São Paulo – Se o projeto de lei 4330 era pouco conhecido entre os bancários, a situação mudou bastante. Depois da aprovação de seu texto base pelo plenário da Câmara, na noite de 8 de abril, muitos trabalhadores do setor financeiro se deram conta de que o PL – que legaliza a terceirização em todos os setores de uma empresa, até mesmo na sua atividade-fim – ameaça seus empregos, independentemente da posição que ocupam no banco.
> Como o PL da Terceirização prejudica os trabalhadores
> Veja seu futuro se o PL da Terceirização for aprovado
“Se essa lei passar não vão mandar todo mundo embora de uma vez, mas vão fazer isso aos poucos. Primeiro quem trabalha no pré-atendimento, depois os caixas, gerentes e assim vai. Trocarão as pessoas para pagar menos salários, economizar às custas dos empregados e lucrar mais. E o pior é que tem gente que acha que não vai ser afetada. Essa mentalidade precisa mudar. Se tudo for terceirizado, só os patrões vão ganhar”, alerta um caixa do Bradesco.
Um gerente do Santander diz estar muito preocupado. “Conheço pessoas que trabalham como terceirizadas no Santander e o serviço que eles fazem é tão bom quanto o de um analista ou gerente do banco. A diferença é que ganham quase três vezes menos que nós, bancários. Elas sempre tiveram a promessa de um dia serem efetivadas, mas agora, com essa lei que permite a terceirização de tudo, estão desolados e sem perspectiva. E não adianta achar que quem trabalha no banco está tranquilo. Não está. Tenho clareza de que se ficarmos quietos, não protestarmos, todo mundo vira terceirizado.”
Uma caixa do Bradesco, que já foi terceirizada, conhece bem a realidade desses trabalhadores. “Trabalhei alguns anos em uma terceirizada contratada pelo Bradesco. Ganhava o salário mínimo e meus vales refeição e alimentação eram bem menores do que os dos bancários. Isso sem contar que ficava duas, três horas a mais todos os dias depois de meu horário. Os donos da empresa falavam que essas horas extras iriam para um banco de horas. Mas nunca dava para folgar e ficava por isso mesmo. Se reclamasse seria demitida, como ocorreu com várias pessoas. Quando saí de lá deixei mais de 100 horas extras e nunca vi a cor desse dinheiro.”
Ela diz não ter dúvidas de que se o PL 4330 passar pelo Senado e se tornar lei, os banqueiros terceirizarão sem restrição. “Se puderem terceirizar tudo, essa vai ser a realidade de todos os bancários do Bradesco, do Itaú, do Santander. Tudo o que temos hoje irá para o ralo. Estaremos na roça”, afirma.
Um assistente, também funcionário do Bradesco, tem reagido desde que soube da aprovação do projeto da terceirização. Para isso busca sensibilizar conhecidos por meio das redes sociais. “Fiquei surpreso quando o PL 4330 foi aprovado pela Câmara. Não achava que isso fosse acontecer. Fiquei tão indignado que passei a mandar mensagens aos meus familiares, amigos de faculdade e colegas de banco sobre o que estava acontecendo. Enviei até o vídeo da Camila Pitanga (da campanha da Anamatra) para o pessoal. Estou tentando mexer com brio da turma, pois se tudo for terceirizado vai ficar do jeito que o empresário quer: pagar o menos possível para ganhar mais.
Sem esperança – Uma terceirizada que presta serviços para o Santander conta que a ameaça do PL 4330 abalou suas esperanças de um dia vir a ser efetivada pelo banco. “Sempre falam que em breve deixaremos de ser terceirizados, que seremos contratados pelo banco, mas o tempo passa e apenas um ou outro é efetivado.”
A trabalhadora relata a realidade de precarização que enfrenta cotidianamente: “Trabalho em um lugar onde falta água constantemente e, muitas vezes, nem dá para usar o banheiro. O local é mal iluminado e até insetos, como baratas e moscas, aparecem”.
Jair Rosa e Andréa Ponte Souza – 15/4/2015
