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Chapéu
Ignorância

Doria erra ao dizer que país não precisa de 2 bancos públicos

Linha fina
Em nota oficial, Sindicato afirma que declaração mostra o despreparo do atual prefeito de São Paulo ao analisar o Brasil; economistas renomados pensam diferente e defendem os bancos públicos brasileiros
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Foto: Eduardo Ogata / Secom

São Paulo - "Não vejo razão para o Brasil ter dois bancos." A fala desnuda a total falta de preparo do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), ao analisar o país. O Sindicato emitiu nota ofical repudiando a declaração dada, segundo matéria do Valor, durante evento com empresários na terça 12.

Não é a primeira vez que Doria se coloca contra os bancos públicos. No seminário E agora, Brasil?, promovido pelo jornal O Globo no final de junho, o tucano já havia afirmado que privatizaria o BB ou a Caixa. Na ocasião, disse também que faria o mesmo com a Petrobras.

O Sindicato, na nota oficial (leia abaixo), contesta: "Qualquer estratégia de governo minimamente comprometida com os interesses da população brasileira deveria estar centrada no papel dos bancos públicos no financiamento da indústria nacional, na aquisição da casa própria, na agricultura familiar e na melhoria da infraestrutura".

A representação dos bancários lembra ainda que entre 2008 e 2016 os bancos públicos aumentaram consideravemlente sua participação no crédito total da economia, ao contrário dos bancos privados, que derrubaram seu papel de financiar o desenvolvimento do país.

A defesa da valorização dos bancos públicos é bandeira histórica do Sindicato, apresentada para a sociedade em inúmeras manifestações e também por meio da cartilha Em Defesa dos Bancos Públicos.

Quem entende - Quem entende do assunto não pensa como Doria. Antônio Correia de Lacerda, considerada a Personalidade Econômica do Ano de 2016 e doutor pelo Instituto de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), é taxativo: "Sem os bancos públicos, não será possível atingir o desenvolvimento", disse, durante o 22º Congresso Brasileiro de Economia, realizado no início de setembro.

No alto dos seus 81 anos de experiência, Carlos Lessa, que presidiu o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Esconômico e Social) entre 2003 e 2004, também vê bastante importância nos bancos públicos. Falando sobre o BNDES para o Brasil de Fato cravou: "Um banco de desenvolvimento é um banco que, tendo uma visão de futuro, aproxima essa visão do real mediante linhas de crédito favorecidas a quem avança naquela direção. Na verdade, é um construtor de futuros."

ÍNTEGRA DA NOTA

O prefeito de São Paulo, João Doria, reafirmou nesta terça-feira 12 que o país não precisa de dois bancos públicos (BB e Caixa) e defende a privatização de um deles, por entender que a fusão evitaria "a sobreposição e o uso político também".

Qualquer estratégia de governo minimamente comprometida com os interesses da população brasileira deveria estar centrada no papel dos bancos públicos no financiamento da indústria nacional, na aquisição da casa própria, na agricultura familiar e na melhoria da infraestrutura. Somente os bancos públicos aumentaram sua participação no credito total de 36% para 56% de 2008 para 2016. Enquanto que os bancos privados reduziram sua participação de 64% para 44% no mesmo período. Atualmente, o Banco do Brasil representa 19,6% do total de crédito no Sistema Financeiro Nacional (SFN) e 60% do crédito no agronegócio.

A economia brasileira passa por um momento grave, com forte retração da atividade econômica, elevação do desemprego e queda na renda das famílias. Em 2016 o PIB teve queda de 3,6% e as perspectivas futuras não trazem esperanças para a massa do povo brasileiro, visto que dia após dia são anunciadas intenções de medidas regressivas, como endurecimento das regras da previdência, congelamento dos gastos públicos primários, inclusive com saúde e educação, mudanças no FGTS, entre outras. Privatizar os bancos públicos não nos permitirá sair da crise, mas pelo contrário, irá aprofundar a recessão na medida em que enfraquece o mercado interno e a infraestrutura social e econômica que nos fizeram avançar na última década.

Nesse sentido, é urgente que alternativas para a saída da crise sejam construídas e que passem pela retomada da expansão do crédito para setores prioritários como moradia popular e agricultura familiar. Tais medidas contribuiriam ao mesmo tempo para fortalecer a economia, gerar empregos em setores intensivos em mão de obra, dinamizar o mercado interno e amenizar graves problemas sociais do Brasil como o déficit de moradias, a falta de acesso a terra e também a alta dos preços dos alimentos. 

Os bancos públicos levam a iniciativa privada a seguirem o exemplo e não o contrário. Eles realizam políticas anticíclicas em momentos de crise, auxiliando no acesso a casa própria, barateando a comida e auxiliando os pequenos empresários.

Defender os bancos públicos significa, portanto, defender um país melhor, mais desenvolvido, menos desigual, mais justo e mais fortalecido.

Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região

 

 

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