo visto são filhos de chocadeiras. Vergonhosa essa proposta que regride séculos de luta em busca de igualdade. Repúdio e nojo. Só o que sinto”, afirmou outra.

Adoecidos ou acidentados também receberiam PLR menor

A proposta de PLR proporcional, ao invés de integral como prevê hoje a CCT, também é para trabalhadoras e trabalhadores afastados por doença ou acidente. "Ou seja, a forma de gestão dos bancos, baseada em cobrança excessiva de metas cada vez maiores e em assédio moral, adoece bancárias e bancários, e quando eles se afastam por conta da saúde, ainda perdem o direito à PLR integral. Chamar isso de injustiça é pouco", acrescenta Neiva Ribeiro.

Mulheres estudam mais e ganham menos

Na categoria bancária, as mulheres ocupam 49% do total de postos de trabalho. De acordo com dados do Ministério do Trabalho (Relação Anual de Informações Sociais, Rais), em 2016 elas recebiam, em média, R$ 6.796,47,ou 23% menos do que os homens (R$ 8.772,43).

Essa realidade é ainda mais injusta quando se observa que as mulheres bancárias têm escolaridade maior que a dos bancários. Entre as mulheres, 80% têm nível superior completo, enquanto que entre os homens esse percentual cai para 74%.

Em seus Relatórios Anuais de Sustentabilidade, os bancos apresentam algumas informações que ilustram a desigualdade com a qual as mulheres são tratadas nestas instituições.

No Bradesco, por exemplo, o salário médio das mulheres na gerência representa apenas 85% do salário médio dos homens que trabalham nos mesmos cargos.

Enquanto isso, bancos batem recordes de lucro

A proposta de pagar PLR menor às mulheres em licença-maternidade partiu de um setor cada vez mais lucrativo e que desconhece o significado da palavra dificuldade, mesmo em meio a uma das maiores crises econômicas já atravessadas pelo país.

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Em 2017, os cinco maiores bancos que atuam no país (Itaú, Bradesco, Santander, BB e Caixa), que empregam em torno de 90% da categoria, lucraram juntos R$ 77,4 bilhões, aumento de 33,5% em relação a 2016. Só no primeiro trimestre deste ano, eles já atingiram R$ 20,3 bi em lucro, 18,7% a mais do que no mesmo período de 2017.

E os balanços do semestre já divulgados pelo ItaúBradescoSantanderBB e Caixa apontam que o ritmo de crescimento se manterá. De janeiro a junho, a soma dos lucros dos cinco já alcançou R$ 41,9 bilhões, um crescimento de 17,8% em relação ao primeiro semestre de 2017.

Em 2018, desigualdade persiste e salários são ainda mais baixos

De acordo com o Cadastro Geral dos Empregados e Desempregados (Caged), as 6.729 mulheres admitidas nos bancos entre janeiro e junho de 2018 receberam, em média, R$ 3.452. Esse valor corresponde a 71% da remuneração média recebida pelos 7.219 homens contratados no mesmo período. A diferença de remuneração entre homens e mulheres também é verificada nas demissões. As 8.338 mulheres desligadas dos bancos recebiam, em média, R$ 5.571, o que representou 74% da remuneração média dos 8.456 homens desligados dos bancos.

“O recorte dos dados referente ao primeiro semestre de 2018 revela que além de o salário da categoria ser cada vez menor, a desigualdade entre homens e mulheres persiste no setor bancário, que atinge recordes de lucros graças ao esforço dos trabalhadores. Portanto, essa proposta de rebaixar o valor da PLR das mulheres em licença-maternidade é um desrespeito inaceitável e por isso foi rejeitada na mesa. Esperamos que na negociação de quinta-feira, os bancos apresentem proposta decente. Do contrário, estarão empurrando a categoria para a greve”, afirma Neiva Ribeiro.

Veja como foram as rodadas anteriores com a Fenaban

> 1ª rodada: Bancos frustram na primeira rodada de negociação
> 2ª rodada: Calendário de negociações foi definido
> 3ª rodada: Categoria adoece, mas Fenaban não apresenta proposta 
> 4ª rodada: Em mesa de emprego, bancos não se comprometem contra contratações precárias
> 5ª rodada: Bancos não apresentam proposta
> 6ª rodada: Bancos lucram bilhões e não querem dar aumento real
> 7ª rodada: Negociação com Fenaban continuará na terça-feira 21
> 8ª rodada: Bancos propõem reajuste insuficiente, com retirada de direitos

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