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Abaixo à ditadura e pelas liberdades democráticas

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São Paulo - Funcionário do antigo Banespa, hoje controlado pelo Santander, Luiz Gushiken sucedeu Augusto Campos na direção do Sindicato após a retomada.

> Página especial com as entrevistas dos 90 anos

A primeira experiência foi como cipeiro. “A agência passava por reforma e eu infernizava a vida do gerente para que os trabalhadores não ficassem expostos à sujeira e ao barulho. Acredito que essa primeira experiência tenha sido o embrião sobre o que faria mais tarde”, lembra.

Foi durante uma assembleia com funcionários do extinto Comind (Banco do Comércio e Indústria) que diz ter sido pego de surpresa por um colega que lançou sua candidatura a deputado federal constituinte. Foi eleito e ocupou cadeira na Câmara dos Deputados por três mandatos consecutivos (1987- 1998). Gushiken foi chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Como você passou a atuar no movimento sindical?
Comecei a militância política por influência de uma prima, estudante de Ciências Sociais, que tinha acesso a livros proibidos pela ditadura, como o Manifesto do Partido Comunista. Lia tudo com muito interesse. Por minha atuação como cipeiro na agência do Brás, virei referência dos funcionários nos problemas relativos a condições de trabalho. Passei a discutir as questões sindicais a partir de conversas com colegas do banco ligados a uma corrente política chamada Libelu (Liberdade e Luta). E na categoria bancária tinha muitas pessoas da Libelu que passaram a organizar a oposição bancária. Havia também o Augusto Campos, de outra tendência. Posteriormente, saí dessa corrente e prossegui na direção da entidade. Depois convenci o Gilmar Carneiro, que estudava comigo na faculdade Getúlio Vargas a vir para a oposição bancária.

Como foram construídas as greves quando aquele grupo de oposição passou a dirigir o Sindicato?
Tivemos muitas greves vitoriosas, mas também greves frustradas. A de 1978, por exemplo, ocorreu a partir de atitude corajosa de nossa parte que colocamos em votação a troca da mesa, composta pela então diretoria do Sindicato, que conduziria assembleia na Casa de Portugal. Trocamos a direção da mesa e iniciamos o movimento no dia seguinte com o lema “Braços cruzados, máquinas paradas”, inspirados pelos metalúrgicos do ABC. O escriturário chegava ao Sindicato de moto para ajudar na greve e nós o devolvíamos para a agência para ficar de braços cruzados. Foi uma greve frustrada, mas que nos ensinou a produzir depois, lá em 1985, um movimento mais organizado. E também da greve de 1978 surgiram pessoas com espírito de luta e que chamamos para compor a chapa de oposição para disputar a eleição no ano seguinte.

Por que a greve de 1985 é considerada histórica por muitos bancários?
Fizemos várias greves, mas a de 1985 foi emblemática, pois ocorreu no país inteiro. Ela foi fruto de muita organização política, com adesão de toda a sociedade. Fizemos com antecedência várias conversas no Congresso Nacional, com o Comandante do 2º Exército em São Paulo, que veio logo perguntando: "O que vocês querem?". " Primeiro queria que o senhor observasse o que estamos reivindicando dos bancos, pois a situação que se encontram os bancários é crítica, e que compreendesse que não há como não sair greve, é inevitável, e gostaríamos que o Exército não interviesse". Ele disse: "Tudo bem, façam a greve de vocês". Colocamos esse encontro no jornal e encorajamos toda a categoria. Foi uma grande articulação política. Houve adesão de todos, inclusive de quem não era da oposição bancária. No interior tinha a federação de bancários do estado de São Paulo, sob comando de Eriberto, e coloquei para ele três pontos: a sede do comando de greve seria na federação, haveria data única para as assembleias para iniciar a greve em todo o país ao mesmo tempo e eu não disputaria holofote com ele. Foi um pacto muito bem costurado. Tanto que, no terceiro dia de greve, quando o Tribunal Regional do Trabalho fez a proposta, em plena assembleia na Praça da Sé, o Eriberto veio para mim e disse: deixa eu ir lá para anunciar a proposta. Puxa vida, pensei, agora a diretoria vai me matar. Falei: vá. Ele foi e apresentou a proposta. Fui muito criticado por isso, mas era importante que houvesse essas alianças para que a greve fosse vitoriosa.

