São Paulo – O que os bancos chamam de "ajuste muito pequeno" está transtornando a rotina dos bancários. Foi assim que a Fenaban classificou, na rodada de negociação da Campanha Nacional (leia mais), nesta quinta 15, a demissão de milhares de funcionários que resulta em acúmulo de tarefas para quem fica.
Somente no primeiro semestre deste ano, foram extintos 1.957 postos de trabalho (dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, o Caged). Se levados em conta somente os bancos múltiplos com carteira comercial (ou seja, fora a Caixa), o saldo negativo de empregos chega a 4.890 no período.
Dentro da categoria, são inúmeros os casos de funcionários que se veem obrigados a acumular funções diante da demissão de colegas. A bancária Ana é um exemplo. Ela trabalha no departamento do SAC que faz o atendimento inicial e direciona a reclamação para outro setor, que tem de apurar o caso. Ana conta que no final do ano passado muita gente desse segundo setor, que tem salários maiores, foi demitida e até hoje não houve novas contratações.
“Por causa disso, eu e meus colegas temos que acumular as funções dos dois departamentos, mas a gente recebe o mesmo salário para fazer a função de quem estava no outro setor – que paga mais –, além da nossa função original. Quando recebemos muitas ligações de clientes, somos proibidos de sair para comer e até de ir ao banheiro.”
O caso de Ana ilustra uma realidade cada vez mais comum nos bancos: funcionários que ganham mais são substituídos por trabalhadores de remunerações mais baixas, que se veem obrigados a assumir mais funções, sem aumento de salário. Assim, os bancos lucram por meio das demissões.
Demissões – Entre os meses de junho de 2012 e de 2013, o Itaú eliminou 4.458 vagas. No mesmo período, o Santander cortou 3.216 postos; o Bradesco, 2.580. O BB reduziu 276 empregos. Somente a Caixa contratou: 7.423 entre março de 2012 e de 2013.
No departamento do bancário João trabalhavam 80 pessoas há dois anos. Atualmente o quadro está reduzido pela metade, mas, segundo ele, as metas continuam as mesmas.
“Se antes já eram difíceis de ser atingidas, hoje elas são praticamente impossíveis. Temos que trabalhar por dois, o que está gerando muitos casos de adoecimento, tanto por LER/Dort como por doenças psíquicas. Ainda somos ameaçados constantemente de demissão, o que gera um estresse muito grande”, desabafa o bancário.
“É esse quadro que queremos mudar. As demissões nos bancos estão diretamente relacionadas às más condições de trabalho que adoecem”, afirma a presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira, uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários, que se reúne nas rodadas de negociação com os bancos.
“Reduzem os postos de trabalho num cenário de ampliação de contas, aumento das operações de crédito. Os bancários têm dificuldade até para almoçar, ir ao banheiro. Isso tem de acabar. Os bancos continuam lucrando muito, cobramos que parem de demitir e contratem mais”, completa Juvandia.
Claudia Motta e Rodolfo Wrolli - 16/8/2013
Linha fina
Enquanto bancos minimizam fechamento de quase 2 mil postos de trabalho em apenas seis meses, funcionários remanescentes acumulam funções sem aumento de salário e adoecem
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