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Desrespeito marca demissão em massa no Banif

Linha fina
Banco português dispensa 40 empregados ao mesmo tempo em que contrata novos funcionários; dentre os demitidos está um bancário com cirurgia marcada
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São Paulo – A crise financeira que assola o continente europeu desde 2010 afetou o banco português Banif (Banco Internacional do Funchal). Em 2014, os trabalhadores brasileiros sentiram as consequências. A instituição demitiu 40 bancários, cerca de um terço da mão de obra no Brasil.

A indiferença, o pouco caso e a desinformação marcaram o processo, segundo relatos de bancários. “O clima antes das demissões era terrível, uma verdadeira tortura psicológica”, conta uma funcionária demitida no processo.

“Ao mesmo tempo em que corriam os boatos sobre demissão em massa, novas pessoas eram contratadas e muitos funcionários tiveram suas funções retiradas e passadas para outros, sem nenhuma explicação”, conta.

O anúncio da demissão veio na segunda-feira 31 de março. Os funcionários foram reunidos em grupos de 10 a 15 pessoas para serem informados sobre as dispensas.

“Cada grupo ouviu uma justificativa. Para uns falaram em reestruturação, para outros disseram que não sabiam se o banco chegaria até o segundo semestre. Fomos tratados com profundo pouco caso e indiferença, como se fossemos os responsáveis pelos problemas do banco”, desabafa a bancária.

Ela conta que essa não é a primeira demissão em massa. Em 2012 houve o mesmo processo. “Os diretores só pensam nos números. Parece que não sabem que estão lidando com pessoas que batalharam para estar lá. Foi uma tortura, agiram dessa forma desnecessariamente. De que adianta demitir pessoas que ganham o piso sendo que um diretor ganha salário maior do que todos que foram mandados embora?”

Cirurgia marcada – O desrespeito chegou ao cúmulo de um bancário ter sido demitido mesmo com cirurgia marcada. Ao saber da operação, o setor de RH obrigou o funcionário a realizar às pressas o exame periódico com o médico do trabalho, que o considerou apto para exercer suas funções.

A demissão veio poucos dias depois. Em face da situação, o empregado procurou o Sindicato, que entrou em contato com o Banif questionando tal procedimento. Após a cobrança, o funcionário foi convocado para o exame demissional, que o considerou inapto para o trabalho em razão de sua lesão na coluna.

“Esse resultado impedira o bancário de ser demitido”, ressalta a secretária-geral do Sindicato, Raquel Kacelnikas. “O Banif não respeitou o resultado do exame demissional e manteve a dispensa, com base no exame periódico. Nós não fizemos a homologação e estamos pressionando o banco para que reveja este desrespeito ao seu funcionário e às leis brasileiras”, afirma Raquel.

O bancário assegura que após a nova cirurgia pretende entrar com ação judicial por danos morais. “Já avisei o mercado, mandei comunicado para todos os meus clientes da minha saída e vou processar o banco, vou atrás dos meus direitos. É uma sacanagem esse banco. Tratam muito mal os seus funcionários.”

Ele já precisou passar por uma operação, em 2011, também na coluna. “Tenho esse problema por causa do trabalho no banco. Ficava sentado 12, 15 horas por dia. Um mês depois de operar eu já estava viajando de avião a trabalho, sendo que eu não poderia. E agora quiseram me demitir sem considerar que adoeci por causa do trabalho.”

Sobrecarga para quem fica – Para os funcionários remanescentes, resta a missão de cumprir suas tarefas, além de acumular as funções dos demitidos.

“O Sindicato está acompanhado o processo e vai ficar de olho nos desdobramentos dessa situação, mesmo porque já foram relatadas mais demissões”, afirma Raquel.

Na Europa – Os cortes de postos de trabalho no Banif não são exclusivos do Brasil. Recentemente a instituição lusitana anunciou o fechamento de 60 agências até ao final deste ano e a demissão de 300 pessoas na Europa.

Desde 2012, ano em que pediu intervenção estatal, 611 funcionários já deixaram o Banif. Com a saída de mais 300, o quadro se reduzirá para 2 mil funcionários. Em março, o banco recebeu uma ajuda de € 700 milhões do Estado português.



Rodolfo Wrolli – 16/4/2014

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