São Paulo – “Ele era um democrata radical, no sentido da diversidade, tolerância, pluralidade, da bondade na relação humana e pessoal, que se misturava com a política. A política é uma mistura de sangue e poesia. Com Gushiken eu conheci mais a poesia do que o sangue, apesar dos sofrimentos e das dores que nós convivemos conjuntamente.”
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Assim o ex-deputado federal José Genoíno define o companheiro de luta Luiz Gushiken em vídeo lançado na noite de quarta-feira 11, durante evento em homenagem ao ex-presidente do Sindicato, deputado federal constituinte e ministro do governo Lula, morto em 13 de setembro.
A cerimônia Memória Sindical, realizada pelo escritório de advocacia trabalhista Crivelli Advogados Associados, reuniu lideranças do movimento sindical, do Partido dos Trabalhadores (PT), amigos e parentes de Luiz Gushiken, no Instituto Tomie Ohtake, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo. “Gushiken já faz parte da história do Brasil, da história do PT, sendo um dos seus fundadores. Mas também teve uma importância fundamental para a formação de uma nova geração de advogados comprometidos com os trabalhadores. O papel único que o movimento sindical bancário desenvolve hoje na sociedade, atuando muito além das questões específicas da categoria, encontra sua semente em lideranças como Luiz Gushiken e Augusto Campos”, afirmou o advogado Ericson Crivelli, na abertura do evento.
Augusto Campos, que assumiu a presidência do Sindicato em 1979, antecedendo Gushiken no cargo, fez parte da mesa de abertura: “O mais importante de toda essa turma era o nível de politização. A gente não tinha medo da ditadura. Medo físico sim, todo mundo tinha, mas a gente nunca vacilou”, disse Campos, ao lembrar das lutas travadas em todo o país pela retomada das entidades sindicais. “Saíamos apoiando a resistência sindical para tirar os sindicatos das mãos dos pelegos. E na categoria bancária tivemos a felicidade de contar com pessoas como Gushiken nesse movimento. O baixinho era uma praga, quando acordava com a macaca saía organizando sindicatos no país inteiro”, disse, provocando o riso da plateia.
Também na mesa de abertura, a presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira, lembrou da última vez que viu Gushiken, em visita ao hospital onde ele estava internado, nos últimos dias de sua luta de mais de dez anos contra um câncer de estômago. “Ele muito lúcido, falando de política, do Brasil... pensei: como ele é incrível, se preocupando com o país mesmo naquele momento. Para mim é um orgulho ser o resultado da luta de homens como Gushiken e Augusto.” Juvandia também recordou seu primeiro encontro com o ex-presidente do Sindicato, em sua casa: “Saí de lá com uma caixa de documentos com atas de reuniões da época da ditadura, e ele me explicava: aqui a gente desenhou os princípios da CUT, aqui como deveria ser a construção de um novo país...”
Outro a também se despedir do ex-ministro no hospital, o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, brincou: “Saí de lá com 788 tarefas que ele me deu para implementar”. E acrescentou: “Nunca esqueço uma coisa que escutei dele, que mais importante que o que a gente já viveu e já conquistou, é o que a gente ainda tem que construir. Isso é o Gushiken, essa vontade de vida”.
Em nome da família, o filho mais velho, Guilherme Gushiken, 30, encerrou os discursos: “Quando penso no meu pai me vem à cabeça uma pessoa alegre, feliz. Em nenhum momento ele entrou em depressão. Tinha paixão pela vida, por conhecer coisas novas. Sempre conseguiu enxergar o lado positivo das coisas, o copo sempre meio cheio e nunca meio vazio. Mas essa homenagem não é só ao meu pai. É também uma forma de resgatar a história do país e de homenagear todos que lutaram por seus ideais. Minha geração tem que se espelhar em pessoas como vocês”.
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Andrea Ponte Souza - 12/12/13
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Cerimônia reuniu lideranças políticas, amigos e parentes em tributo ao ex-presidente do Sindicato
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