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Ato contra golpe foi marcado pela diversidade

Linha fina
Manifestação em São Paulo reuniu cerca de 100 mil pessoas, um mar de gente de todas as idades, profissões, escolaridade e renda, famosos e anônimos, todos unidos pelo sentimento de que a democracia brasileira deve ser preservada
Imagem Destaque

São Paulo – Sônia e Lélio Nardini saíram na quarta-feira 16 de Bragança Paulista, a 88 quilômetros de São Paulo, com o único objetivo de participar do ato na Avenida Paulista. “Não podíamos ficar passivos vendo toda essa armação que vem sendo feita pelo Eduardo Cunha. Estou contente de ver tanta gente na rua pensando da mesma forma”, disse Sônia que, assim como o marido, é funcionária pública.

A manifestação reuniu cerca de 100 mil pessoas na Avenida Paulista contra o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, em defesa da democracia, pela saída do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e por mudanças na política econômica do governo federal.

> Milhares foram às ruas contra o golpe 

O ato foi marcado pela diversidade. Gente de todas as idades, profissões, escolaridade e renda, famosos e anônimos, militantes e donas de casa. Todos unidos pelo sentimento de defesa da democracia brasileira.


“Esse protesto vai além de defender a Dilma, é pela nossa democracia. E isso independe do posicionamento político de cada pessoa que veio para cá. Se permitirmos esse golpe, esse impeachment 'fabricado' pelo Eduardo Cunha e pela mídia, o próximo passo será ataque aos avanços sociais que foram conquistados a duras penas. Será um retrocesso imenso para todo o país”, opinou o bancário Vinícius Freire, funcionário do BB.

Para a doméstica Fátima Santos, o que está em jogo com o impeachment de Dilma é a inclusão social promovida nos últimos 13 anos no Brasil. “Graças ao Lula e à Dilma, eu estou para me formar em Direito. Finalmente pude sonhar com uma vida melhor. O que querem não é tirar a Dilma, mas sim o direito dos meus filhos de também sonhar. Hoje, graças à Dilma, eu tenho registro como doméstica. Tenho meus direitos. Quem quer tirar ela da Presidência está contra isso. São os mesmos que defendem a terceirização, que é a volta dos grilhões, da chibata”, disse a politizada estudante das leis do país, na faculdade aos 55 anos.

Jovem democracia – O cientista social Bruno Correia Bortolato, 24 anos, estava preocupado com a frágil situação política que o país vive. “O perigo da quebra da normalidade institucional brasileira, ainda mais para uma democracia jovem como a nossa. A Dilma é uma presidenta democraticamente eleita que sofre uma perseguição por parte de um setor dos mais obscurantistas da sociedade brasileira. É vital a unidade dos grupos contrários ao impeachment. Temos que garantir a vida política nacional. Alguns setores da esquerda que não se somaram ao ato, se equivocaram gravemente.”

A artista e militante da Marcha das Mulheres Negras, Valquíria Rosa, 49 anos, foi categórica: “Não vamos aceitar um golpe! O movimento social está forte, está reagindo, pronto para escorar o mandato da presidenta”. E afirmou seus ideais de esquerda e de inclusão: “Estou aqui batalhando pelos direitos conquistados nos últimos 13 anos. Na verdade não só dos últimos 13 anos, mas dos últimos 50 anos de luta da esquerda do Brasil. Direitos dos trabalhadores, das mulheres, dos negros, das minorias”.

A cartunista Laerte também marcou presença. Entre os pedidos para fotos e o assédio de fãs, ela falou sobre o motivo de estar ali. “Vim para me manifestar contra o golpe. Porque a tentativa de derrubar uma presidenta eleita democraticamente e que não incorreu em nenhum ato ilícito só pode ser classificada como golpe”.

Crítica construtiva – As críticas ao governo de Dilma Rousseff não impediram a participação da estudante Heloísa Cristina Dioli, 24 anos: “A minha bandeira não é vermelha, mas a minha bandeira é a da democracia. Eu acredito que isso tem de ser respeitado. Não estou feliz com as políticas do atual governo, apesar de ter votado na Dilma, mas isso não invalida a maioria que votou nela na última eleição”.

O sociólogo Sérgio Amadeu, 54 anos, concordou: “Mesmo sendo um dos maiores críticos do governo Dilma, não dá para concordar com o golpe. É preciso defender a Constituição e a democracia. E, vamos combinar, um golpe armado por Cunha, Aécio e toda a tropa de corruptos que estão no Congresso, não dá para aceitar”.

Para o metalúrgico Adalberto da Silva, 30 anos, “quem ganhou a eleição tem que ficar. É a democracia antes de qualquer coisa.”

“O mais importante é defender a democracia. Quando eu tinha 18 anos veio a ditadura, então essa luta é muito importante para mim”, disse o aposentado Antônio Rossini, 70 anos.

“A tentativa de usar um instrumento da democracia [impeachment], previsto na Constituição, como forma de tomar o poder, é golpe”, afirmou de forma taxativa o juiz do Trabalho e professor de Direito da USP, Jorge Luiz Souto Maior.

Também para Nabil Bonduki, secretário de Cultura da cidade de São Paulo, o processo de impeachment contra Dilma não passa de uma tentativa de chegar ao poder na marra. “A presidenta foi eleita pelas urnas e não cometeu nenhum crime de responsabilidade, não realizou nenhum ato de corrupção e não teve qualquer benefício pessoal. Portanto, é totalmente injustificado este golpe. Democracia é isso. Quem ganha, leva. Quem perde, espera a próxima eleição.”

Fora Cunha – “Essa manifestação é importantíssima para mostrar a força da população contra o golpe que a direita quer provocar no Brasil. E somos contra o Cunha também, contra a manutenção dele como presidente da Câmara. É um absurdo! Em qualquer outro país alguém como ele já teria saído”, disse a professora Elizabete Nascimento, 56 anos.

Outra professora completou: “Vim especificamente contra o Cunha. Ele é do grupo do Collor [Eduardo Cunha foi tesoureiro da campanha de Collor de Melo e depois fez parte da equipe econômica da então ministra Zélia Cardoso]. Toda a corrupção da Telerj que envolve Cunha me trás aqui hoje. Eu sou carioca! Ele não é confiável”, destacou Patrícia Figueira, que foi para o ato com a filha de 15 anos.

O comerciante Antônio Carlos Queiroz viajou de Botucatu até a Paulista somente para protestar contra a tentativa de golpe. “Eu vim porque não quero o golpe. O Cunha é um tremendo mafioso. Isso aqui é uma luta também para tirar ele da Câmara.”

Por volta das 18h, os manifestantes saíram do vão livre do Masp e seguiram em marcha até a Avenida Consolação em direção à Praça da República, onde o ato foi encerrado por volta das 22h com leitura de um manifesto.


Redação – 17/12/2015

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