São Paulo – Desde o ano passado, além de cumprir as metas cada vez maiores do programa de remuneração Agir, funcionários do Itaú também precisam adivinhar se o cliente honrará suas dívidas. É desta forma que funciona o POC (Perda com Operações de Crédito).
Um dos itens, que penaliza o trabalhador na avaliação semestral ou na “vocação agência", determina que mesmo que o bancário cumpra os itens acima da meta estipulada, pode ficar sem a remuneração variável caso o cliente torne-se um devedor.
Para a dirigente sindical Marcia Basqueira a regra não faz sentido. “Alguns superintendentes, não satisfeitos em cobrar a grade do Agir, que já é alta, de 1.000 pontos, estabelecem metas de 1.200 pontos para varejo e 1.400 para Uniclass. E os bancários ainda têm de se responsabilizar se clientes pagarão ou não?”, ressalta, explicando que a prática é mais uma manobra da instituição financeira para pagar menos variável.
“Não é possível adivinhar como estará a situação financeira de um cliente daqui a alguns meses. Os gerentes não decidem pela concessão de crédito sozinhos. Por quê precisam ser penalizados desta forma?. O Itaú, além de possuir PDD (Provisão para Devedores Duvidosos), avalia os riscos do negócio. Quem tem de pagar pela inadimplência é o banco, não o funcionário”, contesta a diretora do Sindicato.
Carteira - De janeiro a março deste ano, a carteira de crédito do Itaú subiu 1,5% em relação ao mesmo período de 2012. A inadimplência caiu de forma significativa, chegando a 4,5% contra 5,1% um ano atrás (0,6 p.p.), sendo de 7,5% para 6,7% para pessoa física e, para pessoa jurídica, de 3,3% para 2,9%. “Esse índice em queda é positivo para o banco e mais uma justificativa para mudar as regras do POC, aplicadas nas metas cumpridas pelos bancários a troco de muita pressão”, ressalta Marcia.
Outra dificuldade enfrentada pelos bancários é manter o alto desempenho de aumento de crédito, atingindo metas cada vez mais altas, mesmo com menos funcionários tolerando a sobrecarga de trabalho. O lucro líquido do primeiro trimestre foi de R$ 3,472 bilhões, o que representa um crescimento de 1,4% em relação ao mesmo período de 2012. No entanto, de janeiro a março de 2013 o Itaú cortou nada menos que 708 postos de trabalho, chegando a um total de 89.615 empregados no Brasil. Em um ano, a redução de vagas de emprego foi de 6.679.
Luta por valorização – Regras claras, simples e alcançáveis no Agir. Esse é um dos eixos da campanha de valorização dos funcionários do Itaú lançada em abril pelo Sindicato. As reivindicações já foram entregues ao banco, mas continuam sem resposta alguma. O mote da campanha é “Esse Cara Sou Eu”, inspirado na música de Roberto Carlos. “Na música tema da campanha nós damos exemplos do que bancárias e bancários passam em seu dia a dia. Eles só pensam em cumprir metas pelo Agir, sempre com medo de perder o emprego, mas por conta de regras que só beneficiam o banco, como o POC, o trabalhador termina o mês angustiado por não receber pelo que vendeu”, conclui Márcia.
Gisele Coutinho – 7/6/2013
Linha fina
Funcionários são cobrados pelo Agir e mesmo cumprindo 150% das metas, são penalizados pelas regras injustas que beneficiam apenas o instituição financeira. Sindicato cobra clareza no programa próprio
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