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Bancos ganham muito e oferecem pouco

Linha fina
Clientes entendem motivos da greve dos bancários e se dizem insatisfeitos com serviços, juros altos e falta de trabalhadores nas agências
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São Paulo – “Eles ganham muito e o serviço é bem fraquinho”, disse um correntista do Banco do Brasil que na quinta-feira 15, décimo dia de greve dos bancários, usava com tranquilidade o autoatendimento de uma agência fechada por conta da paralisação. “Eles não têm interesse pela gente, não dão a assistência devida. Mas se eu fosse um grande empresário, viriam atrás. O que é uma besteira porque os grandes estão mal, mas as pequenas empresas nem tanto”, acrescenta Eliseu de Campos, 43 anos, microempresário do ramo de confecções.

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Apesar de empreendedor, Eliseu não toma empréstimos com a instituição financeira. “Os juros são absurdos!”, justifica. “Sinceramente, se eu não precisasse, não ia querer nem ver banco na minha frente.” Sobre a proposta da Fenaban aos trabalhadores – de reajuste que não repõe sequer a inflação e representa perdas de 4% – ele diz: “Não acho justa. Eles ganham muito e podem pagar muito mais”.

A opinião de Eliseu reflete o que muitos correntistas pensam dos bancos. Apesar dos lucros bilionários, não devolvem o que ganham à sociedade. “Eles estão colaborando para o aumento do desemprego no Brasil. Treinam a população para usar as máquinas [autoatendimento] e o que eles eliminam de emprego com isso não se tem ideia”, critica a professora aposentada Maria Gazzetto, que reclama de não ter o devido acesso a essa informação. “Só divulgam o desemprego geral, mas não as empresas que estão demitindo mais. Tenho certeza que os bancos estão entre elas.”

E estão mesmo: em apenas oito meses (de janeiro a agosto deste ano) o setor bancário cortou 6.003 postos de trabalho, segundo dados do último Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, do Ministério do Trabalho). Considerando os balanços dos cinco maiores (BB, Caixa, Itaú, Bradesco e Santander) referentes ao primeiro semestre do ano (na comparação com os primeiros seis meses de 2014), o número de empregos extintos é de 7.107.  

Aos 81 anos, a aposentada se ressente do atendimento que recebe como cliente, também do BB. “Não consigo nem falar com o gerente porque eles barram a gente no atendimento prévio, e nem dá pra entrar na agência. Por telefone então, nem pensar. O banco quer que a gente faça tudo sozinho, mas nem todo mundo sabe usar essas máquinas. Não está certo”, diz.

Outra descontente com o autoatendimento é aposentada Marilene Lima, 63 anos, correntista do Santander: “Quase fui roubada às 9h da manhã. Entrei para sacar dinheiro e um rapaz que disse ser do banco insistia em me ajudar. Se eu fosse mais boba, caía na conversa. Ou seja, não tem segurança”.

“Eles estão montados no dinheiro e podem sim dar um reajuste maior. Até pelo risco que se corre trabalhando dentro de um banco, os bancários merecem muito mais”, opina a escrevente Sônia Rosa, 57 anos, cliente do Bradesco, também atenta ao problema da segurança bancária.

“Pra gente que é pobre, poder parcelar ajuda, né? Ameniza o nosso sofrimento”, afirma o vendedor Ricardo Almeida, 36 anos, correntista do BB. Por conta do crédito a juros exorbitantes, ele conta que ficou meses com o nome “sujo”. “Sempre tive dificuldade com banco, e passei anos pra limpar meu nome. Mas a gente precisa, né?”. Sobre a greve, afirma: “É justa. Cada um tem de correr atrás de sua melhoria”.

Até mesmo quem deveria ter atendimento vip, reclama: “Estou esperando até hoje o retorno sobre um financiamento. Como não veio, financiei o carro por outra empresa”, conta uma cliente do Itaú Personalitté, que também apoia a greve dos bancários. “Acho louvável. As pessoas têm mesmo de ir atrás de seus direitos”, afirma a advogada Sônia Regina, 50 anos.


Andréa Ponte Souza – 15/10/2015
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