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Ubes quer ato nacional por estudantes de SP

Linha fina
Presidenta recém-eleita da União Brasileira de Estudantes Secundaristas Camila Lanes defende "agenda ativa" e que "estudantes não vão ficar esperando governo Alckmin decidir investir nas escolas"
Imagem Destaque
São Paulo – O 41° Congresso da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) elegeu no domingo 15 a estudante paranaense Camila Lanes como sua nova presidenta e definiu plano de ações imediatas para a entidade. Camila disse à RBA que a Ubes tem como plataformas a campanha contra o fechamento de qualquer escola em território nacional e o aprofundamento do debate sobre a reformulação do ensino médio no país. A entidade organizar para esta quinta-feira 19 dia nacional de luta e de solidariedade aos estudantes do estado de São Paulo.

Para a ativista de 19 anos, as conquistas dos últimos anos, como o Plano Nacional de Educação (PNE), o Estatuto da Juventude (Lei 12.852/2013) e os royalties do petróleo para a educação são muito importantes, mas precisam ser postas em prática. “Por exemplo, tivemos o PNE aprovado. Muito bom, maravilhoso, parabéns. Porém, agora precisamos da implementação do PNE. E só vamos conseguir se o movimento estudantil se mobilizar junto com o restante do movimento social”, diz.

Nascida em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, Camila se tornou liderança nacional depois da atuação de destaque e vitoriosa em 2012, no acampamento da União Paranaense dos Estudantes Secundaristas (Upes), quando a entidade correu risco de perder o terreno destinado à sua sede da entidade para a especulação imobiliária. Teve também participação ativa nos protestos de estudantes e professores contra as medidas do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), no primeiro semestre deste ano.

Segundo a nova presidenta, a Ubes terá "uma agenda ativa entre as escolas que já foram ocupadas (em São Paulo)". Ela diz que "uma das principais bandeiras da atual gestão é a campanha contra o fechamento de qualquer escola em território nacional".

Como você avalia a educação brasileira hoje, no contexto de crise no país?
Hoje existe uma política de austeridade e sucateamento da educação. Isso pega muito na juventude, que de fato é uma das parcelas muito prejudicadas, não somente no âmbito do trabalho, mas também da educação. Na maioria dos estados existe um trato muito indiferente para com a educação. No Congresso da Ubes discutimos muito esse tema, para que a galera compreenda qual é o nosso papel.

O combate a essa crise também se dá pela participação do jovem na política. Uma das medidas que vamos levar na gestão é não somente debater, mas procurar soluções que a juventude possa apresentar para a política brasileira e a política econômica e social para mudar.

A quem serão levadas as propostas?
A luta da Ubes é em âmbito federal, muito contato com os ministérios, deputados, com a política nacional. A gente quer também focar na política dos estados, para que o jovem compreenda, quando vai cobrar, que não é só do governo federal. Tem de cobrar, com críticas construtivas, dos governos estaduais e prefeituras municipais, nas casas legislativas do Brasil, para que a gente consiga ocupar o espaço da política e consiga mudar a política.

Como você vê a enorme massa de jovens que rejeita a política hoje?
Eu acredito que o jovem hoje não se sente representado pela política. Primeiro, porque ele não se vê lá dentro. A gente vê poucas figuras hoje na política que representam e têm uma faixa etária que condiz com a realidade da juventude. O movimento estudantil vem debatendo há tempos a questão de uma reforma política no Brasil, que é perpassada justamente pela representação da juventude nos espaços de decisão política nacional, estaduais e municipais.

Para além disso, a gente precisa compreender o que cada um está defendendo, já que a política se dá muito por alianças, acordos e diálogos entre partidos e pessoas. Eu sinto que é complexo para um jovem que não faz parte de um movimento social, por exemplo, conseguir diferenciar ideologias de partido X para partido Y, o que cada partido defende e vai buscar aprovar ou não no Congresso. Nossa ideia é debater com os jovens essa questão, de atualizar a política. Temos de trabalhar para que a juventude, que representa uma parcela expressiva da população, seja representada. Mas não para que o jovem entre num partido e comece a militar por ele, mas para que se conscientize que a política vai muito além dos partidos, que a política define o preço do arroz e do feijão que vai para a casa do trabalhador.

