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Dilma reajusta o Bolsa Família e a tabela do IR

Linha fina
Anúncio foi realizado no Dia do Trabalhador; Presidenta diz que Cunha sempre atuou para desestabilizar governo e promoveu chantagem para não ser investigado. Reafirma que golpistas farão "letra morta" da CLT e que lutará em defesa do mandato
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São Paulo – Em discurso de meia hora (das 14h08 às 14h38) no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, a presidenta Dilma Rousseff disse no início da tarde de domingo 1º que resistirá "até o fim" e que a oposição impediu o país de combater a crise e o desemprego. Confirmou o reajuste no Bolsa Família, de 9% em média, e na tabela do Imposto de Renda (5% a partir do ano que vem) – "sem comprometer o cenário fiscal", acrescentou. Ouvindo gritos de "fica, querida", Dilma reafirmou estar sendo vítima de golpe. "Se não tem base para o impeachment, o que é que está havendo?", questionou.

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Cerca de 100 mil pessoas participaram do 1° de Maio da CUT (Central Única dos Trabalhadores), em São Paulo. Além do ato político que contou com a presença da presidenta Dilma, vários artistas que são contra o golpe mostraram qual lado da história pertencem. O manifestação reuniu movimentos sociais, estudantis, de mulheres, negros, LGBT, juristas, intelectuais, artistas e todos que estão na luta contra o golpe e a retirada de direitos trabalhistas.

"Como não tenho conta no exterior, nunca recebi dinheiro do povo brasileiro, nunca recebi propina e nunca fui acusada de corrupção, eles tiveram de inventar um crime", afirmou a presidenta, comparando medidas implementadas no seu governo e no de Fernando Henrique Cardoso, ao afirmar ter feito 100 decretos de suplementação, enquanto o tucano fez 101. "Para ele, não era golpe nas contas públicas. Para mim, é golpe. Dois pesos e duas medidas. Eles não têm do que me acusar. É constrangedor."

Ela fez referência direta ao presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), segundo Dilma o grande aliado da oposição. "Esse senhor, Eduardo Cunha, foi o principal agente para desestabilizar o meu governo", afirmou. "Não aprovaram nenhuma das reformas que nós propúnhamos. Apostaram sempre contra o povo brasileiro. São responsáveis pelo fato de a economia brasileira estar passando por uma grave crise." Segundo a presidenta, Cunha passou a ameaçar com o impeachment após o PT se recusar a dar votos para livrá-lo de um processo de cassação.

Ao lado dos presidentes da CUT, Vagner Freitas, e da CTB, Adilson Araújo, além do secretário-geral da Intersindical, Edson Carneiro, o Índio, Dilma afirmou que o golpe é contra a democracia e contra direitos. "Eles propõem o fim da política de valorização do salário mínimo, que garantiu aumento real de 76% acima da inflação. Querem acabar com o reajuste dos aposentados. Querem transformar a CLT em letra morta e privatizar tudo o que for possível. A primeira vítima dessa lista é o pré-sal. Eles querem acabar com a obrigatoriedade do gasto com saúde e educação", acusou. "Os programas sociais são olhados como responsáveis pelo desequilíbrio no país. É mentira", reagiu, criticando a estrutura tributária.

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Exclusão - Dilma afirmou que a notícia "mais triste, porque a mais perversa", é de acabar com parte do Bolsa Família, que seria restrita aos 5% mais pobres, ou 10 milhões de pessoas. "Sabem quantas pessoas recebem hoje o Bolsa Família? 47 milhões", disse a presidenta, acrescentando que os excluídos serão "entregues às forças do mercado".

A presidenta também anunciou a criação de um Conselho Nacional do Trabalho e a ampliação da licença-paternidade, de cinco para 20 dias, aos funcionários públicos. E confirmou, como já havia sido noticiado, a prorrogação do programa Mais Médicos por três anos. Na terça, falará sobre o Plano Safra da Agricultura Familiar.

"O golpe é contra a democracia, contra conquistas sociais. É dado também contra investimentos estratégicos no país, como o pré-sal. O mais grave é que impediram o Brasil de combater a crise econômica e o crescimento do desemprego. Eles vão aprofundar a crise. Quero dizer uma coisa para vocês: vou resistir, eu vou resistir e lutar até o fim", afirmou ao final do discurso. "Não é a minha pessoa. O meu mandato é o que foi dado por 54 milhões de pessoas, que acreditavam num projeto. O projeto que querem impor não foi vitorioso nas urnas. Vão às urnas, se coloque sob o crivo do povo brasileiro."

Esperado para o ato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não foi ao Anhangabaú. Segundo sua assessoria, Lula estava com problemas na voz e ficou em casa. Entre os representantes do governo presentes, estavam os ministros Miguel Rossetto (Trabalho e Previdência Social) e Aloizio Mercadante (Educação). O secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania, Eduardo Suplicy, também falou.

Cunha foi um dos principais alvos do ato das centrais (CUT, CTB, Intersindical), sendo chamado de "ladrão" pelo público. Outro criticado, o governador paulista, Geraldo Alckmin, teve um boneco seu exibido no Anhangabaú, com a palavra "merendão", referência ao escândalo do desvio em recursos para merendas escolares no estado.

"Discurso único" - Depois do pronunciamento de Dilma, a manifestação prosseguiu com apresentações musicais. Por volta das 17h, começou o show da banda Detonautas, que ajudou a puxar os coros "não vai ter golpe" e "fora, Cunha". O vocalista, Tico Santa Cruz, usava camisa da União Nacional dos Estudantes (UNE).

"É fundamental que a gente lute também pela democratização das mídias", afirmou, criticando o que chamou de "discurso único" no setor. "Entregar a Presidência para Temer e Cunha e dizer que está lutando contra a corrupção é no mínimo ser ingênuo", acrescentou o cantor. O grupo, que terminou a apresentação pouco depois das 18h, fez citação sobre o impeachment durante a execução de Tempo Perdido, sucesso da Legião Urbana: "Nosso suor sagrado/ É bem mais belo que esse golpe errado". Os Detonautas também tocaram Blues da Piedade, de Cazuza.

Chico César começou a cantar às 18h40, abrindo com Folia de Príncipe, Cálix Bento (Milton Nascimento e Tavinho Moura, uma letra adaptada da Folia de Reis do norte de Minas Gerais) e Mama África, para emendar com Pra não Dizer que não Falei das Flores, de Geraldo Vandré. “É impossível negociar direitos que já foram conquistados, eles devem ser mantidos. Esses direitos estão ameaçados por um parlamento conservador e reacionário que representa o pior da classe patronal na sua faceta mais hedionda”, opinou.

As mais de quatro horas de apresentações foram abertas por Luana Hansen. Mulher negra e lésbica, levou para o público a presença feminina no rap e criticou a tentativa de golpe contra Dilma. “A senzala vai tomar conta e a Casa Grande vai entrar em choque. Vem pra rua e larga essa panela. O pré-sal é nosso e que se exploda o José Serra”.

Durante sua participação, Luana ressaltou a importância da mulher no hip hop e criticou o machismo dentro do movimento. “Eu luto pela mulher no hip hop, que é ainda um segmento machista. Tem muita mulher fazendo rap e elas devem ser respeitadas”.

Se apresentaram também no palco da democracia e contra o golpe os cantores Martinho da Vila, Beth Carvalho e a Banda Pequeno Cidadão.


Redação, com informações de Vitor Nuzzi, da Rede Brasil Atual, e Walber Pinto, da CUT - 2/5/2016
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