São Paulo – No segundo dia da greve nacional dos bancários o ITM também parou. A concentração do Itaú reúne cerca de 4 mil bancários responsáveis pelas operações de call center como cobrança, atendimento de cartão de crédito, ao cliente, central de gerentes. E o descontentamento no centro administrativo é proporcional às suas grandes dimensões, sobretudo com as onipresentes e inatingíveis metas.
> Greve dobra e cobra proposta
“São metas impossíveis de alcançar. Por exemplo, preciso vender R$ 2,5 milhões em investimento. E somos demitidos se não batemos a meta por três meses, então a gente vive sempre nessa tensão de perder o emprego. É muito ruim”, relata uma bancária da central de gerentes.
Na central de cobrança, as metas são igualmente absurdas. “Temos que resgatar R$ 900 mil por mês dos clientes que ligam para o banco. No setor de cobrança ativa a meta é ainda maior e ultrapassa R$ 1 milhão”, afirma um bancário do departamento.
“É meta, meta, meta, meta e se não vender, está na rua. É pressão em cima de pressão. Ou você faz, ou você faz. Tenho depressão, síndrome do pânico, tomo remédio tarja preta há dois anos. Antes de começar o tratamento começava a chorar e tremia só de pensar que ia ter que voltar para cá. Não conseguia nem sair da cama”, relata outra funcionária.
Cobranças – E onde há metas abusivas, há também cobranças desumanas, muitas vezes via celular, o que inclusive desrespeita a Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) assinada pela Fenaban, por meio da qual os bancos se comprometeram a coibir esse tipo de prática.
“Meu gestor montou um grupo no WhatsApp com toda a equipe e fica cobrando as metas da gente. Também recebemos direto cobranças por SMS. É um saco”, relatou uma funcionária.
Outra conta que nem o Facebook está a salvo. “Os supervisores adicionam no Facebook para rastrear o que postamos, o que curtimos, quem adicionamos, com quem tiramos foto. A marcação é cerrada.”
Mais um desrespeito à CCT praticado pelos gestores do ITM é a exposição de rankings de venda. “Mandam e-mail para todo mundo falando: Fulano foi o que mais vendeu, parabéns. Sicrano, você ficou em último, vamos melhorar esse mês.”
Desrespeito à greve – As redes sociais também são utilizadas para forçar os bancários a desrespeitar o direito de greve. “Já no domingo mandaram a gente ficar de olho no celular para o caso de comunicarem outro local de trabalho. Obrigam a gente a ir para o contingenciamento pelo SMS, WhatsApp”, informou um funcionário.
Valorização – Os bancários do ITM também se queixam da falta de valorização. “Acho que têm que dar mais oportunidades para quem tem mais tempo de banco. Eu gosto de ser bancária, gosto de verdade, mas sinto falta de ser mais valorizada. Se os salários subissem, as pessoas trabalhariam com mais vontade, produziriam mais, teriam mais ideias”, relata uma bancária.
Vales – O valor dos vales é outro motivo de descontentamento. “Tenho um filho pequeno e no mês passado gastei R$ 317 só com as coisas que comprei para ele, como fralda e comida para a merenda escolar. O vale-alimentação deveria ter o mesmo valor do vale-refeição (atualmente em R$ 509,96)”, diz.
E acrescenta que o valor do auxílio-creche também tem de subir. “A escola do meu filho custa R$ 700, fora a perua escolar. É quase o valor de um aluguel. Com um salário de R$ 1.600 fica impossível viver com dignidade. Enquanto isso os diretores ganham R$ 7 milhões de bônus.”
Jornada de trabalho – O trabalho no call center obriga a uma jornada que praticamente proíbe o trabalhador de levantar-se da cadeira, o que também é motivo de muita revolta no ITM. “Tem gente doente de tanto ficar sentado, com dor nas costas, estressado porque não pode ir ao banheiro ou tomar água”, relata um funcionário.
“Não dá nem pra tomar água sem encherem o saco por causa do horário”, reforça outro.
“Eu entro às 8h30. Antes minha pausa era às 10h. Agora passaram para as 11h30, ou seja, tenho que ficar logado durante três horas sem poder me levantar. E se deslogo para ir ao banheiro ou tomar água, descontam esse tempo da minha pausa de descanso.”
“Se estouramos em um minuto os 15 de descanso por dia, isso fica registrado e no final do ano ficamos sem receber pelo programa Agir”, acrescenta um colega.
Rodolfo Wrolli – 1º/10/2014
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Trabalhadores do Centro administrativo que abriga call center do Itaú convivem com jornadas degradantes, cobranças exageradas, metas desumanas, desrespeito ao direito de greve
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