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Chapéu
Teto de Gastos

Museu Nacional: política do Estado mínimo destrói tudo o que é público

Linha fina
Reitor da UFRJ, que controla o local incendiado, diz que a universidade vem sofrendo com "restrições orçamentárias"; ex-secretária do Ministério da Cultura diz que tragédia é símbolo do descaso
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Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

incêndio de grandes proporções que neste domingo 2 destruiu a quase totalidade do acervo do Museu Nacional - vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) - e comprometeu toda a sua estrutura é fruto da falta de recursos, agravada durante o governo Temer, com a medida que ficou conhecida como "teto de gastos" (Emenda Constitucional 95, proposta por Temer e aprovada pelo Congresso em dezembro de 2016). É esse contexto de "restrição orçamentária" que, segundo o reitor da UFRJ, Roberto Leher, colaborou para a ocorrência da tragédia.

A reportagem é da Rede Brasil Atual.

"Num contexto como esse, todas as unidades (da universidade) são afetadas. Para o país, é uma perda imensa. Aqui temos a nossa memória. Grande parte do processo de constituição da história moderna do Brasil passa pelo Museu Nacional. Este incêndio sangra o coração do país."

A Universidade Federal do Rio de Janeiro, em nota, lamentou o ocorrido e acrescentou: “É a maior tragédia museológica do país. Uma perda incalculável para o nosso patrimônio científico, histórico e cultural”.

Leher também atribuiu as dificuldades no combate às chamas à falta de "infraestrutura" para enfrentar uma emergência desse porte. "Reconhecemos o trabalho valoroso do Corpo de Bombeiros, mas a forma de combate ao incêndio não foi da mesma proporção e escala do incêndio. Percebemos claramente que faltou uma logística e uma capacidade de infraestrutura."

Sem água nos hidrantes, o incêndio avançava enquanto os bombeiros aguardavam a chegada de carros-pipa enviados pela Companhia de Águas e Esgotos do Rio (Cedae). Bombeiros, professores e técnicos do museu dizem que ainda conseguiram salvar algumas peças do acervo, composto por mais de milhões de obras e documentos. Mas, segundo o diretor de Preservação do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, João Carlos Nara, "o dano é irreparável". 

“Infelizmente, a reserva técnica, que esperávamos que fosse preservada, também foi atingida. Teremos de esperar o fim do trabalho dos bombeiros para verificar realmente a dimensão de tudo. “É uma edificação muito antiga que foi concebida em um contexto em que não existia o uso de energia, muito menos o uso intensivo de energia como são as edificação acadêmicas, que têm laboratórios, área administrativa, informática", afirmou Nara.

Ele também afirmou que as instalações do museu contavam com uma brigada de incêndio que realizava "trabalho sistemático" junto ao Corpo de Bombeiros e à Defesa Civil, e que os extintores estavam "em ordem".

Para a ex-secretária de Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura Ivana Bentes, não é possível atribuir à tragédia a um suposto "descaso" da UFRJ. "Não existe política pública para manter e conservar nosso patrimônio. É o mesmo descaso com o patrimônio, a pesquisa, a ciência e tudo que é público. O Museu sobrevive com o mínimo de recursos do Estado."

Ela lembra que até mesmo o público chegou a contribuir com "vaquinha" para ajudar na manutenção do museu, e disse que tragédias dessa dimensão podem ocorrer em outras instituições que vivem na mesma situação. "São incêndios e tragédias que não são ainda mais frequentes nem sabemos o porquê. Na adversidade vivemos, e as universidades fazem muito e muitíssimo com muito pouco."

Segundo a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC-RJ), desde 2014, o "governo federal não faz os repasses apropriados para a manutenção do Museu". O órgão também declarou que o incêndio "é um símbolo do descaso do governo atual com a nossa cultura, ciência e patrimônio".

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