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Cortejo afro reverencia mulheres guerreiras

Linha fina
Ato organizado pelo Sindicato percorre ruas do centro da capital paulista para celebrar Dia da Consciência Negra e marcar posição contra preconceito racial
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São Paulo – Pelo 14º ano consecutivo o Cortejo Afro, organizado pelo Sindicato, percorreu as ruas do centro da capital em celebração ao Dia da Consciência Negra, 20 de novembro. A data é feriado municipal, por isso o evento ocorreu na terça-feira 19, saindo ao meio-dia da sede do Sindicato, na Rua São Bento, em direção à Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no Largo do Paissandu.

> Fotos: galeria do 14º Cortejo Afro

O cortejo teve como tema Candaces, Mulheres Guerreiras, homenagem a uma dinastia de amazonas negras que viviam ao sul do Egito, local conhecido como Etiópia, denominação na antiguidade da região do continente africano onde habitavam os povos negros. As rainhas candaces formavam uma sociedade matrilinear.

O evento prestou ainda homenagem à escritora Carolina Maria de Jesus, cujo centenário de nascimento é comemorado este ano, e a Iemanjá, a orixá do candomblé que rege o ano de 2014.

O dirigente sindical e coordenador do coletivo racial do Sindicato, Julio Cesar Santos, ressaltou a necessidade de evidenciar para a sociedade a importância do povo negro e da união entre os povos. “É inaceitável vivermos em um país onde exista tanta desigualdade entre as etnias. Infelizmente, nos dias atuais, vemos também a manifestação de outro fator: a xenofobia com os irmãos africanos e africanas que vivem no nosso país, e isso deve ser combatido”, afirmou.

O cortejo - Cânticos africanos entoados pela interprete Célia Nascimento, ao batuque dos Filhos de Mãe Preta, ecoaram pelas ruas centrais de São Paulo, atraindo olhares admirados e orgulhosos no percurso que foi pela Rua São Bento, Praça do Patriarca, Viaduto do Chá, Rua Conselheiro Crispiniano, até o Largo do Paissandu, onde teve sua apoteose.

“Estou achando tudo isso muito lindo”, exclamou a auxiliar administrativa Ana Carolina Gouveia. “Sinto muito orgulho da minha raça, porque é o ponto de partida de todas as outras raças. É muito importante essa data para lembrar Zumbi, mas acho que consciência negra deveria ser todos os dias e não só em novembro.”

A dona de casa Dulcineia dos Santos não se segurou e entrou no ritmo do batuque . “O Dia da Consciência Negra é importante para lembrar as nossas raízes, nossas origens e para espantar o racismo. Xô preconceito!”, bradou.

Opinião semelhante tem a cabelereira Joice Oliveira, que contemplava o ato no Viaduto do Chá. “Nossa história é muito sofrida, nossos ancestrais foram escravizados, demoramos muito para conquistar nosso espaço. Ainda falta muito, mas hoje, com muita luta e esforço próprio, conseguimos cursar uma faculdade, comprar uma casa. A nossa história é muito bonita, de superação, por isso tenho muito orgulho de ser negra”, declarou.

Em uma bela demonstração de tolerância e sincretismo religioso, característico do Brasil, o ato viveu seu ápice quando os atabaques, acompanhando os cânticos africanos, adentraram a Igreja Nossa Senhora dos Homens Pretos, onde um ato ecumênico, conduzido por uma irmã, reverenciou os nomes de diversas outras mulheres de luta.  

  “Antonieta, primeira deputada da história do Brasil”, conclamava Vanilda Silvério, integrante da Irmandade do Rosário, que mantém a igreja. “Presente!”, respondia o público. “Clementina de Jesus, a voz que ecoou pelo mundo”, “Maria Firmino dos Reis, a primeira mulher literária”, “Anastácia, símbolo de luta do povo negro do Brasil”, “Santa Efigênia, da terra da Etiópia, na África.” A todas o povo respondia: “Presente!”.

Ao fim do ato ecumênico, o cortejo se dispersou em frente ao templo construído no início do século passado por trabalhadores negros. “Que os orixás nos iluminem para que o entendimento reine hoje e sempre. Axé! Amém! E que assim seja”, desejou a cantora Célia Nascimento.


Rodolfo Wrolli – 19/11/2014

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