São Paulo - A presidenta Dilma Rousseff assumiu compromisso, com dirigentes da CUT (Central Única dos Trabalhadores), de receber a agenda da classe trabalhadora. Redução da jornada de trabalho sem redução de salário (40 horas semanais), fim do fator previdenciário, reformas tributária e agrária, e ratificação das convenções 151 e 158 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) estão entre os temas da pauta.
Em reunião na terça 5, a presidenta da República ressaltou a importância da Central Única dos Trabalhadores – “a CUT chegou onde chegou porque teve um olhar para a sociedade como um todo” – e valorizou a interlocução com os movimentos sociais para continuar o processo de transformação social do Brasil.
Além da pauta da classe trabalhadora, Dilma se comprometeu a receber uma comissão de sindicalistas de todas as centrais que participarão da marcha do dia 6 de março, em Brasília.
De acordo com o presidente da CUT, Vagner Freitas, no que diz respeito ao sistema financeiro, Dilma concordou com a proposta sugerida pelos bancários de realizar uma conferência nacional para debater o setor. “Ela não só concordou como sugeriu que seja ampliada para discutir também os direitos dos consumidores”, contou.
Vagner pediu ainda que a presidenta ajudasse o movimento sindical a ter espaço na próxima reunião da cúpula do G20, que acontece nos dias 5 e 6 de setembro, em São Petersburgo, na Rússia.
Com o que a presidenta Dilma se comprometeu em relação ao sistema financeiro e à proposta defendida pelos bancários no Congresso da CUT?
Foi solicitada à presidenta a realização de uma conferência sobre o sistema financeiro, assim como as várias que o governo tem feito com a participação da sociedade. No Congresso da CUT, a proposta dos bancários era a realização desse debate. E ela não só concordou com a ideia como sugeriu que seja ampliada para discutir também os direitos dos consumidores. É o juro alto do cartão de crédito, as tarifas exorbitantes, o atendimento que o banco oferece aos clientes.
Nós, inclusive, já fizemos uma cartilha no passado em conjunto com o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) sobre os direitos dos consumidores no setor bancário, mostrando que o setor financeiro precisa prestar serviços de qualidade.
Uma questão importante é o crescimento da classe média provocada pelas políticas dos governos Lula e Dilma. Essa classe média necessita que os serviços contratados funcionem corretamente, principalmente no setor financeiro, com crescimento da demanda por esse atendimento.
A proposta da conferência, então, acontecerá junto às negociações a partir de 6 de março, quando as pautas dos trabalhadores serão entregues ao governo?
A presidenta determinou que o seminário já começasse a ser construído. Perguntamos quem do governo acompanharia o processo, o que muito provavelmente será feito pela Secretaria-Geral da Presidência, com o ministro Gilberto Carvalho, a quem vamos procurar nos próximos dias para começar a construir esse grande seminário.
E o que foi acordado com relação às propostas que irão compor a pauta da marcha do dia 6?
Buscaremos, junto com as demais centrais, resgatar a pauta que nós construímos em 2010, na Assembleia Nacional da Classe Trabalhadora, realizada no estádio do Pacaembu (foto). Portanto, vamos fazer uma grande Marcha a Brasília para levar as reivindicações. Uma das demandas das centrais sindicais era de que a Dilma recebesse a carta pessoalmente, e ela se prontificou a fazer. E, por solicitação da CUT, irá receber, no final da marcha, os presidentes de todas as centrais.
Nós temos a pretensão de que isso seja o início de uma negociação em torno das reivindicações que nós temos, fundamentalmente, em relação à terceirização; redução da jornada de trabalho; fim do fator previdenciário; ratificação das convenções 151 - que trata da negociação no serviço público - e 158 - sobre rotatividade no mercado de trabalho - e as reformas agrária e tributária, que são extremamente importantes. A ideia é iniciarmos uma negociação a partir do dia 6, assim que ela receber a pauta, para darmos desfecho no 1º de maio, caso a negociação formal avance.
Qual a importância do G20 para o movimento sindical?
O G20 se tornou um fórum importante de decisões, mas não tem o menor olhar para as questões relativas ao mundo do trabalho. Debate uma série de questões, como desenvolvimento, meio ambiente, acordos comerciais, e não discute o mundo do trabalho. Numa crise financeira global, em que uma série de decisões são tomadas, algumas medidas que às vezes o G20 toma acabam culpando o trabalhador pela crise e, geralmente, são conservadoras, com demissão e corte de investimento. Então, temos reivindicado que o G20 tenha um capítulo que fale sobre isso, além de um espaço para observadores do mundo do trabalho, assim como tem a OIT (Organização Internacional do Trabalho).
Daí a importância do compromisso da presidenta de articular uma participação do movimento sindical no próximo encontro da cúpula?
Pedimos e a presidenta Dilma concordou plenamente em ajudar para que o movimento sindical possa ter uma fala na próxima reunião da cúpula do G20. Ela disse que seria nossa chanceler e se comprometeu também a propor que os trabalhadores tenham uma cadeira como observadores. Isso é muito importante, pois é um fórum de decisão das políticas públicas dos diversos países do mundo.
Leia mais
> Comissão da Verdade terá capítulo sobre trabalhadores
Tatiana Melim - 6/2/2013
Linha fina
Em entrevista à Folha Bancária, presidente da CUT, Vagner Freitas, fala também que presidenta vai receber pauta dos trabalhadores e apoia presença dos trabalhadores na reunião do G20
Imagem Destaque