Pular para o conteúdo principal
Chapéu
PROTESTO AO VIVO

Em apoio à greve, Pedro Cardoso abandona programa da TV Brasil

Linha fina
"Diante deste governo, tenho convicção de que essas pessoas estão cobertas de razão", disse o ator. Ele também criticou meme racista contra atriz Thaís Araújo postado pelo presidente da empresa, Laerte Rimoli, empossado por Temer. Empregados pedem saída de Rimoli
Imagem Destaque

São Paulo – "Eu não vou responder esta pergunta e nem nenhuma outra porque quando cheguei aqui, hoje, encontrei uma empresa que está em greve, e não participo de programas de empresas que estão em greve." A greve dos trabalhadores da EBC entra, na sexta-feira 24, no 11º dia.

Foi assim que o ator Pedro Cardoso iniciou sua rápida participação no programa Sem Censura, da TV Brasil, na tarde de quinta-feira 23. Após se encontrar com trabalhadores da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), Cardoso cogitou não participar, mas mudou de ideia e deixou registrada sua indignação. A reportagem é da Rede Brasil Atual.

"Vim sentar aqui porque, além da greve... Não cabe a mim julgar, não conheço a negociação, não estou a par, também não me cabe emitir opinião a respeito de quem está fazendo greve e quem está aqui trabalhando. Cabe a mim o maior respeito a todos vocês, aos que estão parados, aos que estão trabalhando e aos que estão aqui. Mas eu, diante deste governo que está governando o Brasil, tenho muita convicção de que as pessoas que estão fazendo essa greve provavelmente estão cobertas de razão", afirmou.

Pedro Cardoso também fez referência ao episódio em que o presidente da EBC, Laerte Rimoli, usou as redes sociais para compartilhar memes que ironizavam declaração da atriz Taís Araújo sobre o racismo cotidiano sofrido pelo seu filho. Rimoli foi nomeado por Michel Temer em maio de 2016, após edição de Medida Provisória que pôs fim aos mecanismos de autonomia da empresa pública de comunicação, extinguindo o conselho curador e o cargo de diretor-presidente com mandato de quatro anos, o que lhe garantia independência em relação a quem ocupasse a presidência da República.

"Não vou falar do assunto que vim aqui falar e nem de nenhum outro. O que eu soube também quando cheguei aqui, é que o presidente desta empresa, que pertence ao povo brasileiro, fez comentários extremamente inapropriados a respeito do que teria dito uma colega minha onde a presença do sangue africano é visível na pele. Porque o sangue africano está presente em todos nós, em alguns de nós está presente também na pele. Mas em todos nós ele está. Se esta empresa, que é a casa do povo brasileiro, tem na presidência uma pessoa que fala contra isso, eu não posso falar do assunto que vim falar aqui", disse Pedro Cardoso.

Após falar sobre suas motivações, Cardoso anunciou sua saída. "Tenho imenso respeito por todos vocês que estão aqui, vou me levantar, em respeito aos grevistas, e vou embora", afirmou, cumprimentando os integrantes do programa e se retirando em meio à transmissão ao vivo.

Repúdio a Rimoli – Trabalhadores da EBC divulgaram nota na quarta-feira 22 em repúdio aos ataques racistas do presidente da estatal, Laerte Rimoli, à Taís Araújo e seu filho. O documento é endossado pelos sindicatos dos jornalistas de São Paulo, Rio de Janeiro e do Distrito Federal.

Nos últimos dias, Rimoli usou as redes sociais para compartilhar memes que ironizavam declaração da atriz sobre o racismo cotidiano sofrido pelo seu filho. Para os trabalhadores, "Rimoli não desrespeitou só a atriz Taís Araújo, mas toda sociedade brasileira e a própria EBC". 

"Esse comportamento deplorável vai contra o posicionamento dos empregados e empregadas, que sempre lutaram por uma comunicação pública diversa, inclusiva, livre de preconceitos", diz um trecho da nota. Os trabalhadores da EBC dizem ainda que a postura de Rimoli fere os códigos de ética dos servidores públicos e dos jornalistas e exigem o seu afastamento. 

Eles reivindicam "ação imediata" do Ministério Público Federal (MPF) contra as atitudes do presidente, e lembram que, antes da chegada de Rimoli, a EBC foi a primeira TV aberta a exibir telenovelas com elenco majoritariamente negro, além de desenhos infantis protagonizados por personagens negros.

Também na quarta-feira, o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) divulgou nota em que formalizam o pleito pelo afastamento do presidente da EBC e que confirma que entrarão com representação no MPF e na Comissão de Ética Pública da Presidência da República contra Rimoli.

Confira na íntegra as notas dos empregados da EBC e da FNDC:

Rimoli não desrespeitou só a atriz Taís Araújo, mas toda sociedade brasileira e a própria EBC
Nós, representantes dos trabalhadores em greve da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), repudiamos com veemência os ataques racistas do presidente da EBC, Laerte Rimoli, à atriz Taís Araújo e à sua família, em pleno mês da Consciência Negra, que atingiram toda sociedade brasileira e os princípios fundadores da Empresa Brasil de Comunicação.

