Brasília – “Estamos diante de uma segunda ofensiva neoliberal, e pior que o consenso de Washington [de 1989], que ainda falava da necessidade de se manter um certo 'colchão' social. No meio disso, temos de parar para discutir temas essenciais. E os bancos públicos são essenciais. Não temos como recuperar a economia sem eles”, afirmou o senador Linbergh Farias (PT-RJ), ao abrir o evento de lançamento da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Bancos Públicos, na terça-feira 13, em Brasília. “O objetivo é desenvolver uma grande campanha em defesa de instituições como Banco do Brasil, Caixa, BNDES e bancos regionais. Realizar ações concretas em defesa dessas empresas e do Estado brasileiro”, acrescentou o senador que preside a frente.
A Frente é formada, ainda, por seis vices, um secretário-geral e um secretário de mobilização, que são de partidos como PT, PCdoB, PDT, PSB e do PMDB o deputado federal Celso Pansera (RJ). Mas a iniciativa conta com o apoio de 1/3 do Congresso Nacional, formado de parlamentares de diversos outros partidos. E tem também o apoio do movimento sindical, em especial o bancário.
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Crédito para crescer – “Não há desenvolvimento sem crédito, e é justamente o crédito com taxas de juros mais baixas e o crédito direcionado que eles estão querendo acabar”, afirmou a presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira, durante seminário que antecedeu o lançamento da Frente, em auditório do Senado Federal.
A dirigente lembrou que instituições como a Caixa Federal e o Banco do Brasil foram fundamentais para a oferta de crédito e, assim, manter produções, empregos e consumo em 2008, quando eclodiu a crise financeira mundial. “Em momentos importantes, desenvolveram uma política anticíclica, com oferta de crédito. Além disso, se não fossem os bancos públicos não teríamos o Fies, que financiou a faculdade para 12 milhões de estudantes; não teríamos os financiamentos em moradia popular liderados pela Caixa e nem 70% do crédito à agricultura familiar, responsável por 70% dos alimentos que chegam às nossas mesas, fornecido pelo BB”, destacou Juvandia.
A dirigente traçou um breve painel do papel que tiveram os bancos públicos nos últimos 13 anos, e do desmonte promovido pelo governo ilegítimo de Temer. “É um governo que acaba de liberar o Itaú de uma dívida de R$ 22 bi, mas se nega a capitalizar a Caixa. É claramente uma opção politica ultraliberal.”
Juvandia ressaltou que, com a reforma trabalhista do governo Temer, os impactos também serão grandes na economia do país. “As mudanças não atacam apenas direitos e a organização dos trabalhadores em sindicatos, mas, com a precarização de direitos, haverá forte impacto em fontes de recursos como FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) e FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço). Porque se precariza condições de trabalho, oficializa o bico, oficializa o trabalhador sem FGTS, você diminui as receitas. A arrecadação bruta do FGTS em 2015 foi de R$ 113 bi. Imaginem o que será para o crédito imobiliário a redução desses recursos. A reforma trabalhista traz um retrocesso gigante.”
Um país ou nada – Um dos articuladores da Frente, o senador peemedebista Roberto Requião (PR), afirmou que o que está em jogo é a soberania do país. Ele contou que tinha acabado de assistir, em Florença, o presidente do Parlamento Europeu, o italiano Antonio Tajani, afirmar indignado que eles não poderiam tolerar investimentos chineses ou russos na América Latina, já que o continente era deles, europeus. “A ideia é voltar ao período colonial, e estão propondo para nós, reiteradamente as ideias do famoso Consenso de Washington. Eles repetem que nossa saída é a dependência dos grandes países. E aí chega esse pessoal com a Ponte para o Futuro [apresentado por Temer], um documento feito por economistas de bancos privados que pretendem transformar o Brasil num celeiro do mundo, abrindo a venda de terras para países estrangeiros.”
O senador destacou que não há saída para o país sem investimentos públicos, sem crédito, sem salários, sem demanda. “Nunca houve. Mas eles defendem a dependência absoluta do Brasil. O fim de um projeto de soberania nacional. E a categoria bancária é uma peça dentro desse projeto de liquidação definitiva da soberania, dentro desse projeto de transformar o Brasil num grande Porto Rico, num território norte-americano. É dentro desse esquema que estamos inseridos. Mas ou somos um país ou não somos nada. E o que nos resta é resistir, e parar tudo no dia 30”, disse o parlamentar, referindo-se à greve geral convocada pelas centrais sindicais.
Avanços só com banco público – O economista Luiz Gonzaga Belluzzo, da Unicamp, destacou que não há capitalismo sem crédito. “Se a ideia que a equipe econômica defende agora de que primeiro poupa depois investe fosse de fato colocada em prática, o capitalismo estaria andando de carroça. Não há avanço da força produtiva sem o crédito”, afirmou, lembrando que os bancos públicos são fundamentais para a oferta de crédito produtivo.
A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) lembrou que o crédito era 21,8% do PIB no Brasil em 2006 e passou para 56% em 2013, enquanto que em países que são potencias capitalistas, como os EUA, ele ultrapassa 100% do PIB. “E ainda tem gente que diz que o problema é o endividamento e o consumo. Isso é um absurdo. Sem crédito, a indústria nacional não se desenvolve.”
O presidente da Contraf-CUT, Roberto von der Osten, o Betão, destacou a resistência dos trabalhadores bancários diante das medidas de desmonte dos bancos públicos. “Essa não é só uma bandeira de bancários da Caixa e do BB, é uma bandeira de toda a categoria, inclusive de dirigentes sindicais de bancos privados como eu, que sou do Itaú. Porque os bancários do Bradesco, Itaú e Santander também financiam seu imóvel pela Caixa e também consomem os alimentos que vêm da agricultura familiar financiada pelo BB. É uma bandeira de toda a sociedade.”
Betão lembrou que, se a Frente Parlamentar vai atuar principalmente no Poder Legislativo, o papel do movimento sindical é ir para as ruas. “Queremos que se preserve uma ferramenta de soberania, de desenvolvimento, que são os bancos públicos. Por isso estamos aqui juntos e nossa parte vamos fazer na rua. No dia 20 teremos uma grande mobilização que será um 'esquenta' para a greve geral. E no dia 30, o grande enfrentamento contra todos esses ataques contra os trabalhadores e a população. Eles não passarão”, afirmou.