Como foi o movimento pelas Diretas Já?
O Sindicato tinha uma diferença em relação aos demais. Era um grupo de pessoas com formação política ou que se destacaram na greve de 1978. Assim, nossas palavras de ordem para disputar as eleições na entidade eram: abaixo à ditadura e pelas liberdades democráticas. Não eram palavras do ambiente sindical, mas que faziam parte do contexto político nacional e que ganhou adesão de vários setores que não eram bancários, mas viam em nós um movimento contrário à ditadura militar. Embora fosse um período diferente ao de 1968 a 1976, quando se prendeu, torturou e matou muita gente, ainda era uma ditadura. E também a partir de nossa vitória na eleição do Sindicato, o Augusto incentivou para que apoiássemos as oposições bancárias em todo o país e passamos a ganhar mais espaço. E essa foi uma das razões que permitiu o nascimento das Diretas Já. Tem muita gente que não reconhece o papel do movimento sindical, mas foi ele que ofereceu as condições necessárias para a elite, classe média e partidos políticos terem a convicção de que havia espaço para derrubar a ditadura.

Como surgiam as pautas que eram apresentadas aos bancos na mesa de negociação?
Do contato diário com a categoria. Nosso Sindicato foi o primeiro a ter em sua pauta o auxílio-refeição, pois a maioria dos bancários trabalhava no Centro e tinha de almoçar nos restaurantes. Aí inventamos de pedir ajuda alimentação, que veio em forma de tíquete e, posteriormente, passou a ser reivindicado por outras categorias em escala nacional. Mas isso não foi fácil. Fizemos pratos gigantescos, frutas enormes, talheres imensos e passamos a percorrer as ruas do calçadão. Esse esforço visual era muito apreciado pela categoria, ia uma bandinha, faziam teatro de rua. Mecanismo de entretenimento para que a reivindicação fosse feita de forma mais criativa. Era uma coisa nova, ninguém fazia isso no sindicalismo brasileiro.

De que outra forma vocês chamavam atenção dos bancários para as reivindicações?
Era um Sindicato muito democrático. Tinha uma comissão de mobilização que, às vezes, decidia fazer comício e, como as pessoas não gostavam muito disso, eu falava, parecendo aquelas pessoas que fazem sermão e ninguém para. Mas sabe que isso marcou? Pois muitos anos depois pessoas me paravam para dizer que se lembravam de mim em cima de um banquinho e com um megafone na mão. Aliás, como o megafone era muito fraco, contratei um engenheiro para melhorar o som e ele deu a ideia de usar um gerador de camping. Colocamos rodinhas nele e passamos a percorrer o centro. Fazia um barulho infernal, depois vieram os caminhões de som, também via gerador. Outra coisa que fiz foi colocar impressos com tabela de reajuste salarial na entrada do Sindicato. Primeiro coloquei 500 e antes do almoço tinha acabado. Imprimi mais mil e foi que nem água. Perguntei o que estava ocorrendo e o pessoal me disse que os bancários levavam aos montes para distribuir na agência. Bom, vi que o bancário gostava daquilo e passamos a colocar as tabelas também na nossa Folha Bancária.

Qual o papel dos bancários na criação da CUT?
Os bancários tiveram um papel muito importante na fundação da Central Única dos Trabalhadores. Depois de tudo que vínhamos fazendo, ganhando eleições com sindicatos de oposição bancária em várias partes do país e nossa resistência à ditadura, éramos muito respeitados no movimento sindical. E essa representatividade nacional de nossa categoria foi fundamental para a expressão nacional que a central passou a ter desde sua fundação. Além disso, conseguimos que fosse aprovada a nossa tese, a dos bancários, para que a central fosse constituída e que tivesse a organização que perdura até os dias atuais.


Jair Silva - 15/4/2013

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