São Paulo – A necessidade de pensar o futuro diante das mudanças no mundo capitalista foi a tônica das discussões do Seminário Sindical Internacional. O evento foi promovido pela CUT (Central Única dos Trabalhadores) como parte da programação para o Dia do Trabalhador, cujo tema é Diversidade no Brasil e no mundo: um olhar de cinco jeitos.
Sindicalistas da Argentina, Paraguai e Rússia dividiram as mesas de debates nesta quinta-feira 26, no Sesc Belenzinho, com dirigentes da CUT, economistas e representantes do Dieese, Ipea, OIT e governo federal. A necessidade de se estabelecer um desenvolvimento sustentável no país, no continente e no mundo, a integração entre os países da América Latina e os desafios do movimento sindical foram alguns dos temas abordados durante o dia.
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Problemas comuns também foram abordados, entre eles a terceirização e a rotatividade no mercado de trabalho. “Nosso sindicato tem uma história muito nova, mas tivemos recentemente uma grande vitória com a diminuição de terceirizados nas fábricas da Volkswagen. Cerca de 400 trabalhadores foram assumidos como efetivos”, contou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Indústrias Automobilísticas da Rússia, Artem Iashenkov.
O secretário de Relações Internacionais da Central de Trabalhadores da Argentina (CTA), Victorio Paulon, chamou a atenção para o protagonismo dos trabalhadores diante das transformações mundiais, da crise financeira que assola a Europa e do atual contexto político da América Latina com a eleição de presidentes de esquerda. “Em 2002, a Bolívia era considerada um país inviável pelo FMI. Hoje, após a eleição de Evo Morales, enfrenta os mitos neoliberais, se impõe e se desenvolve”, disse.
Paulon também citou a recente nacionalização da YPF, que era controlada pelas espanhola Repsol, pela Argentina. “Estamos construindo um rumo histórico diferente, deixamos de ser os ‘estúpidos’ e passamos a brigar em igualdade de condições”, afirmou.
O representante da Central Unitária dos Trabalhadores Autêntica do Paraguai, Victor Ferreira, falou dos desafios ainda enfrentados em seu país, principalmente em relação ao que ele chamou de ditadura parlamentar – as maioria do legislativo nacional segundo ele está nas mãos de pecuaristas e banqueiros -, judiciária e da imprensa, que está nas mãos dos empresários. Um quadro similar ao brasileiro. “Precisamos nos unir. Necessitamos do apoio do movimento sindical brasileiro que está mais avançado que o nosso”, ressaltou.
Desafios – O diretor técnico do Dieese Clemente Ganz Lúcio e o presidente do Ipea, Marcio Pochmann, destacaram alguns dos grandes desafios que os movimentos sociais enfrentam hoje, diante das transformações do capitalismo.
Para Clemente, o país está diante de dois problemas, um bastante conhecido e outro que desconhecemos. “O primeiro é que chegamos a uma alta capacidade de produzir riquezas mas ainda convivemos com a mais profunda miséria. Ou seja, crescemos mas não resolvemos a desigualdade social.”
O segundo, de acordo com Clemente, não temos a mínima ideia de como resolver. “O padrão de crescimento, o conjunto de regras chamado de mercado, ou seja, o capitalismo gerou um grande problema que é a materialização da possibilidade real de acabarmos com todas as formas de vida do planeta. E começamos a descobrir que os efeitos disso estão vindo com uma velocidade muito superior do que a que imaginávamos e com uma capacidade destrutiva impressionante.”
Márcio Pochmann falou das mudanças iminentes no padrão demográfico brasileiro, com o envelhecimento acelerado da população, e os desafios das políticas de desenvolvimento diante desse novo Brasil. “Hoje a população com 80 anos ou mais é de 3 milhões de brasileiros, em 2030 chegará a 20 milhões”, informou.
Todas essas transformações, acrescentou Pochmann, abrem uma grande perspectiva de mudança, mas também é preciso capacidade para enfrenta-las e, segundo ele, o conhecimento é uma das armas mais importantes. “Nosso desafio pressupõe interromper o grau de alienação em que vivemos”, afirmou.
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Andréa Ponte Souza - 26/4/2012