São Paulo – “O BB pode sair da Cassi no momento que quiser”, foi com esse tom de ameaça que o diretor do banco Carlos Neri referiu-se aos problemas de tendência deficitária da Caixa de Assistência dos Funcionários (Cassi), conforme relatado em evento realizado pela Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil (Anabb), no dia 22. O diretor confirmou as propostas apresentadas pelos indicados do BB na direção da Cassi e que visam o corte de despesas e aumento de custeio.
Entre as medidas propostas pelo banco – e rejeitadas pelos trabalhadores – estão criar uma franquia de R$ 1,5 mil para internação e aumentar em até 80% o custo da coparticipação para os funcionários.
“É um ataque. O BB apresenta propostas que vão na contramão da valorização da Cassi, pois ferem diretamente o fundamento da solidariedade da entidade, na qual cada um paga o quanto pode e utiliza conforme sua necessidade”, diz a diretora do Sindicato Sílvia Muto.
Contradição – Embora apresente lucros crescentes, o BB recusa fazer mais aportes, uma das soluções apresentadas pelos trabalhadores.
O diretor Carlos Neri, em resposta à publicação “O Espelho”, dos funcionários do banco, afirma que os aposentados têm um custo muito grande, de R$ 6 bilhões. “E cada 1% de aumento hipotético de contribuição do BB representaria um impacto de R$ 1,3 bilhão no balanço. Por isso, é descartada qualquer aumento de contribuição patronal ou aportes eventuais à Cassi, ainda mais porque o banco já contribui com R$ 800 milhões anualmente para a Caixa de Assistência", afirmou.
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Mas segundo a visão dos funcionários, frente aos resultados que a instituição vem apresentando, esses custos são mínimos.
“Do que adianta a felicidade do acionista do banco, quando os trabalhadores estão arrebentados?”, pergunta-se um bancário indignado. “Evidente que nenhum de nós irá comemorar porque o banco deixa de aportar dinheiro na Cassi para colocá-lo no bolso do acionista”, acrescenta.
“O BB não pode se eximir da sua responsabilidade. A sobrecarga, a forma de cobrança das metas, a falta de funcionários e as péssimas condições de trabalho estão adoecendo a categoria. Se hoje a utilização da Cassi entre os funcionários da ativa é muito maior que há 20 anos, a responsabilidade é do banco”, aponta Sílvia.
Solução duradoura – De acordo com a dirigente, o BB não apresenta solução duradoura para a Cassi. “O banco fala em qualidade de gestão com um olhar somente financeiro, como se onerando o trabalhador fosse possível resolver os problemas”, diz.
Sílvia explica que, ao mexer apenas com custos, a conta nunca vai fechar: “A gente tem que garantir a perenidade da Cassi. A inflação médica ronda os 40% ao ano. A forma tradicional de receita do plano de associados é o salário e os aumentos salariais não chegam perto disso. Mexer apenas na forma de custeio do plano não é a lógica que deve pautar qualquer solução”.
A proposta dos eleitos é mudar um modelo de saúde fragmentado, onde o paciente passa por vários especialistas e não descobre as causas dos adoecimentos. Com a Atenção Integral à Saúde, aprovada em 2001 e até hoje não implantada, o atendimento primário seria destacado, modelo de resultados positivos em termos de eficiência em países como Canadá, Inglaterra e Holanda.
Para o diretor eleito da Cassi William Mendes, a proposta dos trabalhadores é a única que permite resultado de longo prazo. “Os dirigentes eleitos não podem aceitar a implantação de propostas emergenciais sem que sejam examinadas as suas naturezas. Toda medida emergencial para garantir o equilíbrio da Cassi é passível de ser discutida, desde que tenha como referência a proposta estruturante que garanta seu equilíbrio mais perene, sem prejuízo da saúde dos funcionários.”
Entenda - Visões distintas sobre gestão da Cassi tem representado um impasse nas negociações sobre a melhor maneira de administrar a tendência deficitária da entidade.
Para 2015, a previsão é de que o déficit anual da Cassi seja de R$ 200 milhões. Segundo os estudos utilizados pelo fundo, o saldo negativo dos últimos três anos está sendo atualmente coberto com recursos de reservas livres, que devem acabar entre abril e junho de 2015.
O impasse é que, enquanto representantes indicados pelo BB propõem cortes de despesas, com impacto direto no bolso dos assistidos, os eleitos pelos trabalhadores propõem aportes por parte do banco e, ainda, uma mudança de paradigma que promova atendimento mais eficaz e a um custo menor.
Mariana Castro Alves – 28/1/2015
Atualizada às 11h30 de 29/01/2015
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Proposta de funcionários é negada e impasse sobre como resolver tendência de déficit permanece
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