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Chapéu
Preconceito

Nordestino é tudo preguiçoso e não sabe votar?

Linha fina
Discursos de ódio e preconceito ignoram a importância do trabalho, da economia e da arte dos nordestinos para o desenvolvimento econômico e cultural do país
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Foto: Wilson Dias/Agência Brasil/Fotos Públicas - 28/10/2013

Manifestações de ódio aos nordestinos, que crescem principalmente nesta época de eleições, revelam um bairrismo preconceituoso de parte de moradores de regiões do país (Sudeste e Sul) que ainda acreditam ser, às custas deles próprios, locomotivas do Brasil desenvolvido. Todavia, muitos deles esquecem que o progresso nestas localidades veio com mão-de-obra de quem, fugindo da seca e do coronelismo, trabalhou à exaustão na tentativa de ganhar honestamente o pão e de um dia ter o mínimo de dignidade para si e sua família. Além disso, negam que o Nordeste desde a década de 2000 apresenta forte crescimento econômico e que a região é de extrema importância para a economia nacional, principalmente nos setores da agricultura, indústria, pecuária e turismo.  

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Em São Paulo, entre 1950 e 1970, quando do grande êxodo de nordestinos no auge da industrialização do Sul e Sudeste, muitos dos que aqui chegaram foram – além de alvos de inúmeras piadas – pejorativamente chamados, independentemente do estado de origem, de ‘baianos’. E taxados de preguiçosos, vagabundos, vida mansa.

Hoje, o argumento é de que os nordestinos são desprovidos de inteligência, que não sabem votar. A cada quatro anos, preconceituosos destilam toda a sua cólera a plenos pulmões dizendo que ‘nordestinos votam no PT e depois vêm aqui para São Paulo roubar os nossos empregos’. A justificativa, estapafúrdia, é similar ao discurso utilizado contra imigrantes.

O discurso de ócio de alguns sudestinos e sulistas cai por terra quando lembramos dos operários da construção civil, do metrô, das obras de infraestrutura, dos empregados na indústria e domésticos, entre outros, de maioria nordestina no Sul e Sudeste brasileiros. O de uma suposta indigência intelectual é ainda mais fácil desconstruir. Apenas nas artes temos nascidos no Nordeste Graciliano Ramos, Jorge Amado, Raquel de Queiroz, Ferreira Gullar, Caetano Veloso, Arlete Salles, João Gilberto, Gal Costa, Luiz Gonzaga, Gilberto Gil, Ariano Suassuna, Patativa do Assaré, Chico Anysio, nomes de uma infinita riqueza cultural.

Até a metade do século XVIII, com uma economia exclusivamente agrária, o Nordeste era a região mais rica do Brasil. Hoje, diferentemente do que ocorria à época do êxodo de nordestinos para o Sul e Sudeste, a região é uma das mais industrializadas do país, responsável por 13,9% do PIB nacional em 2014, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – o montante da riqueza produzida no Nordeste totalizava R$ 805,1 bilhões; o PIB Nacional somava R$ 5,8 trilhões naquele mesmo ano.

Em 2010, o Nordeste respondia por 13,5% do PIB. No mesmo ano, o Sudeste produzia 56,1% da riqueza brasileira. Este último percentual caiu para 54,9% quatro anos depois.

Segundo boletim do Banco do Nordeste de dezembro de 2016, “a perda de participação relativa do Sudeste frente às demais regiões pode ser explicada pelo aumento das inversões em infraestrutura física, que geraram efeitos positivos no setor produtivo, além dos investimentos em programas sociais, com repercussões favoráveis no consumo das famílias e por extensão na produção e comercialização de bens”.

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