São Paulo – “Eu, como bancária, estou extremamente preocupada com o segundo turno da eleição para presidente. Se o Aécio Neves vencer, certamente iremos reviver aquele período de recessão, desemprego, salários congelados e demissões, dentre outros dissabores que vivenciamos no governo do Fernando Henrique. O Aécio chamou para ministro o mesmo Armínio Fraga da era FHC... O risco de privatização do Banco do Brasil e da Caixa é altíssimo pois já era planejado no governo do PSDB daquela época.” A carta, encaminhada ao Sindicato por uma bancária, solicita providências à sua entidade representativa. “Peço o empenho deste sindicato em alertar os bancários sobre estes fatos, pois muitos são novos e não viveram aquele período difícil e também não tem noção do risco que correm os bancos públicos. Os mais velhos, que viveram aquela época, é bom que sejam lembrados.”
E é exatamente isso que solicitam outros trabalhadores que enviam suas mensagens. “Sra. presidenta Juvandia, peço que publique o conteúdo deste email em toda mídia possível...” O bancário da Caixa Federal lembra que “essa eleição nos afeta de forma profunda, pois os projetos que estão colocados pelos dois candidatos colocam de forma clara qual vai ser o papel dos bancos públicos e qual vai ser a relação de trabalho do governo com os empregados desses bancos, em cada um dos projetos”.
O trabalhador está particularmente preocupado com a redução do papel dos bancos do governo. “Isso pode e deve significar redução de empregos (RH 008), fechamentos de agências (redução de funções), e até mesmo privatização dos bancos públicos. Temos na memória dos empregados que foram admitidos na Caixa até o ano de 2002, nos tempos em que o país era governado pelo PSDB, como era nossa relação de trabalho com a empresa: oito anos sem reajuste salarial; arrocho salarial dos empregados, pensionistas e aposentados; assédio moral sem precedentes; falta total de condições de trabalho; terceirização de todos os serviços; criação da discriminação na Caixa com novo PCS para os admitidos pós 98, sem qualquer direito trabalhista.”
E reforça “os perigos que estamos correndo com essa eleição”. “Podemos voltar a uma era de trevas, onde não lutávamos mais por ganho real de salário, melhores condições de trabalho, entre outras lutas que travamos agora; mas sim por manter a Caixa uma empresa pública e manter os nossos empregos.”
Interesse em números - O interesse no assunto se reflete em números. A reportagem sobre a declaração de Armínio Fraga, guru econômico de Aécio Neves, de que “talvez não sobre muito dos bancos públicos” caso o PSDB volte, é a quarta mais lida no site do Sindicato desde que foi publicada. Logo atrás, a sexta mais lida, compara as perdas salarias da categoria nos anos FHC, especialmente nos bancos públicos (quadro à esquerda), com os aumentos reais das gestões Lula e Dilma.
> "Talvez não sobre muito dos bancos públicos", diz Armínio Fraga
> Ganho real da categoria supera os 20%, mas nem sempre foi assim
Os dados mostram também a preocupação da categoria com as demissões e o arrocho dos anos 90. Matéria sobre esse tema foi a 14ª mais lida desde o mesmo 10 de outubro, em um universo de cerca de 80 publicadas.
> Demissão e arrocho resumem anos 90
O mesmo vale para as veiculadas no dia 16. De lá para cá, essa mesma matéria que você está lendo, sobre as cartas dos bancários, é a quarta mais lida. As sobre a política econômica recessiva do PSDB e parcialidade da imprensa no pleito, também estão entre as que suscitaram mais interesse.
> Política econômica do PSDB pode reviver recessão
> Eleição: postura da grande mídia justifica reforma
Memórias de um filho – André Honor não é bancário, mas filho de um. E atravessou a adolescência nos anos FHC. O sofrimento do pai, caixa do Banco do Brasil, está cravado na sua memória.
Num depoimento emocionado publicado no seu Facebook e que circula entre os funcionários do banco público, lembra “de um ano que explicam todo o meu sentimento”.
Caçula de uma família de três irmãos, viu o pai ter de escolher entre sair da instituição num programa de demissão voluntária ou pedir transferência. “Havia um prazo para isso. Não sei ao certo o que aconteceria se o prazo estourasse. Notícias vinham de suicídio de colegas de banco, e de funcionários que tinham sido transferidos para longe de suas famílias. História mais tristes que a minha...”
A família foi dividida. O pai e a mãe foram do Crato (CE) para Conceição (PB). Os filhos, cada um para um lugar: um ficou no Crato, a irmão em João Pessoa, André em Barbalha com uma tia.
“Ao fim do ano de 1995, eu e meu irmão fomos morar com minha irmã em João Pessoa. Tinha 14 anos. Cedo demais. Alguma coisa havia se quebrado. A adolescência gritava e eu tinha de ser adulto. E assim foi.”
Para orgulho dos pais, André entrou para a faculdade de História em 2002. “Vi uma UFPB renascer das cinzas. De falta de professores, de salas, equipamento, para uma universidade que, em 2006, o departamento de História rejeitou computadores porque já não necessitava. E abriram o mestrado. E surgiu o Reuni e a oportunidade do doutorado. Bolsa-sanduíche em Lisboa. Concluí o doutorado em História em Dezembro de 2013. E não creio que tenha sido mérito pessoal. Meu esforço conta, mas se não fosse a política do PT não teria tido a chance.”
E destaca: “Talvez você não se comova com nenhuma dessas palavras. Mesmo com os dentes trincados, respeito isso. Mas nunca duvide da minha dor genuína e do fato que o PSDB desmanchou a minha família e o PT a reconstruiu nesses últimos doze anos. Desejo do fundo do meu coração, que oxalá a sua não passe pelo que passou a minha. Não seja ingênuo. A política move o mundo. Ninguém, nesse mundo de capitalistas, tem direito a nada. Nem mesmo oportunidades. O PT deu essa oportunidade. E é hora de reconhecermos isso, para lutarmos por mais”.
Redação - 16/10/2014
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Relatos enviados por bancários ao Sindicato lembram os tristes anos do governo do PSDB para a categoria e pedem divulgação do que não se lê na imprensa tradicional
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