São Paulo - Falta de funcionários, sobrecarga de trabalho, metas abusivas e assédio moral. Além de protestar contra a proposta dos bancos, de 0,58% de aumento real, os bancários aproveitaram a greve para deixar claro que as condições de trabalho nas agências e concentrações das instituições financeiras precisam melhorar. E muito!
Um grupo de trabalhadores da Caixa, na região da Paulista, deixou o local de trabalho logo pela manhã. Todos vestiam a camiseta com os dizeres: estamos em greve! Um deles deixou claro: é inadmissível que um dos setores mais lucrativos do país “deixe migalhas para aqueles que trabalharam e ajudaram a garantir esse resultado”. “Eles alegam que a crise internacional afetou os lucros, mas nós sabemos que mesmo com a crise o sistema financeiro foi o que mais lucrou. Não caímos nessa conversa”, completou.
No Banco do Brasil as alegações foram semelhantes. “É um desrespeito. Iremos aderir à greve, pois sabemos que se não for assim é difícil de mudar”, alegou um dos trabalhadores.
“Com tanta sobrecarga de trabalho, esse índice de aumento real de 0,58% é uma piada. Sem falar do VR, que na metade do mês já acaba”, protestou outra bancária do BB, dessa vez no centro da capital. “Dentro do BB, cobram uma jornada de oito horas como se esta fosse a lei, a regra. Nossa jornada é de seis horas”, completou a funcionária.
Outros bancários de uma grande agência da Caixa, na região da Praça da República, aderiram em peso à greve e, em frente ao local, auxiliavam clientes e explicavam os motivos do movimento. “Essa proposta de 0,58% de aumento real é quase uma provocação dos bancos. É totalmente desproporcional aos lucros que têm. Ganham muito e não querem valorizar os trabalhadores.”
Outro, com 23 anos na Caixa, reclamou do aumento da sobrecarga de trabalho e da carência de pessoal na instituição. Segundo ele, desde que a Caixa começou a baixar os juros para conquistar maior número de clientes o trabalho aumentou sem que houvesse contratações suficientes. “Aumentou a demanda e o que o banco faz? Ao invés de contratar mais bancários, afasta os clientes mais pobres das agências. Coloca um funcionário pra, dependendo do que a pessoa vai fazer na agência, barrar na porta e mandar para as casas lotéricas. Se o valor de um depósito for pequeno, nem isso eles deixam fazer nos caixas de autoatendimento”, denunciou.
Um funcionário do Bradesco de uma agência na zona leste ressaltava a diferença entre o reajuste proposto para os bancários de 6% e o de 9% para os executivos. “Não entendo a razão dessa diferença. Nós é que fazemos a diferença e geramos esse lucro”, afirmou.
Alimentação – Uma bancária do Itaú cobrava outra reivindicação. “Os lucros dos bancos são tão altos que os vales alimentação e refeição deveriam aumentar sem nenhuma reivindicação, até mais de uma vez por ano.”
Outra trabalhadora lembrava que a refeição no Centro sempre ultrapassa R$ 20. “O vale nunca dura o mês inteiro e preciso trazer comida, mas o preço do alimento [no supermercado] subiu muito, então tenho prejuízo de qualquer forma.”
Cliente – A greve dos bancários também é por melhor atendimento à população, lembrou um bancário da Caixa. “Essa greve é para os bancários, mas para a população também, que sofre na fila dos caixas com a falta de funcionários. Queremos que o lucro seja repartido entre os trabalhadores, mas que promova benefícios para os clientes também.”
Mesmo com dificuldades de pagar as contas vencidas, o cliente Marcelo Santos compreendeu e apoiou o movimento grevista. Para ele, é justo que os trabalhadores lutem pelo seu direito paralisando os serviços quando necessário. “Eu apoio a greve, pois é complicado você trabalhar, suar, se dedicar e no final de tudo não ganhar aquilo que você merece”, disse, ao ressaltar que daria um jeito de pagar as suas contas e desejando boa sorte aos bancários nessa luta.
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Gisele Coutinho, Tatiana Melim e Carlos Fernandes - 18/9/2012
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