São Paulo – Foi dada a largada pela luta por valorização dos funcionários do Itaú. A campanha é lançada nesta quinta-feira 18, em meio à revolta dos bancários com as péssimas condições de trabalho no Itaú e com o descaso da direção do banco em resolver os problemas. Uma série de atividades organizadas pelo Sindicato estão previstas para esta quinta em agências da instituição financeira.
O mote da Campanha de Valorização dos Funcionários, “Esse Cara Sou Eu”, foi inspirado na música de Roberto Carlos. “Esse cara é você, bancário e a bancária do Itaú que só pensa em cumprir metas pelo Agir, sempre com medo de perder o emprego. Que deixa de lado estudos e a família, que aceita o horário estendido, que sofre para bater as metas, que encara perigos como assaltos e doenças”, ressalta a diretora do Sindicato Valeska Pincovai.
Atualmente, até mesmo os caixas da instituição financeira são cobrados diariamente por metas. “No entanto, funcionários com esse cargo não recebem nenhum centavo do programa, mas são cobrados para vender uma cesta de produtos cada vez maior e não demorar no atendimento”, relata a dirigente.
> Muitos problemas, poucas soluções
O Itaú é a maior instituição financeira do país em patrimônio líquido e o segundo maior em ativos. O banco cortou postos de trabalho e demitiu cerca de 8 mil trabalhadores em 2012. O acúmulo de trabalho e as excessivas cobranças de metas viraram pesadelo na rotina dos funcionários do banco. O fim das metas para caixas, fim das demissões, o Agir com regras claras, simples e alcançáveis e que todos recebam, sem discriminação, além do fim do horário estendido são as principais reivindicações da campanha de valorização.
O sonho virou pesadelo – Os gerentes do Itaú receberam recentemente um e-mail da direção do banco sobre metas. O nome usado para o aumento das metas é “sonho grande”. A solicitação é que os gerentes refaçam seus planejamentos estratégicos para cumprir as metas. No e-mail, a direção do banco diz precisar de ajuda para uma virada do jogo em todas as plataformas Uniclass e agências e consideram haver “dispersão” entre as regionais.
A diretora do Sindicato Márcia Basqueira alerta para o sofrimento que gerentes de agências de pequeno porte estão vivendo. “Muitas vezes esses locais não têm estrutura mínima necessária para executar um trabalho mediano quanto mais terem o tal do ‘sonho grande’. A situação gera angústia e causa adoecimento. É um prejuízo para o banco, situação contrária ao que a instituição financeira almeja.”
Em conversa com uma bancária, a dirigente sindical ouviu o seguinte desabafo: “Sempre sonhei em trabalhar em uma das maiores empresas do planeta. Sonhei tão grande que foram vários meses de teste, enfim consegui. Anos se passaram, aprendi muito. Porém, hoje só tenho pesadelos. Pesadelos que tiram minha saúde, minhas alegrias e até o sonho de continuar no banco”.
Márcia Basqueira alerta que pessoas de liderança estão tendo cargo rebaixado. “E a situação é ainda pior. Tanto funcionários quanto clientes são prejudicados com o modelo de agência virar loja, de bancários tornarem-se vendedores.”
Trilhas para onde? – Outra denúncia feita por bancários do Itaú é sobre a implementação da ferramenta Trilhas de Carreira. Segundo relato de alguns trabalhadores, o funcionário ganha nota de 1 a 5 sobre seu desempenho. É levada em consideração na avaliação a produtividade (vendas de crédito, produtos, consignado, PIC, seguros e afins). Quem fica abaixo da média 3 está “inapto” e pode ser demitido. Já os acima da nota 5 são indicados a promoções. “Já temos relatos de funcionários que saíram de férias e tiveram uma surpresa no retorno. Notas abaixo de 3. Como seguir essa regra da avaliação de metas para alguém que ficou um mês fora da agência exercendo seu direito garantido por lei de tirar férias, e pode ganhar em troca uma demissão? A situação é inadmissível”, protesta Márcia.
Funcionários do segmento empresa também denunciaram que quem vai sair de férias está sendo pressionado para cumprir a meta em apenas dez dias. “Eles são obrigados a cumprir a meta total do mês sem levar em consideração se aproveitarão 20 ou 30 dias de férias”, ressalta a dirigente sindical.
Para a diretora, o programa serve como uma “trilha para o adoecimento”, por conta da pressão exacerbada contra os funcionários. “Falta organização mais eficiente e sofisticada dentro do banco, que vise, de fato, a execução de um bom trabalho e atendimento que os clientes merecem. Fica muito complicado com tamanha pressão e acúmulo de trabalho por conta do foco maior do Itaú hoje ser a venda de produtos”, finaliza Márcia Basqueira.
Os absurdos vividos pelos trabalhadores do Itaú inspirou um talentoso e criativo bancário, que terá sua identidade preservada, a escrever uma letra parodiando o sucesso de Roberto Carlos.
Gisele Coutinho – 18/4/2013
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Funcionários do segundo maior banco do país estão insatisfeitos e lançam Campanha de Valorização com alvo no programa Agir, pelo fim do horário estendido entre outras reivindicações
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