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Internacional

Papa Francisco: “O trabalho não pode ser considerado uma mercadoria”

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Em mensagem a sindicalistas de todo mundo, reunidos no Encontro Internacional de Organizações Sindicais, no Vaticano, autoridade maior da igreja católica enfatizou que frutos da terra e trabalho devem alcançar todos; Sindicato esteve representado
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Foto: Tomaz Silva/ABr

São Paulo – Ocorreu no Vaticano, até o último dia 24, o Encontro Internacional de Organizações Sindicais, que reuniu lideranças dos trabalhadores de todo o mundo e representantes da Igreja Católica. O tema que norteou os debates foi Estratégias do movimento dos trabalhadores na construção de uma sociedade global e local mais fraterna, solidária, justa e igualitária. O Sindicato esteve representado por Rita Berlofa, diretora executiva da entidade e presidenta da UNI Finanças Mundial; Maria Rosani, também diretora executiva do Sindicato e tesoureira-geral da Afubesp (Associação dos Funcionários do Grupo Santander Banespa, Banesprev e Cabesp); e o presidente da Afubesp e diretor do Sindicato, Camilo Fernandes. 

> CUT denuncia no Vaticano ataques do governo Temer

Em mensagem enviada aos participantes do encontro, o Papa Francisco destacou que “o trabalho não pode ser considerado uma mercadoria ou um mero instrumento na cadeia produtiva de bens e serviços, mas, sendo primordial para o desenvolvimento, tem preferência em relação a qualquer outro fator de produção, incluindo o capital”. Para a maior autoridade da Igreja Católica, “os frutos da terra e do trabalho são para todos e eles devem alcançar todos de forma justa".

> Leia a íntegra, em espanhol, da mensagem do papa ao movimento sindical

Na mensagem, entretanto, Francisco destaca que a mística do trabalho não pode ser exagerada. “A pessoa não é apenas trabalho. Existem outras necessidades humanas que precisamos cultivar e cuidar como família, amigos e descanso. É importante, então, lembrar que qualquer tarefa deve estar a serviço da pessoa e não a pessoa a serviço dela, o que implica que devemos questionar as estruturas que prejudicam ou exploram pessoas, famílias, sociedades ou nossa mãe Terra.”

Em junho deste ano, o pontífice já havia afirmado, aos delegados da Confederação Italiana dos Sindicatos dos Trabalhadores (CISl), reunidos em Congresso, que “não existe uma boa sociedade sem um bom sindicato”.

Em 2015, o Papa, em sua Encíclica Laudato Si, além de criticar o consumismo e o desenvolvimento irresponsável, pede a unidade do movimento sindical e faz um apelo pela unificação global das ações para combater a degradação ambiental, alterações climáticas, e na defesa dos trabalhadores.

Financeirização da economia – Em sua intervenção durante o Encontro Internacional de Organizações Sindicais, Rita Berlofa apontou a financeirização da economia como responsável por uma crise civilizatória mundial.

“Vivemos hoje a financeirização da economia, que capturou também a política, e tem como resultado um mundo de barbárie, uma crise civilizatória. Vide o avanço das forças conservadoras, com o apoio do capital e da imprensa, que vem no caminho de retirada de direitos do trabalhador, da precarização da mão de obra e, agora, com a quarta revolução tecnológica, a perda dos nossos postos de trabalho. Temos também um ataque violento aos direitos civis: aos negros, aos imigrantes, as mulheres e a comunidade LGBT. E o setor financeiro é um dos setores responsáveis pelas crises sociais, econômicas e políticas que vivemos, pois privilegia o rentismo em detrimento do desenvolvimento”, destacou Rita.

Bancários nos EUA – A diretora executiva do Sindicato também abordou o fato de que trabalhadores do setor financeiro nos EUA, que representam um terço dos trabalhadores do setor em todo o mundo, não estão sindicalizados. “E falando deste setor [financeiro], eu não poderia deixar de mencionar que um terço dos trabalhadores do setor financeiro não estão sindicalizados e vivem nos EUA, um país que é o berço das políticas neoliberais que se espalharam pelo mundo. E, estes trabalhadores não sindicalizados, pelo fato de não vivermos numa ilha, considerando o mundo global, colocam em risco o movimento sindical de todo o mundo.”

Os bancários nos Estados Unidos passam anos sem qualquer reajuste ou promoção. Não recebem vales refeição e alimentação, nem vale-transporte, PLR, 13º salário ou adicional de férias que, por sinal, são de apenas duas semanas por ano. Não têm a quem apelar quando sofrem assédio moral de gestores ou enfrentam qualquer outro problema nos locais de trabalho. Também não têm licença-médica remunerada. Trabalhadores da limpeza nos EUA, que são sindicalizados, têm mais direitos que os bancários.

Sindicatos – Sobre a importância dos sindicatos, a presidenta da UNI Finanças Mundial afirmou que “são as principais entidades que defendem a democracia, a paz, e que são o principal obstáculo ao avanço predatório do capitalismo”, concluiu.

Brasil – Também representando o Sindicato, Maria Rosani fez uma forte crítica ao golpe no Brasil, à reforma trabalhista de Temer, que retira direitos dos trabalhadores, e a tentativa do governo em promover uma reforma previdenciária que afasta a possibilidade da aposentadoria pública de ampla parcela da população brasileira.

Delegação – Além de Rita, Rosani e Camilo, também fizeram parte da delegação da CUT (Central Única dos Trabalhadores) no Encontro Internacional de Organizações Sindicais a vice-presidenta da Central, Carmen Foro; e a secretária da Mulher Trabalhadora da entidade, Junéia Batista. Entre as lideranças do movimento sindical internacional, estiveram presentes nomes como Guy Rider, diretor-geral da OIT; Sharan Burrow, secretária-geral da Confederação Sindical Internacional; Mary Kay Henry, presidenta da SEIU; Valter Sanches, secretário-geral da Industriall; Philip Jennings, secretário-geral da UNI.  

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