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Terceirizados são as maiores vítimas do trabalho

Linha fina
Doenças e acidentes já tão graves entre trabalhadores em geral, têm números ainda mais assustadores entre os milhares de prestadores de serviços. Situação que pode ser agravada caso o PL da terceirização seja aprovado no Senado
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São Paulo - Dizer que no Brasil foram registrados 2.152.524 acidentes ocupacionais entre 2011 e 2013, e que 48.542 dessas pessoas ficaram inválidas permanentemente, além de 8.503 terem morrido por causa do seu trabalho talvez não comova.

São números que colocam o Brasil em quarto lugar no ranking mundial de acidentes de trabalho, segundo a Organização Internacional do Trabalho, mas, mais que isso, tratam de sonhos que acabaram desfeitos, histórias esquecidas, trajetórias tragicamente encerradas.

Como a de Fabio Hamilton Cruz. No dia 29 de março de 2014, aos 23 anos, morreu trabalhando em um dos canteiros das obras da Arena Corinthians. Era um terceirizado que prestava serviço para a WDS Engenharias, contratada pela empresa Fast, que por sua vez era contratada pela Odebrecht.

Se no Brasil o número de acidentes de trabalho é grande, entre os terceirizados o quadro é ainda mais grave. Estudo do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) indica: para cada dez acidentes de trabalho sete são com prestadores de serviço. A morte de Fabio – que ganhou as páginas de jornais por ser num estádio da Copa de 2014 –, é uma dentre tantas na indústria da construção civil, responsável por 16,5% dos acidentes de trabalho fatais registrados em 2013 no Brasil.

A história de Sheila (nome fictício) já não teve repercussão. Filha única de empregada doméstica, cresceu ouvindo de sua mãe que tinha de ter um futuro melhor e foi estudar. Quando completou o ensino médio, começou a trabalhar em uma empresa de teleatendimento que prestava serviço a um banco. Saía bem vestida de casa, na periferia de São Paulo, para orgulho da mãe. Atendia um cliente após o outro. Alguns eram gentis, já outros gritavam protegidos pelo anonimato. A todos tinha que “sorrir com a voz”, mesmo com o coração apertado dentro do peito. O tempo passou e Sheila passou a sonhar que não conseguia bater as metas de venda de grande número de seguros no mês. Não tinha mais vontade de sair de casa nos finais de semana, e depois sequer para o trabalho. A mãe, preocupada, levou-a ao médico e ouviu o diagnóstico: depressão. Terceirizada, mesmo atuando para os tão lucrativos bancos do Brasil, durante o afastamento do trabalho Sheila não vai ter complementação de salário, como o bancário tem. Quando e se voltar ao trabalho, estabilidade não vai ter, ao contrário do bancário que, se ficar afastado por seis meses não pode ser demitido nos primeiros dois meses após o retorno ao trabalho. Numa categoria que conta com cerca de 500 mil bancários, estima-se que existam pelo menos outro meio milhão de profissionais no setor, mas terceirizados pelos bancos.

“Sheila e Fabio são exemplos, representam um exército de pessoas invisíveis, trabalhadores explorados, subempregados a serviço de empresas que precarizam direitos e serviços em prol de um lucro cada vez maior. É isso que o PL da Terceirização quer tornar lei, mas não vamos deixar”, afirma o secretário de Saúde do Sindicato, Dionísio Reis. O dirigente refere-se ao Projeto de Lei 4330/2004, que foi aprovado na Câmara dos Deputados e segue para votação no Senado.

“Por isso, neste 28 de abril, Dia em Memória das Vítimas de Doenças e Acidentes de Trabalho, vamos a algumas das principais concentrações dos bancos em São Paulo e Osasco, para falar aos bancários sobre seus direitos, sobre a importância de respeitarem sua saúde e a necessidade de tratamento, mas também para lembrar da importância da participação de todos na luta contra o PL da Terceirização, uma luta de todos os trabalhadores”, reforça Dionísio.


Redação, com edição de texto da Dra. Maria Maeno, Pesquisadora da Fundacentro – Ministério do Trabalho e Emprego - 28/4/2015

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