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BB e Caixa foram preparados para venda nos anos 90

Linha fina
Na era FHC, luta dos bancários era contra demissões e para que bancos públicos não fossem privatizados
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São Paulo – Bancários da Caixa Federal e do Banco do Brasil viveram tempos difíceis na década de 1990. Os bancos públicos estavam na mira do programa nacional de desestatizações, implementado pela gestão neobiberal de Fernando Henrique Cardoso na Presidência da República (1995 a 2002). O resultado disso foram demissões em massa, arrocho salarial e até mesmo fraudes nos balanços das instituições para simular falsos prejuízos aos cofres da União e, assim, justificar suas vendas.

Foi o que aconteceu em São Paulo, com o Banespa. Quando candidato ao governo de São Paulo, Mário Covas (PSDB) falava em “profissionalizar” o banco estadual (veja carta), privatizado anos depois. O mesmo termo vem sendo usado pelo candidato do mesmo partido à eleição à Presidência da República, Aécio Neves.

Para lembrar esse triste quadro e reforçar a defesa dos bancos públicos e de seu papel social, sindicatos de bancários realizaram atos na segunda-feira 20, em todo o Brasil. “Já vivemos isso, sabemos o que significou para os bancários. Estamos defendendo os empregos da categoria”, afirmou a presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira. “Todas as instituições deveriam cumprir sua função social, mas só as públicas são responsáveis por mais de 60% do total de crédito concedido para o financiamento da habitação e do crédito agrícola, por exemplo.”

Vale lembrar – Na ânsia por privatizar os bancos, o governo tucano reduziu em muito os postos de trabalho. O BB tinha 119 mil bancários em 1994, mas em 1995, quando FHC foi eleito, o quadro já se reduziu para 94.669 – foram 24.331 para a rua. No último ano do tucano como presidente, em 2002, a instituição fechou seu balanço com 79 mil bancários.

Na Caixa eram 65 mil trabalhadores em 1994, caiu para 63.423 em 1995 e, no último ano de FHC, o quadro de empregados estava reduzido a 55.691 bancários.

Outros dados também são significativos desses anos obscuros: o Banco do Brasil chegou a um prejuízo de R$ 13 bilhões em 1995, início da era FHC.

É importante ressaltar que nesse período de privatizações os balanços de algumas empresas públicas chegaram a ser falsificados. É o que denuncia o jornalista econômico Aloysio Biondi no livro Brasil Privatizado, lançado em 1999 e reeditado este ano. Segundo ele, a equipe econômica de FHC “decidiu lançar como dinheiro perdido no balanço do BB todo e qualquer empréstimo em atraso, mesmo que esse atraso fosse de apenas um dia. (...) Meses mais tarde, resolveu lançar como prejuízo até mesmo os créditos ainda não vencidos.”

Já a Caixa, que em 1995 apresentou lucro de apenas R$ 678 milhões, era usada como “lixeira” de bancos falidos, ainda segundo informações de O Brasil Privatizado: “Na quebra do Banco Econômico, por exemplo, a CEF comprou a carteira imobiliária do banco. Valor: R$ 1,7 bilhão. Na quebra do Bamerindus, a mesma coisa”.

Novo cenário – Esse cenário começou a mudar em 2003, com a chegada de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República. A Caixa Federal fechou 2013 com 98.198 empregados e um lucro de R$ 6,7 bi. No Banco do Brasil eram 112.216 bancários em dezembro de 2013 e o resultado desse ano alcançou R$ 15,7 bi. Comparando, os lucros de Caixa e BB cresceram, respectivamente, 231,5% e 315% entre 2002 e 2013.

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Além disso, a mudança de governo propiciou negociações sérias com o movimento sindical. A partir de 2004, quando a campanha dos bancários se unificou, juntando trabalhadores de bancos públicos e privados na mesma mesa de negociação, os avanços foram ainda maiores.

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Na Caixa, já em 2003, primeiro ano de Lula, a PLR passou a ser para todos – e, à ela, acrescentou-se a PLR Social–, houve a revogação da RH 008 e readmissão dos dispensados injustamente. O quadro de empregados passou a crescer, a política de abono salarial foi substituída pelo aumento real nos salários, além de serem assegurados avanços sociais importantes como a licença-maternidade de seis meses. “A Caixa também voltou a exercer seu papel de banco público a serviço da sociedade”, afirma o diretor executivo do Sindicato e empregado da Caixa Dionísio Reis.

No BB, também em 2003, todos os funcionários passaram a receber a PLR da categoria. E em 2005, veio a conquista da distribuição de 4% do lucro líquido semestral, também para todos os funcionários.

“Além disso, BB e Caixa foram essenciais para que o país enfrentasse a crise internacional, com a ampliação do crédito. Embora ainda tenhamos muito a avançar especialmente nas condições de trabalho, é inegável que a partir dos governos Lula e Dilma passamos a conquistar novos direitos. Agora o que os funcionários do BB têm de refletir é sobre qual dos projetos apresentados quer para si e para o país”, acrescenta o diretor do Sindicato e funcionário do BB, João Fukunaga.

Direitos perdidos - A Caixa teve redução em seu quadro de funcionários, amargou diversas campanhas com reajuste zero. Houve a tentativa de dividir os empregados com a adoção de direitos diferenciados a quem entrou antes e após 1998, além de perseguições e demissões por meio de um instrumento administrativo: o RH 008. Até mesmo os delegados sindicais foram discriminados com o claro objetivo de se impedir a livre organização no local de trabalho.

No BB ocorria o mesmo: os funcionários também sofreram anos de reajuste zero, redução de direitos e de postos de trabalho. Muitos foram ameaçados a aderir aos PDVs (Planos de Demissões Voluntárias) caso não encontrassem colocações em outros estados. Alguns mudaram de cidade, acarretando em prejuízos para suas famílias. Outros não aguentaram a pressão e saíram. Até casos de suicídios ocorreram nesse período.

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Andréa Ponte Souza - 20/10/2014

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