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Mulheres são as mais castigadas na pandemia 

Linha fina
Brasil registra milhões de mulheres a menos na força de trabalho em meio a cortes de políticas públicas, diminuição do auxílio-emergencial e recordes de mortes em decorrência da covid-19, o que obriga a reforçar a luta por vacina já e contra o governo Bolsonaro
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Foto: Giorgia Prates (Brasil de Fato/Paraná-9/Fotos Públicas)

Este é o resumo do Brasil neste começo de 2021: 14,1 milhões de desempregados, 39,9 milhões vivendo na miséria, com renda de até R$ 89 por mês, mais de 10 milhões em situação de insegurança alimentar, ou seja, brasileiros que, literalmente, estão passando fome. Estes são dados oficiais do IBGE e do Ministério da Cidadania, após dois anos de governo Bolsonaro.  

Neste contexto, e como historicamente sempre ocorreu, as mulheres estão sendo as mais prejudicadas. O Brasil registrou 8,5 milhões de mulheres a menos no mercado de trabalho, no terceiro trimestre de 2020, na comparação com o mesmo período do ano anterior, segundo dados do IBGE, extraídos da Pnad Contínua. 

A taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho ficou em 45%, 14% menos do que em 2019. As vagas de emprego criadas no segundo semestre de 2020 privilegiou postos ocupados por homens. 

Menos emprego e mais tarefa doméstica para as mulheres 

Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), foram criadas 230,2 mil vagas de trabalho para homens e elimados 87,6 mil empregos formais para as mulheres.  

As mulheres com menos qualificação serão as últimas a conseguirem voltar ao mercado de trabalho, segundo as previsões.Uma das razões apontadas é justamente a sobrecarga feminina em tarefas domésticos, o que as está levando à exaustão.  

Relatório da Sempreviva Organização Feminista (SOF) e da Gênero e Número, aponta que ficou sob responsabilidade de metade das mulheres do país de cuidar de alguém (crianças, idosos, enfermos e pessoas com necessidades especiais) durante a pandemia.

O percentual de domicílios brasileiros comandados por mulheres saltou de 25%, em 1995, para 45% em 2018, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). 

Pandemia aprofundou desigualdades 

A pandemia do coronavírus está no seu pior momento. No domingo 14, o país registrou média diária de 1.832 mortes por covid-19 em uma semana. Já é o 16º dia consecutivo de recordes no índice. Nas últimas 24 horas, foram notificados 1.111 novos óbitos, somando 278.327 vítimas da doença no Brasil. As informações são do consórcio de veículos de imprensa utilizando dados das secretarias estaduais de saúde. 

“A pandemia está aprofundando um problema existente há muito tempo, que é o desemprego das mulheres; a falta de remuneração igual entre homens e mulheres; os empregos mais precários ocupados por mulheres; a falta de oportunidades iguais na disputa pelos cargos melhores e de melhores salários, destinados aos homens”, afirma Neiva Ribeiro, secretária-geral do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região. 

“Os impactos da pandemia são mais sentidos pelas mulheres em qualquer lugar social que ela ocupe. Se for pobre, periférica e negra, mais impactos negativos sofrerá sobre todos os aspectos econômicos, sanitários e de segurança.  Quando estão em situação de vulnerabilidade, como está ocorrendo hoje com a crise econômica e do coronavírus, elas estão mais expostas”, acrescenta a dirigente. 

Auxílio-emergencial menor no pior momento da pandemia 

Segundo dados do governo federal, seis milhões de famílias monoparentais e chefiadas por mulheres cadastradas no Bolsa Família receberam o auxílio emergencial em 2020, quando os partidos de oposição articulados no Congresso Nacional conseguiram aumentar o valor do repasse de R$ 200, como queria o governo Bolsonaro, para R$ 600.  

Criado no mês de março de 2020 pelo Congresso Nacional, diante da urgência resultante dos impactos socioeconômicos causados pela pandemia da Covid-19, o auxílio emergencial começou a ser pago no mês de abril. 

Primeiramente foram disponibilizadas três parcelas no valor de R$ 600 para o público geral, com exceção do caso específico das mães solteiras provedoras de famílias monoparentais, as quais tiveram direito ao benefício no valor de R$ 1.200. 

Mesmo no pior momento da pandemia, o valor médio do auxílio emergencial deve ser de R$ 250 em 4 parcelas. As mães chefes de família monoparentais poderão receber até R$ 375. 

“A falta de um auxílio-emergencial com um valor maior vai aprofundar as desigualdades de gênero da sociedade. Vai aumentar as dificuldades que essas mulheres tem no dia a dia. Por isso, as mulheres da CUT e dos movimentos sociais defendem o auxílio emergencial para todos como uma bandeira importante neste mês de março, porque a gente sabe que é uma pauta importante para todos os cidadãos que sofrem com essa necropolítica que afeta muito mais as mulheres que são historicamente mais vulnerabilidades, e que estão sendo ainda mais castigadas na pandemia”, afirma Neiva. 

Menos políticas públicas 

De um lado, a emenda constitucional que irá viabilizar o auxílio-emergencial reserva R$ 44 bilhões em gastos extras para financiar os valores pagos à população. Ao mesmo tempo, cria mecanismos para tentar compensar esse gasto adicional ao longo dos próximos anos, com contenção de despesas 

“É um absurdo, porque o Congresso Nacional obteve este valor pequeno congelando mais políticas públicas, o que nós questionamos muito, porque este governo não está fazendo política para a população, e sim para o mercado. Os bancos, o mercado financeiro nacional e internacional estão cada vez mais ricos, e a população cada vez mais pobre, em um cenário que aumenta ainda mais a desigualdade social obscena vista no Brasil, onde 5 bilionários concentram a mesma riqueza que toda a metade mais pobre da população”, afirma Neiva. 

Vacina Já, auxílio-emergencial para todos e fora Bolsonaro 

O movimento sindical, em conjunto com os movimentos sociais e os partidos de oposição, cobram auxílio-emergencial para todos até o final da pandemia, e vacina já.  

“E as mulheres empunham a bandeira fora Bolsonaro porque estão questionando não só Bolsonaro, mas este governo que não tem ministro da Saúde, não tem plano de vacinação, não comprou vacina na hora certa, não tem plano para geração de emprego e renda. Não temos ações claras para possibilitar e orientar a população a ficar em casa usando máscara, seguindo os protocolos de saúde”, enumera Neiva.  

“Nós questionamos tudo o que este governo representa: essa política que não atende o interesse da população, das mulheres, dos mais pobres, e não vê política pública para todos. É um governo que tem como prioridades o mercado e a entrega das empresas públicas, o que irá deixar a população abandonada neste cenário que já totaliza 280 mil mortos e cerca de 2 mil óbitos por dia em decorrência da covid-19, menos de 5% de vacinados, 14 milhões de desempregados, 40 milhões vivendo na miséria e mais de 10 milhões passando fome. É um cenário de desolação e falta de esperança que temos de nos posicionar enfaticamente contra, pelo nosso bem e o de nossas famílias”, afirma Neiva.

 

 

 

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