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Movimentos sociais alavancam avanço das mulheres

Linha fina
Opinião é da ex-ministra Luiza Bairros, da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, apresentada em seminário Internacional
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São Paulo - Os movimentos sociais contribuíram com a luta das mulheres pela igualdade de direitos no país, principalmente no que diz respeito à cobrança para que as instituições brasileiras respondam às demandas e reivindicações dessa parcela da população. No entanto, há uma batalha ainda ser vencida: as mulheres no poder.

A opinião é da ex-ministra Luiza Bairros, da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, apresentada na tarde de quarta 20, em São Paulo, no 1º Seminário Internacional Cultura da Violência contra as Mulheres. Para ela, a ação dos movimentos sociais até agora foi positiva, porque “fez avançar a agenda do governo em relação a esses setores”. Mas essas questões de gênero e de raça, resssaltou, ainda são “relativamente marginalizadas dentro do próprio governo”. “Você ainda precisa trabalhar com altíssima dose de convencimento para que as coisas aconteçam”, completou.

“Fizemos as instituições brasileiras se moverem na direção das demandas, dos direitos e interesses do conjunto da população. Mas quanto mais andamos nessa direção, mais colocamos para nós mulheres, e, principalmente, nós mulheres negras, a necessidade de avançar ainda mais na ocupação dos espaços de poder efetivo. Porque são nesses espaços que nossas questões vão conseguir chegar lá, onde queremos, pela nossa boca, diretamente. O Estado que queremos, sem nós lá dentro [das instâncias de poder] nunca vai existir”, disse.

Reforma política - Mas agora, segundo ela, os movimentos sociais precisam retomar uma agenda “mais agressiva e de combate às ideias racistas e sexistas que ainda perduram na sociedade” e que “ressurgiram” atualmente como forma de reação aos avanços já conquistados. Uma das lutas sugeridas é pela reforma política, para assegurar maior participação das mulheres no poder e para que também garanta a representação dos movimentos sociais no Congresso.

“É preciso que os movimentos sociais se organizem, se manifestem, e voltem a promover conversas sobre essas questões, usando também as redes sociais. Temos que pensar que as instituições também têm que fazer um trabalho para assegurar a representatividade nos espaços de efetiva decisão. Enquanto isso não acontecer, o trabalho que uma Secretaria de Política para Mulheres ou de uma Secretaria de Promoção da Igualdade Racial ou uma Secretaria de Direitos Humanos ainda vai depender de convencimento interno e isso não é justo”, acrescentou.

Caminho anfíbio - Ao participar do debate, a antropóloga e militante feminista Rita Segato defendeu um ponto de vista diferente. Para ela, a luta pela igualdade de direitos da mulher está hoje muito concentrada nas instituições de poder e nas carreiras e precisaria agora voltar ao movimento nas ruas.

“O que temos feito no movimento feminista é colocar toda as nossas fichas dentro do Estado. E por isso estamos perdendo terreno e espaço. Nosso caminho tem que ser anfíbio. Temos que fazer lutas dentro do Estado, mas também usar estratégias, como as que já existiram nos anos 70, do feminismo de rua e de autogestão. Hoje, temos um feminismo de profissões ou de carreiras. Mas precisamos também voltar à vida inteligente que acontece por fora do Estado”, disse Rita.

A procuradora do Estado de São Paulo, Flávia Piovesan, apontou que o empoderamento da mulher passa por uma lista tríplice: física, econômica e política. “O empoderamento demanda autonomia física, ou seja, o controle sobre nossos corpos; a autonomia econômica, a capacidade de gerar recursos próprios; e a autonomia política que é o poder de democratizar as esferas políticas."

Para ela, além da luta pela democratização do ambiente público, as mulheres também devem lutar pela igualdade no ambiente privado. “As mulheres que trabalham fora dedicam quatro horas de seu dia às atividades domésticas. Os homens que trabalham fora, no entanto, dedicam 0,7 horas de seu dia à atividade doméstica. Se queremos o empoderamento na vida pública temos que transformar o público e o privado. Temos que democratizar as duas esferas.”

O 1º Seminário Internacional Cultura da Violência contra as Mulheres foi organizado pelo Instituto Vladimir Herzog e pelo Instituto Patrícia Galvão, em parceria com a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, a ONU Mulheres e a Fundação Ford. O seminário ocorre até quinta 21, no Sesc Pinheiros. O objetivo do evento é estimular um pacto global de não tolerância à perpetuação da cultura de violência contra as mulheres.


Elaine Patricia Cruz, da Agência Brasil - 21/5/2015
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