São Paulo – Logo na primeira grande manifestação de trabalhadores do ano, as principais centrais sindicais do país demonstraram união e força ao levar para a Avenida Paulista mais de 5 mil pessoas em defesa dos direitos trabalhistas, emprego, Petrobras, e Caixa como banco público e com atuação essencialmente social. O ato foi organizado pela CUT, Força Sindical, CTB, UGT, NCST e CSB. Os bancários também participaram, atrasando a abertura de 40 agências para explicar aos funcionários os motivos do protesto e também com um abraço ao prédio da Caixa.
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Os protestos ocorreram na quarta 28 em diversas partes do país e foram provocados pelo anúncio do governo federal, no fim do ano passado, das Medidas Provisórias 664 e 665, que comprometem direitos trabalhistas como pensão por morte, auxílio-doença, seguro-desemprego, abono salarial.
Ajudou a ampliar a insatisfação da classe trabalhadora a elevação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), cosméticos, combustíveis e produtos importados, divulgadas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Na visão do movimento sindical, essas medidas afetarão diretamente o consumo, podendo gerar queda na demanda e, por consequência, no nível de emprego no país.
“Os bancários e os trabalhadores em geral precisam estar sempre preparados para lutar pelos seus direitos e ampliar cada conquista. O seguro-desemprego, por exemplo, não pode ser fragilizado. É a rotatividade que deve ser combatida. Os bancos praticam a rotatividade para aumentar seus lucros. É isso que o governo e o Congresso devem combater”, afirmou a presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira, que esteve na Paulista.
“Se o governo quer fazer superávit, deve taxar as grandes fortunas e não tirar dos trabalhadores”, critica. “Outro caso é sobre as pensões. Não admitimos a redução do valor dos benefícios, que já é feita por meio do fator previdenciário.” A dirigente destacou, ainda, que a luta dos bancários é também contra a abertura de capital da Caixa Federal. “A Caixa é um instrumento muito importante para as políticas públicas e deve permanecer como é: 100% pública.”
Em frente ao Masp, onde os manifestantes se concentraram, o secretário de Finanças da CUT, Quintino Severo, afirmou: "queremos dar um recado ao ministro Joaquim Levy, que não conhece a realidade brasileira. Ele não sabe a facilidade que as empresas brasileiras têm em demitir. Queremos dar o recado que não aceitamos a retirada dos direitos dos trabalhadores”.
Ele se referia à alta rotatividade dos empregados, o que torna o seguro-desemprego essencial. Pelas novas regras, o trabalhador terá de ter vínculo empregatício mínimo de 18 meses na primeira solicitação do benefício. Antes era de apenas seis meses.
“Votei na Dilma achando que ela ia defender o nosso lado e ela já aprontou essa presepada logo no começo do ano. Me senti enganado”, afirmou o auxiliar administrativo Joélson dos Santos, que engrossou a manifestação durante seu horário de almoço.
Caixa 100% pública – Do Masp, os manifestantes foram em direção ao prédio da Caixa Econômica Federal, que sofre com boatos de que o governo pretende abrir capital daquele que é o único banco 100% público atuando em âmbito nacional.
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“Os bancos públicos tiveram papel fundamental para amenizar no país os efeitos das crises internacionais de 2008 e de 2010 ao conceder crédito mais barato que os bancos privados. Não é com a abertura de capital da Caixa que o Brasil vai retornar ao caminho do desenvolvimento econômico e social”, afirmou a dirigente sindical e bancária Adriana Magalhães, a Adrianinha.
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Em defesa da Petrobras – De lá, o protesto dirigiu-se à sede da Petrobras em São Paulo (foto abaixo, à esquerda), onde dirigentes sindicais atacaram a corrupção na empresa e manifestaram apoio à estatal. Falando em nome da CUT, Cibele Vieira, dirigente da Sindipetro, cobrou a punição dos comprovadamente envolvidos e a devolução do dinheiro desviado.
“Agora não dá para culpar todos os 86 mil petroleiros e nem a Petrobras. A gente está falando de uma empresa que nasceu da organização popular, de uma empresa que nos últimos anos alavancou o desenvolvimento do país com a política de conteúdo nacional, que gerou mais de 80 mil empregos só para os metalúrgicos”, mencionou.
A dirigente também condenou a decisão de bloquear contratos e futuras participações em licitações das 23 empresas citadas na Operação Lava-jato, que investiga os desvios na Petrobras.
“Tem que prender os empresários, mas não dá pra inviabilizar essas empresas. O que está em jogo é o desenvolvimento e o emprego. Se a Petrobras começar a comprar navio lá fora, são vocês trabalhadores que vão perder emprego. Se a gente somar todas as empresas envolvidas, elas representam 14% do emprego formal no país. Estão querendo inviabilizar o Brasil. Contamos com vocês para vencer essa disputa. Prender corruptos e corruptores, mas sem inviabilizar as empresas para não cair mais uma vez na conta da classe trabalhadora.” A Petrobras é responsável hoje por cerca de 13% do Produto Interno Bruto brasileiro.
Documentos – Diferentemente do que foi divulgado em coletiva de imprensa na segunda-feira 26, a manifestação não foi até o prédio do Ministério da Fazenda por uma questão logística – ele está localizado no final da Avenida Paulista, no lado oposto à da Petrobras. Os documentos de repúdio às medidas econômicas e em defesa da estatal serão entregues na terça-feira 3 em reunião entre os ministros da área econômica e representantes das centrais sindicais, ocasião mais propícia para o encaminhamento das cartas, segundo informou a CUT.
Brasil - Além de São Paulo, as centrais sindicais organizaram manifestações em Maceió, Fortaleza, Brasília, Goiânia, São Luiz, Cuiabá, Campo Grande, João Pessoa, Recife, Teresina, Aracaju, Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Salvador. Trabalhadores rurais, sem-terra, sem-teto e estudantes, entre outros movimentos sociais, também confirmaram presença.
Para CUT, Força Sindical, CTB, UGT, NCST e CSB, as medidas adotadas até agora prejudicam os trabalhadores, a economia do país e vão contra os compromissos assumidos durante a campanha eleitoral. Esse recado já foi levado ao governo, em reunião com o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Miguel Rossetto, Nelson Barbosa, do Planejamento, Carlos Gabas, da Previdência Social, e Manoel Dias, do Trabalho e Emprego. Um novo encontro será no dia 3 de fevereiro.
O ato desta quarta é uma introdução a outros que têm por objetivo pressionar o governo e mobilizar a sociedade em defesa do projeto que venceu as eleições em 2014 e deve ser colocado em prática. A marcha da classe trabalhadora, por exemplo, já está marcada para 26 de fevereiro.
A Central promoverá, ainda, mobilizações no Congresso e na Esplanada dos Ministérios, a partir de 31 de janeiro, para receber os parlamentares que serão empossados e acompanhar o início do ano no Legislativo.
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Rodolfo Wrolli – 28/1/2015
(Atualizado às 18h03)