São Paulo – Os bancários do setor de crédito imobiliário do Banco do Brasil protagonizaram uma admirável cena de resistência na manhã desta quinta-feira 3. Mesmo com o acionamento da Polícia Militar e a apresentação de um interdito proibitório – artifício jurídico que possibilita aos bancos tentar burlar o direito de greve – os funcionários, inclusive gerentes, permaneceram firmes e se recusaram a abandonar a paralisação.
A resposta lacônica mas eloquente de um bancário pode ajudar a compreender a atitude presenciada em frente ao prédio que o banco público alugou para contingenciar os funcionários daquele setor: “Está todo mundo de saco cheio!”.
O curioso é que o interdito foi solicitado não pelo Banco do Brasil, mas pela Sion, empresa contratada pelo BB para gerenciar seu ambicioso e milionário projeto de contingenciamento. Ou seja, em um banco onde a contratação de terceiros ganha cada vez mais terreno, até uma tentativa de desrespeito à greve foi terceirizada.
A ameaça de terceirização, inclusive, é um dos principais motivos de descontentamento dos funcionários do Banco do Brasil, mas não o único. “A coação por meio do descomissionamento é constante, qualquer coisa é motivo para anotação na avaliação de desempenho profissional, e eles usam isso para justificar o descomissionamento lá na frente”, conta um bancário.
Outro aponta as cobranças por metas como um dos maiores problemas enfrentados atualmente. “Pegam o chicote, saem batendo e acham que essa é uma boa estratégia de gestão, mas não percebem que isso causa o efeito contrário, porque é essa política que gera venda casada, reclamação no Banco Central, e por aí vai.”
Ele lembra o caso de um colega que, para atingir a meta, vendeu um plano de previdência privada para a mãe de 70 anos. “Os funcionários de agência querem sair e trabalhar em setores de área meio, porque ninguém aguenta a pressão por metas”, ressalta.
Um outro culpou a atual diretoria e o despreparo dos superiores pela degradação das condições de trabalho. “Sou funcionário do BB há 20 anos e as coisas só pioraram de lá para cá. Para mim o banco está falido e esse lucro de R$ 10 bilhões que eles anunciaram é uma ilusão.”
Outro demonstrou seu desânimo com a empresa. “Antes de ser bancário era metalúrgico, ganhava mais, tinha hora extra, aqui eu nunca ganhei hora extra”, afirmou.
Ao observar a cena que se formou em frente ao contingenciamento do BB, outro trabalhador filosofou: “Esse é um efeito interessante da greve. Bancários e gestores estão agora no meio da rua, no mesmo nível: os gestores impotentes, sem saber o que fazer, e recebendo ordens de alguém em Brasília, em uma sala confortável, sentado em uma poltrona de couro. É curioso."
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Rodolfo Wrolli - 3/10/2013
Linha fina
Mesmo com tentativa de desmobilização por via judicial, funcionários se recusam a abandonar greve
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