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Chapéu
Exclusão e Humilhação

Santander, precisamos falar sobre meritocracia

Linha fina
Banco visa, estimula e prega constantemente o método para promover e destacar “melhores” funcionários; para Sindicato, ferramenta exclui, cria ambiente doentio de disputa individual, humilha e demite
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Imagem: Freepik

Além de critério para a seleção dos bancários que irão participar da festa de fim de ano, o banco Santander tem utilizado constantemente a ilusória meritocracia para promover e destacar os “melhores” funcionários. Ao mesmo tempo, após atingir um determinado patamar salarial, estes últimos viram alvo de demissões sem justa causa.

Neologismo híbrido – formado pelo latim mereo (merecer) e pelo grego kratía (poder) –, o método estabelece uma relação direta entre mérito e poder. Todavia, o mito da meritocracia gera inúmeros problemas de discriminação, exclusão, falta de transparência e, no caso do Santander, a distorção de seu conceito. O que se percebe, no banco, é um modelo de gestão dúbio, contraditório, excludente, ineficiente e que, ao invés de estimular os trabalhadores, adoece, humilha e demite.

“O Sindicato nunca defendeu a meritocracia como ferramenta de valorização, pois entende ser um método de exclusão que estimula um ambiente doentio de disputa individual, e não de colaboração coletiva”, ressalta a dirigente sindical e bancária do Santander Lucimara Malaquias. Ela lembra que todos os funcionários são responsáveis pelo lucro líquido gerencial do Santander, que totalizou R$ 8,993 bilhões nos nove primeiros meses deste ano, um recorde.

“Todos deveriam ser valorizados, mas isso só acontece com alguns. Os bancários do Santander precisam de garantia de emprego e qualidade nas relações com o banco, o que inclui plano de cargos e salários com critérios claros e transparência, negociação coletiva efetiva, planos médicos com preço justo e respeito à diversidade, entre outros pontos”, acrescenta.

A dirigente sindical vê uma série de problemas na meritocracia. “Atingir uma meta de alavancar negócios em um país em crise e num banco que pratica taxas e tarifas abusivas não se trata apenas de esforço pessoal e individual dos trabalhadores. Aspectos e situações externas, fatores na maioria das vezes fora do controle do trabalhador, interferem no alcance ou não da meta. Não atingir o objetivo, portanto, não significa que o bancário 'não se esforçou' o suficiente”, salienta.

Lucimara Malaquias lembra que há muitas áreas que não possuem ferramentas adequadas para o bancário alcançar as metas estabelecidas. O caso mais emblemático é o da gerência digital, pois o Santander não tem sistemas eficientes de gestão da plataforma digital. “O que existe apresenta problemas recorrentes, dificultando muito o alcance da meta porque o trabalhador passa muito tempo contornando a ineficiência do sistema”, ressalta.

A dirigente sindical destaca ainda que o banco finge conceder vantagens para uma parte de seus funcionários utilizando a meritocracia e, ao mesmo tempo, promove cortes usando como critério, via de regra, os altos salários. “Os ‘heróis’ que conseguem transpor as inúmeras dificuldades e alcançam metas, com suas consequentes promoções e méritos, têm salários acima do score da área e automaticamente viram alvo de desligamentos sem justa causa. Esses trabalhadores sequer são informados do motivo da sua demissão, mas verificamos que seus salários geralmente superam a média das áreas em que atuam. Deste modo, resta uma pergunta ao Santander: que meritocracia é esta que penaliza e persegue quem se destaca?”, questiona Lucimara.

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