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“É uma notícia pior que a outra”, diz bancária

Linha fina
Trabalhadores da Caixa e do Banco do Brasil estão apreensivos com rumores, medidas e intenções do “governo” interino; “mas acho que estão começando a perceber que estão com a corda no pescoço”
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São Paulo – “É um horror. Cada notícia que a gente vê é uma pior que a outra, seja abertura de capital, seja fusão, que é para diminuir número de agência e de empregado. Se for privatizar é horrível, se for abrir capital não é bom, porque é um primeiro passo para a privatização. Ninguém está feliz.”

A declaração de uma empregada da Caixa resume o sentimento de grande parte dos bancários de bancos públicos com as numerosas medidas e intenções – quase todas prejudiciais aos direitos dos trabalhadores e às empresas públicas – anunciadas pelo “governo” do presidente interino Michel Temer, que comanda o país desde 12 maio.

Para fazer resistência às ameaças e aos ataques direcionados aos trabalhadores, os bancários paralisaram as atividades na região da Avenida Paulista, na sexta 10.

O movimento integra o Dia Nacional de Mobilização contra a retirada de direitos convocado pela CUT (Central Única dos Trabalhadores), frentes Brasil Popular e Povo sem Medo. Cerca de 80 unidades estão fechadas e mais de 10 mil bancários participam do protesto.

As agências da Caixa e do Banco do Brasil na Paulista, principal centro financeiro do país, ficaram fechadas, assim como a Superintendência do Banco do Brasil, onde os trabalhadores também estão apreensivos e repudiam a notícia de uma eventual fusão entre ambos os bancos públicos.

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“É muito ruim para os bancários e inviável do ponto de vista das empresas, porque elas têm características diferentes”, afirma um funcionário do BB, que traçou um paralelo entre o atual governo e a era Fernando Henrique Cardoso, marcada pelas privatizações, retiradas de direitos e achatamento salarial.

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“Todas as medidas anunciadas remetem a políticas neoliberais: déficit fiscal para justificar arrocho na Previdência, reformas na CLT [leis trabalhistas] e Previdência, idade maior para se aposentar. Isso é um absurdo. As pessoas vão se aposentar depois de morrer”, ironizou.

Uma colega com 18 anos de banco tem opinião semelhante e também evocou os anos FHC. “São dois bancos fortes, não tem porque fazer fusão, a não ser que seja para fazer caixa para o governo. O pessoal está com medo de que comecem a usar o banco para fazer política. Os mais velhos não querem voltar àquela época em que ficamos oito anos sem reajuste, quando não tínhamos valorização.”

“Banco privado quer lucrar” – Na agência Avenida Paulista da Caixa, dirigentes sindicais reuniram-se com os empregados para explicar os motivos do ato desta sexta-feira.  Ex-funcionário do Banespa, o dirigente Antonio Cortezani lembrou a privatização do banco estatal paulista, vendido para o Santander em 2000 por Fernando Henrique Cardoso – apesar de estadual, o banco tinha sido federalizado – por R$ 19,62 bilhões em valores corrigidos.

“Hoje não sobrou quase ninguém do antigo Banespa. O Santander dizimou o funcionalismo e conseguiu acabar com todas as suas conquistas e direitos. Isso para o funcionário, mas para a sociedade foi terrível também, porque o Banespa financiava o pequeno agricultor, financiava o empresário, fomentava o desenvolvimento do estado, e o banco privado não tem interesse nisso. Ele quer lucrar”, afirma o bancário atualmente empregado do Santander.

“A imprensa está divulgando que a Caixa está quebrada para fragilizar a imagem do banco e convencer a sociedade de que precisa ser vendida, sendo que ela dá lucro”, opinou um bancário após a reunião. “Esse governo é um fantoche dos bancos privados. A Caixa ficou muito popular e isso os incomoda”, acrescentou.

Uma colega lembrou também das intenções do atual governo de diminuir o tamanho do SUS, mexer nos direitos trabalhistas e aumentar a idade para a aposentadoria.

“Ainda falta um pouco de consciência das pessoas para enxergarem com clareza tudo isso, mas acho que estão começando a perceber que estão com a corda no pescoço, não só como empregados do banco, mas também como cidadãos. Já deviam ter percebido antes.”


Rodolfo Wrolli – 10/6/2016

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