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Chapéu
Formação

Oficina debateu o contexto do trabalho bancário, assédio e adoecimento

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Aline Molina, secretária de Formação do Sindicato; Valeska Pincovai, secretária de Saúde e Condições de Trabalho do Sindicato; e o psicólogo André Guerra

O Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região, com a sua política de formação permanente dos dirigentes sindicais e do seu quadro de funcionários, promoveu na última segunda-feira, 21 de agosto, a oficina Noções de Psicologia Política para Compreender o Contexto do Trabalho Bancário, ministrada pelo psicólogo André Guerra, doutor em Psicologia Social e Institucional.

"A iniciativa do Sindicato dos Bancários de São Paulo de abrir um espaço para que se faça uma reflexão crítica e profunda sobre a conjuntura psicossocial da categoria bancária merece ser louvada. Precisamos estar à altura dos desafios contemporâneos da classe trabalhadora, propondo soluções inovadoras, mas para isso é fundamental sermos capazes de fazer o diagnóstico correto da nossa situação. Espero ter contribuído com o sindicato nesse sentido", afirmou André Guerra.

Contexto social e organizacional

Durante a oficina, foi realizada uma análise sobre fatores psicossociais e como as organizações estabelecem metas, assim como os mecanismos e pressões que utilizam para cobrar o cumprimento das mesmas, levando os bancários ao adoecimento físico e mental, inclusive trabalhadores cada vez mais jovens, com menos tempo de banco. Em paralelo, estes mesmos mecanismos de cobrança por metas excluem o trabalhador adoecido.

A partir desta reflexão sobre o contexto do trabalho bancário, assim como a troca de experiências com os dirigentes, o Sindicato busca melhorar a compreensão sobre questões como o adoecimento, o assédio moral, e suas consequências.

A oficina introduziu conceitos e temas fundamentais da psicologia política, que contribuem para essa compreensão das dinâmicas, e abusos, envolvidos no trabalho bancário contemporâneo. A partir do estudo sobre como o psiquismo individual se relaciona com o contexto social e organizacional, torna-se possível identificar quais são os fatores psicossociais determinantes para o quadro de adoecimento generalizado da categoria bancária.

Assédio Moral Organizacional

O assédio moral muitas vezes é utilizado como estratégia de gestão, uma vez que os bancos não se importam com os meios, e sim com os resultados.

De acordo com Lis Andrea Pereira Soboll, professora e pesquisadora no Departamento de Psicologia da UFPR, que pesquisa saúde mental e assédio moral desde 2003, e uma das referências teóricas abordadas por André Guerra na oficina - os mecanismos do Assédio Moral Organizacional são:

  • Práticas sistemáticas, abusivas e persistentes que ofendem a dignidade pessoal, a honra, a imagem dos trabalhadores;
  • Humilhações e constrangimentos, como meio de conseguir obediência e submissão;
  • Pressão, cobranças constantes, supervisão exagerada, comparações do desempenho, rankings de produtividade, metas abusivas, prazos inadequados;
  • Ameaças, implícitas ou explícitas, como estímulo principal para gerar adesão do trabalhador aos objetivos organizacionais: perder o cargo, o emprego ou ser exposto a constrangimentos;

A pesquisadora cita alguns dos efeitos deste tipo de assédio no próprio ambiente de trabalho:

  • Produção de contexto agressivo e competitivo: os trabalhadores são estimulados a serem desleais e atacar os colegas (adversários/inimigos) antes de serem atacados;
  • Disseminação de comportamentos hostis e antiéticos;
  • Deterioração das relações de solidariedade, fomentando um clima trabalho tóxico.

“ A importância do debate sobre o trabalho bancário nos dias de hoje relacionado ao adoecimento é muito grande devido aos números de trabalhadores com doenças mentais. É assustadora a realidade. Temos que entender o contexto que ela está inserida para ajudar os bancários. É preciso debater e encontrar soluções para que esta estatística diminua. Cobrar dos bancos o papel fundamental de proporcionar condições dignas de trabalho, preservando a vida das pessoas! Não podemos aceitar que trabalhadores pensem em tirar a própria vida para resolver problemas relacionados ao trabalho”, conclui a secretaria de Saúde e Condições de Trabalho do Sindicato, Valeska Pincovai.

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