São Paulo – A renda pessoal de pelo menos um em cada três paulistanos diminuiu ao longo de 2017. É o que aponta a pesquisa Viver em São Paulo, realizada pelo Ibope a pedido da Rede Nossa São Paulo. A queda no rendimento é sentida, principalmente, entre os mais pobres (renda familiar até dois salários mínimos) e a classe média (até cinco salários). Quase a metade (47%) afirmou que seus ganhos mantiveram-se estáveis. Apenas os mais ricos, em faixa de renda superior a R$ 4.685 por mês, perceberam aumento nos rendimentos.
O Ibope entrevistou mais de 800 paulistanos para identificar as percepções da população sobre trabalho e renda na cidade ao longo do ano passado. Os resultados foram apresentados na quarta-feira 21 em evento no Sesc Bom Retiro.
A queda de rendimento é mais grave na zona leste da capital, que concentra praticamente um terço da população paulistana. Desses, 40% afirmam que ficaram mais pobres no último ano. Do outro lado, na zona oeste, concentra-se o maior grupo (18%) que diz que seus ganhos subiram no mesmo período.
O coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo e do Programa Cidades Sustentáveis, Jorge Abrahão, destacou que normalmente se entende o tema da renda e do trabalho como ligado à esfera federal de governo, mas é preciso discutir também o papel do poder público local, ainda mais em uma cidade rica, como São Paulo. "É a grande questão dos governos locais, em decidir para onde vão os recursos, para quem se governa. Estamos no momento de investir mais nos espaços desiguais. É preciso coragem aos governos", afirmou.
Trabalho – Duas em cada 10 pessoas entrevistadas disseram estar desempregadas, levando a uma taxa estimada de 18%, exatamente a mesma média de 2017 da pesquisa Dieese/Seade, que abrange a região metropolitana. O desemprego estimado corresponde a 1.763.454 paulistanos em busca de trabalho. Desses 18%, 14% continuam procurando e 4% desistiram. Entre os que seguem à procura, quase a metade (47%) está desempregada há mais de um ano.
A falta de trabalho atinge majoritariamente pretos e pardos (59%) e mulheres (58%). A maior parte dos desempregados está entre os menos instruídos (43%), com famílias que ganham até dois salários mínimos e moram nas zonas leste e sul da capital (37%).
Os trabalhadores com carteira somam menos de um terço dos paulistanos (29%). Outros 23% são autônomos ou trabalham por conta própria, 4% são empresários ou profissionais liberais e 3% são funcionários públicos.
Desigualdades regionais – