São Paulo - “O mais fantástico é que o Lehman Brothers quebra e ninguém vai preso, enquanto o banco recebe os bilhões que os países nunca recebem no mundo.” O senso de humor e a pertinência do ex-presidente Lula fizeram do encerramento do fórum internacional para o progresso social Escolher o crescimento, sair da crise, realizado em Paris, em 12 de dezembro, um momento particular.
Lula criticou os banqueiros e o fato de gozarem de impunidade absoluta nesses tempos de crise internacional em que os que pagam por ela não são os mesmos que a criaram.
O ex-presidente lembrou que a crise “é responsabilidade de um monte de desconhecidos” e perguntou ao público se alguém tinha visto na televisão a “cara de algum banqueiro”. “Não”, respondeu, e voltou a perguntar: “sabem por quê? Porque é o banqueiro que paga a propaganda”.
A intervenção remete a casos de irresponsabilidade por parte de administrações de instituições financeiras, que, com suas fraudes, contribuíram para intensificar a atual crise internacional, iniciada em 2008.
O caso do Lehman Brothers é emblemático, pois marca o desabar da centenária instituição como o símbolo de um colapso econômico que já dura quatro anos. No dia 15 de setembro de 2008 foi anunciada a falência do então quarto maior banco do mundo. Assim como ele, diversos outros no mundo quebraram ou passaram por dificuldades e tiveram de ser “salvos”, assim como o Bear Stearns, que havia quebrado e foi adquirido pelo JP Morgan, numa operação de resgate com aportes de “pai para filho” – US$ 236 milhões – fornecidos pelo FED (Federal Reserve), sistema de bancos centrais dos Estados Unidos (EUA).
Durante esse período, o desemprego atingiu milhões de pessoas no mundo; o total de famintos ultrapassou a marca de um bilhão de pessoas; milhares de empresas quebraram; outras milhares de famílias sofrem pelo colapso social que ronda diversos países.
Caso Madoff – Os exemplos da irresponsabilidade das instituições financeiras não são poucos. Em 2008, as acusações de fraude envolvendo a sociedade de investimento do ex-presidente da Nasdaq Bernard Madoff, de Wall Street, atingiram grandes bancos, entre eles o HSBC e o Santander, que também atuam no Brasil.
O esquema provocou perdas de US$ 50 bilhões (R$ 100 bilhões) para investidores de diversas partes do mundo. Madoff prometia retornos altos e fixos, mas os ganhos, em vez de virem de rendimentos das aplicações, vinham da entrada de novos clientes. Com a crise internacional, houve tentativa em massa de resgate do dinheiro para aplicações, o que acabou por trazer à tona a fraude.
Na época, Santander e HSBC anunciaram perdas de 2,33 milhões de euros e 1 bilhão de dólares, respectivamente. O Itaú também foi condenado em ação ligada ao caso Madoff, como representante do incorporado BankBoston. Com isso, teve de arcar com os prejuízos e pagar R$ 176,8 mil referentes ao dano material sofrido por um cliente lesado.
Opportunity – Quem se recorda do banqueiro Daniel Dantas (foto à esquerda)? Dono do banco Opportunity, foi indiciado, em 2008, pela Operação Satiagraha, da Polícia Federal, por crimes de lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta de instituição financeira, evasão de divisas, sonegação fiscal, formação de quadrilha e empréstimo vedado.
Na época, o banqueiro chegou a ser condenado a 10 anos de prisão pela tentativa de suborno a um delegado durante a operação. Dantas teria oferecido US$ 1 milhão para que seu nome e o de integrantes do Opportunity fossem retirados do inquérito. Foi nessa ocasião que recebeu dois habbeas corpus do ministro Gilmar Mendes para ser solto.
Em 2011, a pena foi anulada pelo Superior Tribunal de Justiça, mas o processo permanece ativo no Judiciário. Além disso, o banqueiro é acusado de lavagem de dinheiro no Reino Unido e nos EUA.
Outros casos – São diversos os casos de gestão fraudulenta de instituições financeiras. Banco Santos, Panamericano são exemplos de bancos que quebraram e tiveram empresários indiciados ou presos, como aconteceu mais recentemente no Cruzeiro do Sul e seu ex-presidente Índio da Costa. Ele foi preso pela Polícia Federal em 22 de outubro por crimes contra o sistema financeiro, o mercado de capitais e lavagem de dinheiro. A prisão preventiva decretada pela Justiça foi resultado de inquérito aberto para apurar as fraudes contábeis apontadas pelo Banco Central no Cruzeiro do Sul. No dia 9 de novembro, o ex-presidente foi solto.
Tatiana Melim – 14/12/2012
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Fala do ex-presidente remete a casos de irresponsabilidade por parte de administrações, que contribuíram para o aprofundamento da crise financeira e cobra “é preciso distribuir para crescer”
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