São Paulo – Com 34 anos, Alex (nome fictício) foi demitido do Bradesco depois de ter sido afastado para cuidados médicos. A dispensa ocorreu no dia 14 de janeiro, quando o bancário voltava de uma licença de cinco dias por conta de dores nos ombros, diagnosticadas como bursite e tendinite.
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“Eu esperava qualquer coisa, menos isso”, conta Alex que tinha a expectativa de alcançar um cargo de gerente. De acordo com ele, houve sinais claros de que seria promovido. O banco nega.
“Falam que a gente é só um número no banco, mas eu não me achava só um número”, ressalta o ex-bancário que, ao dar a entrevista, se identificou – no tempo presente – como supervisor, como se não tivesse perdido o emprego. Alex diz se dar conta da demissão aos poucos.
O Sindicato reivindica a reintegração do bancário ao emprego. “É um absurdo que um jovem como ele, depois de tanta dedicação, seja descartado injustamente”, destaca a diretora do Sindicato Sandra Regina Vieira da Silva.
“Sempre me matei pelo banco. Pode perguntar para qualquer um. Todos vão dizer que eu era bom no que fazia”, afirma. Junto com a dedicação profissional, o funcionário também sempre se preocupou com a saúde.
Perseguição – Alex foi contratado pelo Bradesco aos 20 anos, em 2000. Chegou ao cargo de supervisor administrativo II e recebeu a promessa de, em poucos meses, virar gerente de outra agência.
Porém, começou a sentir dores, procurou o médico e teve de passar por sessões de fisioterapia e tomar medicamentos. Após um afastamento com duração de uma semana, em fevereiro de 2014, as relações dentro do Bradesco mudaram: “Fui mandado para outra agência como caixa, ou seja, um cargo menor, e não como gerente. Fiquei na espera de algo melhor, mas minhas dores só pioraram”, conta o trabalhador que chegava a ficar até 20h na agência para dar cumprimento a todo serviço.
Funcionário exemplar – Segundo pesquisa realizada pelo Sindicato em 2011, o perfil dos bancários que são afastados por doenças é o do profissional exemplar, que normalmente assume tarefas acima de suas responsabilidades e se coloca disponível para fazer horas extras. Geralmente são jovens, em idade economicamente ativa. Não estão no início da carreira e têm alguns anos de experiência no banco.
Outra característica comum entre os afastados é que são colocados em outras funções quando voltam das licenças. Geralmente em tarefas sem importância, são expostos pela gestão dos bancos como um exemplo a não ser seguido, na linha de frente da demissão.
“Esse fluxo de discriminação e desrespeito já é uma triste rotina. Essa prática é condenada pelo movimento sindical”, explica a diretora do Sindicato Neiva Ribeiro dos Santos.
“Vamos combater isso porque o culpado da doença não é o trabalhador, mas as condições de pressão constante, metas abusivas e medo da demissão imposta pela ânsia pelos lucros. Por isso, lutamos por melhores condições com mais funcionários, menos sobrecarga e relações civilizadas de trabalho”, afirma Neiva.
Mariana Castro Alves – 29/1/2015
Linha fina
Sob justificativa de falta de produtividade, trabalhador exemplar é dispensado depois de afastamento por LER/Dort
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