As publicações racistas foram compartilhadas no perfil do presidente no Facebook, em modo público. Esse comportamento deplorável vai contra o posicionamento dos empregados e empregadas, que sempre lutaram por uma comunicação pública diversa, inclusiva, livre de preconceitos.

Com as postagens, Laerte Rimoli descumpre a própria lei que regulamenta a EBC e se coloca contra o papel social da comunicação pública ao publicar comentários preconceituosos, contra os códigos de ética do serviço público e dos jornalistas.

Com nossas produções no rádio, na televisão e na web, nós, empregados e empregadas da EBC, lutamos diariamente contra a discriminação e o preconceito racial tão presentes na nossa sociedade. Um exemplo disso é que a EBC foi pioneira em práticas de afirmação contra a discriminação racial. Fomos a primeira TV aberta a exibir telenovelas com elenco majoritariamente negro, tivemos o primeiro correspondente fixo no continente africano e6 fomos a primeira televisão a exibir um desenho infantil com personagens negros. Assim, não aceitamos tal postura e exigimos respostas institucionais a esse desrespeito, incluindo ação imediata do Ministério Público Federal.

A atual gestão da EBC chegou junto à Medida Provisória 744, que entre outras providências extinguiu o Conselho Curador, um importante órgão que garantia a participação da sociedade na construção editorial da Empresa, colocando em xeque o compromisso com a diversidade que é natural da comunicação pública. O racismo, escancarado pelas piadas compartilhadas pelo atual diretor-presidente, hoje se reflete também dentro da EBC: contam-se nos dedos os funcionários que, atualmente, lideram equipes, têm funções de confiança ou estão em posição de destaque, como a reportagem em vídeo e a apresentação de programas. Em uma empresa onde a diversidade de gênero, raça e orientação sexual deveria ser prioridade, repete-se o triste estigma social e estético, que coloca as mulheres negras ocupando posições desfavoráveis ao seu protagonismo, prejudicando a imagem de representatividade que deveria chegar a cada cidadão e cidadã - os primeiros e mais importantes focos da comunicação pública.

A EBC pertence à sociedade brasileira, composta em sua maioria por negros e negras. Assim, não nos calaremos frente a mais esse retrocesso na defesa da comunicação pública do país. Por esses motivos, exigimos a imediata exoneração de Laerte Rimoli e a substituição dele levando em conta nomes indicados em lista tríplice pelo conjunto de empregados da EBC.

Racistas não passarão!

Comissão de Empregados da EBC
Sindicatos dos Jornalistas do Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal
Sindicatos dos Radialistas do Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal

FNDC condena prática de racismo pelo presidente da EBC
O Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), articulação que reúne mais de 500 entidades em todo o país, vem a público manifestar seu mais veemente repúdio à manifestação racista do jornalista Laerte Rimoli, atual presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Em sua página pessoal em uma rede social, Rimoli compartilhou diversos posts - supostamente humorísticos - em torno das declarações da atriz Taís Araújo que, em recente palestra em São Paulo, denunciou o racismo que ela e sua família sofrem no dia-a-dia. 

As postagens foram feitas no Dia Nacional da Consciência Negra, em horário de trabalho e em meio a uma greve deflagrada pelos trabalhadores da EBC no último dia 14, em defesa de condições de trabalho decentes, negadas pelo presidente da EBC em tentativa de negociação coletiva. 

Nomeado pelo presidente Michel Temer após edição de Medida Provisória que acabou com os mecanismos de autonomia da empresa pública de comunicação, Rimoli tem executado com maestria a política do governo federal de desmonte da EBC, promovendo o sucateamento da empresa e toda sorte de ingerência no conteúdo produzido por seus veículos. Mais do que isso, o presidente da EBC vem sendo denunciado de maneira sistemática por assédio moral, censura e intimidações a funcionários da empresa. 

Num momento em que o país debate o papel dos meios de comunicação para a legitimação ou não do racismo estruturante em nossa sociedade, o FNDC e suas entidades filiadas repudiam as declarações preconceituosas e ofensivas desse servidor público que, no meio do expediente, decidiu desonrar o trabalho que exercem os milhões de brasileiros e brasileiras que sofrem diariamente as consequências desta insidiosa forma de opressão. 

Racismo é crime inafiançável e uma manifestação de racismo de um gestor de uma entidade pública, que tem a missão de justamente promover os direitos humanos e a diversidade em nossa sociedade, é algo inadmissível. Por isso, o Fórum Nacional pela Democratização exige a imediata demissão de Laerte Rimoli da presidência da EBC e apresentará representação contra o jornalista ao Ministério Público Federal e também à Comissão de Ética Pública da Presidência da República, entendendo que o Código de Conduta da Alta Administração Federal também foi desrespeitado neste lamentável episódio. 

A banalização do racismo em nossa sociedade merece punição exemplar, em respeito ao público da EBC, à sociedade brasileira e aos direitos fundamentais que os meios de comunicação devem valorizar e preservar. 

Brasília, 22 de novembro de 2017. 
Coordenação Executiva
Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC)

 

seja socio