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“Você constrói carreira, o banco destrói em minutos”

Linha fina
Metas cumpridas com esforço e em troca da própria saúde, horas extras não pagas e, como retorno, centenas de demitidos pelo Santander. Bancários que compareceram ao Sindicato contam suas histórias
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São Paulo – Desde o começo de dezembro, a movimentação no Sindicato de bancários dispensados pelo Santander é grande (foto). O clima é de tristeza e revolta, mas o sentimento é interrompido pela luta de trabalhadores e dirigentes sindicais, que, juntos, se organizaram para a segunda audiência de conciliação com o banco, no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 2ª Região, realizada na terça 11.

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Na primeira, o mesmo TRT deferiu liminar ingressada pelo Sindicato e suspendeu, a partir desta quinta-feira 6, todas as demissões sem justa causa feitas pelo banco em São Paulo, Osasco e região. A decisão foi da desembargadora Rilma Aparecida Hemetério.

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Entre os demitidos, estão funcionários com mais de 20 anos de banco, outros com menos de cinco anos de casa, alguns com doença ocupacional, soropositivo, adoecidos por conta de estresse. A maioria, com ótimo desempenho segundo as próprias avaliações do Santander.

O trabalhador Rodolfo Pereira (nome fictício para preservar a identidade do bancário) entrou na instituição financeira como estagiário em 2005. Bom funcionário, foi contratado e trabalhava em um dos centros administrativos do banco, sempre com boas avaliações. Para alcançar as metas impostas pelo Santander, precisou superar vários desafios. “Era muita pressão. Os funcionários eram expostos, com e-mails com o ranking dividido com quatro colocações. O resto passava por chacotas, eram constrangidos. Eu sempre bati minhas metas, mas o índice sempre aumentava e o banco nunca estava satisfeito com os números, queria sempre mais e mais”.

O trabalhador informa que durante as visitas feitas aos clientes, o veículo utilizado era sempre seu carro. Sem falar das horas extras que nunca foram computadas. “Atendia clientes fora, reuniões se estendiam, poderia ser um café da manhã ou algo no fim do dia. Éramos orientados a não bater cartão e, em algumas vezes a marcar o ponto e voltar ao trabalho sem receber hora extra”, relata.

No dia 3, a fatídica segunda-feira das demissões em São Paulo, Rodolfo foi dispensado. “Vi o movimento de demissões, mas eu estava tranquilo por conta das minhas boas avaliações. Fiquei um pouco chocado com a dispensa, por conta de todos os compromissos e dívidas. Acabei de adquirir um imóvel e isso me preocupa muito, pois para esse negócio eu já utilizei parte do meu fundo de garantia”.

No mesmo dia 3, o bancário há 31 anos Francisco Moreira, que dedicou cinco dessa carreira ao Santander, também foi demitido. Ele ocupava cargo de gerência em uma agência da zona norte e era outro muito cobrado por metas. “Tinha de bater meta de R$ 1 milhão em empréstimos por mês. Era impossível, ainda mais por conta do perfil da agência, que fica na periferia da cidade, e sofri muita ameaça no Santander para cumprir metas. Fui surpreendido com esse jeito de cobrar os funcionários, com esse modelo de gestão”.

Francisco poderia ter adoecido por conta da pressão, mas superou o modelo de gestão e fez um bom trabalho, ensinando jovens bancários com cargos acima do seu. “Muitas vezes eu chegava em casa perturbado, com dificuldades para me comunicar com minha família, com comportamento agressivo, muito tenso e irritado, só pensava nas metas”, relata. “Mas conseguia desempenhar muito bem meu trabalho. Por isso acho muito complicado o banco tomar essa decisão e não reconhecer o que você fez. Houve um descaso muito grande”.

Francisco se emociona ao falar sobre a segunda-feira, no momento da sua dispensa. “Fiquei sem fala. Não conseguia assinar (a demissão), nem raciocinar. Me senti muito mal, fiquei envergonhado, isso me machucou. Liguei do caminho para minha esposa e fui pra casa.  A gente fica sem rumo, sem destino. Você constrói uma carreira, demora anos para realizar isso. O banco te destrói em poucos minutos”.

Quando tomou conhecimento de que se tratava de demissão em massa, ficou revoltado. “Me dei conta do desrespeito do banco com o trabalhador brasileiro. Ele não mandou embora por conta de performance ou competência, está faltando respeito com o nosso país. Na situação que estamos hoje, com boa economia, é vergonhoso um banco estrangeiro fazer isso por aqui. Não teve critério”, opina.

Apoio aos bancários - “Nunca precisei tanto do Sindicato como hoje. Esse apoio é essencial. Ficamos meio perdidos e o Sindicato está nos auxiliando, independentemente de ganhar ou não esta ação, sabemos que não estamos sendo jogados no lixo como o banco está fazendo”, conta Francisco após uma reunião ao lado de dezenas de bancários demitidos na sede do Sindicato, na segunda 10.

Os trabalhadores demitidos do Santander podem esclarecer dúvidas pelo 3188-5200. Também é possível enviar relatos e fazer denúncias pelo Fale Conosco. Clique aqui e escolha o setor “site”.


Gisele Coutinho – 10/12/2012
(Atualizado às 20h25 de 11/12/2012)

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