E a reação repressiva de estados como Paraná, de Beto Richa, e São Paulo, de Geraldo Alckmin, diante de reivindicações dos estudantes?
Como estudante do Paraná eu presenciei muito de perto o quanto essa falta de política na educação resulta em tudo isso que aconteceu. Em São Paulo já são 25 escolas ocupadas por estudantes, e até agora o governo Alckmin não se posicionou. A resposta que os estudantes estão dando aos governos que tem um brutal descaso para com a educação é que os estudantes não vão ficar esperando o Alckmin decidir investir nas escolas ou não, ou o Beto Richa pagar a dívida com os professores. Os estudantes necessitam de educação imediata. Todo esse movimento que estamos criando, as entidades estaduais principalmente, é dar essa resposta: nós não podemos esperar que os governos se toquem que necessitam investir na educação.

Como você avalia o momento atual do governo Dilma, o ajuste fiscal?
Temos de concordar que houver avanços nos 12 anos de governos petistas Dilma e Lula. Mas, quando eu trato do governo federal não é somente do PT que está no poder, mas de um coletivo como um todo. Tivemos avanços, ampliação de vagas nas universidades, em politicas de inclusão dos filhos dos trabalhadores, das parcelas mais pobres da sociedade. Porém, nós não podemos nos contentar com isso. O movimento estudantil se coloca totalmente contra essa política de ajuste fiscal, porque tira muito dos direitos recém-conquistados dos estudantes.

Por exemplo?
Por exemplo, nós conquistamos o Plano Nacional de Educação, o Estatuto da Juventude, ainda vai ser aprovada a questão da meia entrada, nós tivemos os royalties do petróleo para a educação. Isso tudo são investimentos para a educação. E o ajuste fiscal afeta isso. Por exemplo, o Plano Nacional de Educação aprovado é muito bom, maravilhoso, parabéns. Porém, agora precisamos da implementação do PNE. E não vamos conseguir a implementação do PNE se o movimento estudantil não se mobilizar junto com o restante do movimento social.

Por exemplo, o movimento estudantil demorou mais de sete anos, sete anos!, para aprovar 10% do PIB para a educação. Conquistamos. Agora a gente tem de colocar isso na prática, na vida do estudante. E aí é que chega nossa crítica. A gente tem que fazer com que as conquistas saiam do papel e vão pra vida do estudante, para a sala de aula.

Foi muito bem colocado no congresso (da Ubes) que 10% do PIB pra educação, 75% dos royalties do petróleo, do pré-sal, o PNE e as demais conquistas, sozinhas, não servirão pra um avanço da educação que temos hoje. Nós temos uma juventude diferente dentro das escolas. A escola cada vez mais se apresenta mais diversa, mais colorida, então precisamos atualizar a nossa educação pra receber esse novo investimento.

E é por isso que a Ubes está se propondo nessa gestão a aprofundar o debate sobre a reformulação do ensino médio. Precisamos compreender o que realmente é a reformulação do ensino médio, para cobrarmos, com embasamento, do governo federal, dos governos estaduais, pegar tudo isso que a gente conquistou e reverter numa educação que de fato seja nova. Tem de mudar, renovar, dar um "F5", como nós falamos. No Paraná tem muitas escolas em que faltam cadeiras, escolas com merendas cortadas, escolas que não têm paredes. Precisamos de reformulação e de um plano de reestruturação das escolas estaduais para oferecer, além de um currículo, uma escola com estrutura física suficiente para receber todo mundo, ensinar e renovar as figuras que passam entre os corredores.


Eduardo Maretti, da Rede Brasil Atual - 17/11/2015
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