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Agência digital no Itaú é inferno real

Linha fina
Unidades são alvo de denúncias cada vez mais frequentes, que apontam para um ambiente onde a pressão e o assédio moral alcançam níveis enlouquecedores; Sindicato cobra acesso aos locais, negado pelo banco
Imagem Destaque
São Paulo - Quem assiste à propaganda sobre o atendimento digital do Itaú, com crianças, clientes felizes e gerentes risonhos, nem de longe imagina o que se passa nessas unidades. Mas denúncias cada vez mais frequentes de bancários ao Sindicato dão conta dessa realidade, onde o assédio moral, a pressão por metas de vendas, sobrecarga, o medo de perder o emprego e adoecimento alcançam níveis enlouquecedores.

“A operação digital foi vendida como algo revolucionário, visionário. Mas foi entregue um telemarketing ativo e receptivo de oito horas”, conta um funcionário. E o resultado disso, segundo ele, prejudica trabalhadores e clientes. “Os clientes ficaram a ver navios, sem atendimento nas agências por conta de disputas entre as de tijolo [como o Itaú chama as unidades tradicionais] e as digitais. E os funcionários perderam muito em respeito, vida, saúde, carreira.”

Nesse ambiente de telemarketing disfarçado, nem mesmo são respeitadas as regras do teleatendimento. Os bancários se queixam de passar oito horas com headset, quando a Norma Regulamentadora 17 determina jornada máxima de seis horas para quem trabalha logado e pelo menos três pausas (uma de 20 minutos e duas de 10 minutos). “O nível de estresse por oito horas ininterruptas é altíssimo. E ai de quem se levantar para conversar, ir ao banheiro ou tomar água”, revela o funcionário.

Em alguns casos, chega a faltar o mínimo para que o trabalhador exerça suas tarefas com dignidade: “A água é insalubre, apenas um pequeno filtro para mais de 100 pessoas. E ela fica verde e com mau cheiro, mas ninguém pode reclamar, pois estão fornecendo água. A temperatura é outro problema: ou fervem as pessoas ou congelam, e a quantidade de funcionários com sinusite e pneumonia é absurda”.

Assédio e pressão – E tudo isso sob muita pressão e assédio moral. “O dia a dia é de venda o tempo todo. Não se gerencia conta de cliente, vende-se para ele. Não importa o quão complicado está o cliente, ele aguenta mais um PIC, uma previdência, um consórcio ou qual for a campanha do Agir.”

Isso se reflete nas reuniões de feedback: “Nessas reuniões, acaba-se com a carreira, ameaça-se o emprego e são postas diversas questões pessoais e nada profissionais”.

Sem acesso – As graves denúncias nem sequer podem ser verificadas pelo Sindicato, pois o banco dificulta o acesso de dirigentes aos locais onde funcionam as agências digitais. “Diante das reclamações que nos chegam, é necessário ouvir diretamente esses trabalhadores. Por isso estamos cobrando insistentemente que o Itaú permita nosso acesso. Inclusive, em reunião com o banco no dia 23 de março, entregamos documento solicitando informações sobre essas unidades: endereços, número de funcionários, jornada. A cada dia crescem as reclamações e precisamos ver de perto como é o dia a dia”, reforça a diretora executiva do Sindicato e funcionária do Itaú Marta Soares. Ela informa que ainda não houve resposta e que uma nova reunião está marcada para abril, em dia a ser confirmado.

> Emprego é tema de reunião com a direção do Itaú

A dirigente lembra que a questão se torna ainda mais importante quando se leva em conta que a digitalização das transações cresce em ritmo cada vez maior no país. Segundo dados da própria Febraban (federação dos bancos), em 2014 metade do volume total foi realizada via internet e mobile banking. Com relação a contas com internet banking, passaram de 42 milhões em 2013 para 51 milhões em 2014, uma variação de 22% em um ano. As contas com mobile banking subiram de 117% no mesmo período, passando de 12 milhões em 2013 para 25 milhões em 2014.

“O Sindicato está atento a essas mudanças, que não podem resultar em desrespeito aos direitos conquistados com muita luta pela categoria. Não vamos permitir que Itaú ou qualquer outro banco, em nome de uma pretensa modernização, ataque a Convenção Coletiva de Trabalho dos bancários. A tecnologia deve servir para melhorar a vida das pessoas, não para promover retrocessos na sociedade, com exploração e péssimas condições de trabalho”, reforça a dirigente.


Andréa Ponte Souza - 28/3/2016
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