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Chapéu
Carnaval de desrespeitos

Santander demite Rei Momo do Rio

Linha fina
Bancário que encarna um dos símbolos máximos da cultura brasileira foi dispensado em pleno tratamento médico por conta de doença desenvolvida trabalhando para o banco
Imagem Destaque

São Paulo – Milton Rodrigues da Silva Júnior era funcionário do Santander há 19 anos e estava em licença médica. Ele é também o Rei Momo 2018 do Rio. Mas, às vésperas da maior festa popular do planeta, o banco decidiu desrespeitar um dos símbolos máximos da cultura brasileira e demitir, por justa causa, no dia 9 de novembro.

Por seu grande carisma e amor ao samba, Milton foi eleito pela sexta vez como a figura mais importante do Carnaval carioca. O Jornal da Afubesp contou a história dele em matéria publicada em 2011. Para o presidente da Afubesp, Camilo Fernandes, o Santander tem discurso diferente de sua forma de agir. “Muito ao contrário do que dizem suas campanhas publicitárias, o banco espanhol não respeita os brasileiros e um bom exemplo disso está na demissão de forma ilegal do rei Momo do Rio”.

Além de um enorme desrespeito à nossa cultura, o Santander demonstrou erros primários cometidos na ânsia de dispensar cada vez mais bancários, mesmo atropelando a lei, para aumentar ainda mais seus lucros.

Esta disposição fica explícita quando os lucros chegam a R$ 7,2 bilhões apenas nos nove primeiros meses de 2017, um aumento de 34,6% em relação a igual período de 2016, e mesmo assim são extintas 1.392 vagas. Para o diretor do Sindicato dos Bancários do Rio, Adriano Garcia, o Santander, um banco que diz defender a diversidade, cometeu um equívoco gigantesco ao demitir uma figura pública e popular, e ainda por cima, desrespeitando a lei.

Truculência – O motivo alegado para a dispensa de Milton pelo departamento de recursos humanos foi “mau uso da licença médica”. Um erro grosseiro, já que o bancário e Rei Momo – oriundo do Banco Real, incorporado pelo Santander – se encontrava em licença pelo INSS. O afastamento começou em 25 de março de 2016 e foi até 16 de novembro de 2016, primeiramente, em função de inflamação nas pernas. Em nova perícia no dia 19 de janeiro de 2017, teve o benefício mantido em função de uma cirurgia de “descompressão do túnel do carpo”, na mão direita, uma lesão por esforços repetitivos (LER).

A licença foi estendida em uma nova perícia em 28 de março de 2017. A conclusão da perícia foi a de que Milton “comprova incapacidade com déficit motor do punho/mão direita. Marcha livre com movimentos amplos, senta e levanta com joelhos a 90 graus sem limitação de postura”.

Em 6 de junho, o INSS o manteve afastado até 9 de outubro, em virtude da mesma cirurgia feita, desta vez, no pulso esquerdo. Naquela data, o perito relatou, ao mantê-lo de licença: “Existiu incapacidade, inicialmente em benefício por erisipela, posteriormente por procedimento cirúrgico de síndrome do túnel do carpo bilateral. No momento sem limitação funcional, para a atividade declarada, com boa recuperação funcional”.

A demissão ocorreu de forma sumária, sendo apenas comunicada ao Sindicato. A partir daí o diretor da entidade, Marcos Vicente, iniciou um processo de negociação, que se prolongou por quase um mês, visando mostrar ao banco o equívoco que estava cometendo. Foram apresentados laudos periciais que jogavam por terra a tese do Santander de que Milton se manteve licenciado por problemas nas pernas, o que o impediria de disputar o concurso de Rei Momo.

Mesmo assim, o banco não se dispôs a rever a demissão, demonstrando desrespeito aos direitos do bancário, duvidando da sua integridade e ignorando a veracidade dos laudos do perito, numa demonstração de intransigência e má fé. 

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