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Bradesco Prime paralisado pela terceira vez

Linha fina
Bancários do setor responsável pelas grandes movimentações financeiras do Bradesco rechaçam 0,97% de aumento real e criticam dificuldade de mobilidade profissional
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São Paulo – “Tá tudo parado. Nova Central, Santa Cecilia, Alphaville, aqui... Não sei o que fazer”, dizia pelo celular um gestor do Bradesco Prime. A frase sintetiza a estratégia adotada na greve na manhã desta terça-feira 8 – que priorizou os centros administrativos e operacionais dos bancos –, mas também mostra a disposição de resistência, luta e adesão dos bancários em prol de uma proposta de reajuste digna. E isso no vigésimo dia de paralisação.

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“Acho que este ano a greve está mais forte, está atingindo os setores que têm que ser atingidos para paralisar o banco”, disse outra funcionária do Prime. Para ela, “a greve é necessária para que os bancos aceitem negociar”, completou.

Pela terceira vez desde o início do movimento, o Bradesco Prime teve suas atividades paralisadas. A concentração, localizada na Avenida Paulista, em São Paulo, administra as grandes movimentações financeiras da holding e conta com cerca de 1.850 funcionários. Muitos deles estão insatisfeitos com a gestão do setor, principalmente no que se refere à mobilidade profissional.

“É muito difícil ascender profissionalmente. Promoção aqui significa aumento de responsabilidades, e não de salário”, dizia uma bancária. Para outro funcionário, as promoções privilegiam os já privilegiados. “Quando surge uma oportunidade, as pessoas que se formaram em uma faculdade menos reconhecida já são de cara descartadas. Só dão oportunidade para os de berço.”

Auxílio-educação – Os bancários do Prime também se queixam da falta de investimento na qualificação profissional. “Para subir de cargo eles exigem pós-graduação, mestrado, MBA, mas não ajudam com um centavo sequer.” Outra conta que apenas com o salário é difícil pagar um curso. “O valor do MBA que eu queria fazer é 90% do meu salário. Como o banco quer que eu me qualifique?”, questiona.

Coerência e valorização – As discrepâncias salariais para as mesmas funções também são motivo de revolta para os trabalhadores da concentração. “Tem gente que faz o mesmo serviço, mas ganha quase o dobro. E isso é mais comum com os profissionais que vieram de outros bancos.” Outra bancária completou: “O Bradesco tem essa política de carreira fechada, mas na hora do vamos ver, dão aumento de salário para os que vieram de fora. Cadê a coerência e a valorização?”.

Dignidade e respeito – Obviamente, o aumento real de menos de 1% proposto pela Fenaban também foi motivo de achincalhamento pelos funcionários do Prime. “Parece que estão tirando com a nossa cara”, resumiu um.

Para outro, o sistema financeiro é responsável pelo que chamou de injustiça. “Capitalismo é isso, é o lucro acima de tudo, mas eles têm que ver o lado humano. Merecemos dignidade e respeito”, afirmou.

A diretora executiva do Sindicato Neiva Ribeiro lembrou que só com o dinheiro que o Bradesco arrecada com as tarifas cobradas dos clientes é possível pagar 135% da folha salarial do banco. “Os bancos podem apresentar uma proposta melhor e que não irá prejudicar seus resultados. Com isso as pessoas vão trabalhar mais satisfeitas. O que não dá é aceitar esse reajuste.”

Ao comentar o aumento real de 0,97% oferecido pela Fenaban, outro bancário foi mais enfático. “Arrisco dizer que nem o tráfico de drogas lucra tanto quanto os bancos, mas a diferença é que o tráfico é menos desonesto”, brincou.

Outro analisou. “Uma aplicação no banco rende 1% ao mês, mas ele cobra 15% de juros no cartão de crédito. Um setor com essa lógica vai respeitar quem? Só com greve mesmo para eles entenderem”, desabafou.

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Rodolfo Wrolli - 8/10/2013

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