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Chapéu
Ganância sem limites!

Para investidores, retirada dos seus direitos deveria ser ainda maior

Linha fina
Em reunião da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, empresas globais afirmaram que esperavam facilidades ainda maiores para terceirizar e reduzir salários; Gustavo Salgado, do banco Sumitomo Mitsui Brasileiro, reclamou de "quarentena" para contratar demitidos como terceirizados
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Ilustração: Márcio Baraldi

São Paulo - Com a reforma trabalhista, Temer impôs aos trabalhadores a maior retirada de direitos da história. Para “agradar” setores que apoiaram sua ascensão a Presidênciada República, liberou a terceirização em atividades-fim; legalizou modalidades precárias de contratação; dificultou o acesso à Justiça do Trabalho; flexibilizou jornada, férias e demais direitos dos trabalhadores por meio de acordos diretos entre empregados e patrões, em uma correlação de forças desigual. Porém, o mercado é insaciável quando o assunto é maximizar lucros. Em reunião da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos (Amcham), representantes de empresas globais afirmaram que esperavam facilidades ainda maiores para terceirizar e reduzir salários.

Entre os presentes na reunião da Amcham, Gustavo Salgado, do banco Sumitomo Mitsui Brasileiro, reclamou do período mínimo de um ano e meio para contratar como terceirizado um trabalhador demitido. “Isso é um ponto crítico que falhou”, declarou.

“A fala do representante do Sumitomo Mitsui Brasileiro escancara a absurda ganância do setor financeiro. Queriam poder demitir um trabalhador hoje e contratá-lo como terceirizado amanhã, pagando um salário muito menor e sem praticamente nenhum direito. Mesmo diante da maior retirada de direitos da nossa história, não estão satisfeitos. Querem mais, sempre mais. Se for para aumentar seus lucros, não dão a mínima para o sofrimento imposto aos trabalhadores brasileiros”, critica a secretária-geral do Sindicato, Neiva Ribeiro.

O banco Sumitomo Mitsui Brasileiro é parte do Grupo Mitsui, conglomerado empresarial japonês que atua em diversos mercados. Seu braço financeiro é o banco Sumitomo Mitsui Banking Corporation, um dos maiores do Japão. De acordo com o site Intercept, a divisão brasileira da instituição tem sede nas Ilhas Cayman, paraíso fiscal que figura em quinto lugar na lista de países menos transparentes do mundo.  

Para denunciar a ganância sem limites do banco japonês, o Sindicato realizou protesto, na sexta-feira 6, em frente à sede da instituição na capital paulista.

 

"Não pode reduzir salário? Anticapitalistas!" - Outro ponto criticado na reunião da Amcham foi o fato de que reduções de salários permanecem ilegais. “Então quer dizer que ainda não vamos poder reduzir salários? Isso é a coisa mais anticapitalista que existe”, bradou Terry Boyland, representante da CPQI,empresa que fornece tecnologia para bancos na América Latina.

“Banqueiros e grandes empresários patrocinaram a retirada de direitos trabalhistas e sociais em nome dos seus interesses privados e do aumento dos lucros, e não da sociedade brasileira. E, ainda assim, não se dão por satisfeitos. Os direitos que ainda restaram não foram destruídos por conta da mobilização dos trabalhadores, ao lado dos sindicatos. Sem essa resistência, não teria restado nada”, avalia Neiva.

Baixe a íntegra da cartilha sobre a reforma trabalhista   

Elogios – Mesmo com essas críticas, a reforma trabalhista ainda foi bastante elogiada pelos representantes do mercado. Entre os pontos mais celebrados, a possibilidade de que acordos diretos entre patrões e empregados se sobreponham à legislação e a exigência de que o trabalhador arque com custos processuais em caso de derrota em ação judicial contra a empresa.

Para John Gontijo, representante da Farkouh, Furman e Faccio, consultoria tributária de Nova Iorque, o maior avanço da reforma trabalhista foi a diminuição do poder dos sindicatos, flexibilizando relações entre patrão e empregado.

“Essa reunião expôs os verdadeiros objetivos da reforma trabalhista. Querem diminuir a força do movimento sindical porque sabem que os trabalhadores organizados são a maior barreira para a precarização total das relações de trabalho”, enfatiza a secretária-geral do Sindicato.

Acordo de dois anos – Neiva lembra que, apesar da ganância dos banqueiros e dos ataques do governo Temer, a Campanha Nacional Unificada 2016 garantiu aos bancários, após 31 dias de greve, um acordo com validade de dois anos para todos os trabalhadores de bancos públicos e privados. A estratégia mostrou-se ainda mais acertada diante do agravamento da política de retirada de direitos do governo Temer.

“Os bancários têm direitos previstos e garantidos na CCT até 31 de agosto de 2018. Não aceitaremos desrespeito a nenhum desses direitos por uma legislação retrógrada, feita por um governo ilegítimo, que jamais poderia ter imposto tais mudanças. Para deixar isso ainda mais acertado, entregamos aos bancos proposta de termo de compromisso, aprovado na nossa Conferência Nacional. São 21 pontos que têm por objetivo garantir empregos, direitos e a manutenção da atuação das entidades sindicais na defesa dos bancários”, explica Neiva.

Reação – “O momento é de mobilização de toda a categoria, ao lado dos sindicatos e demais entidades representativas, na defesa dos nossos direitos. Somente com muita união vamos preservar nossas conquistas históricas. Estamos, junto com a CUT, coletando assinaturas para um Projeto de Lei de Iniciativa Popular que propõe a revogação da Reforma Trabalhista. Para isso, são necessárias 1,3 milhão de assinaturas. Portanto, é muito importante que os bancários contribuam com o abaixo-assinado. Não só assinando, mas também buscando apoio nas agências e departamentos, igrejas, escolas e outros locais. São nossos direitos que estão em jogo. Só a luta te garante”, conclui a secretária-geral do Sindicato.

> Saiba como ajudar a anular a reforma trabalhista 

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