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Chapéu
Artigo

Ivone Silva: Bancos lucram com altos juros e endividamento das famílias

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Os resultados financeiros do terceiro trimestre dos principais bancos privados do país - Bradesco, Itaú e Santander – foram divulgados nos últimos dias. Juntos, apresentaram lucro líquido recorrente de R$ 18,2 bilhões, resultado 7,8% maior em relação ao mesmo trimestre do ano anterior e 3,0% maior que o lucro obtido em relação ao trimestre anterior.

O Itaú exibiu maior lucratividade com R$ 7,4 bilhões e crescimento de 15,1% nos últimos 12 meses, seguido pelo Bradesco que registrou R$ 6,8 bilhões em lucro e alta de 4,7% no período, e Santander com R$ 4,0 bilhões e variação positiva de 1,3%. A rentabilidade, retorno sobre o patrimônio (ROE), permaneceu em patamares elevados nos três bancos. Já a carteira de crédito cresceu de forma consistente, em média 13,3%, passando de R$ 2,1 trilhões para R$ 2,4 trilhões em um ano.

De maneira geral, operações com pessoas físicas impulsionaram o ganho dos bancos. No Itaú a modalidade cresceu 33,0%, no Bradesco a alta foi de 22,6% e no Santander a elevação foi de 19,0%, totalizando juntos R$ 890,3 bilhões. As linhas em destaque foram o cartão de crédito e crédito pessoal.

A alta inflacionária, o desemprego e a menor renda média das famílias, tornam a vida da população cada vez mais difícil. O endividamento das famílias chegou a 77,7% no mês de abril, o maior índice dos últimos tempos. A facilidade de obtenção de cartão de crédito e crédito pré-aprovado representam para os mais pobres, por um lado, a salvação, com a possibilidade de adquirir bens básicos como alimentos ou gás de cozinha, e, por outro lado, o endividamento.

O aumento da taxa de juros Selic pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central para 12,75%, mostra-se ineficiente no combate à inflação, grande erro de diagnóstico da equipe econômica do Governo Bolsonaro, porém tem servido aos bancos. Em seus relatórios, consideram que a elevação da Selic trouxe impactos positivos. A alta taxa de juros sufoca as famílias e num ciclo vicioso, o endividamento gera renegociação e um novo endividamento ainda maior. A taxa de juros no cartão de crédito rotativo está em média 355% a.a., das maiores do mundo. Os bancos, assim, lucram na crise com a miséria da população.

Os próprios bancos parecem não ver fim na crise econômica gerada pelo Governo Bolsonaro. Na expectativa de aumento da inadimplência e para tranquilizar o ânimo das acionistas, ampliaram as despesas com PDD. Somadas, as provisões dos três bancos totalizaram R$ 16,4 bilhões, um aumento de 46,8% em relação aos gastos do primeiro trimestre de 2021. Como se trata de uma provisão, não significa prejuízo, palavra desconhecida pelos grandes bancos que operam no país.

No mais, com um número de agências cada vez menor, foram eliminadas 903 agências bancárias em um ano, há piora no atendimento para população. A criação nos postos de trabalho relatada, no entanto, segue fora das agências. Muitas vezes em empresas do conglomerado dos bancos que possuem atividades distintas, mas que compõem os lucros. Parte destas contrações estão fora da categoria e, assim, estes trabalhadores perdem direitos e garantias conquistadas.

Precisamos voltar a pensar num sistema financeiro que promova crédito sustentável e barato, que inclua as pessoas que precisam ser bancarizadas, que atenda às peculiaridades regionais e geracionais do país, que ajude a desenvolver áreas prioritárias como habitação, agricultura e educação, que ajude a economia a retomar o crescimento e gerar empregos, que destine recursos para projetos de infraestrutura no país. Do contrário, essas tendências vão se aprofundar nos próximos anos e teremos um sistema financeiro cada vez mais excludente, concentrador de renda e que funciona cada vez mais como um obstáculo ao pleno crescimento econômico e social do Brasil.

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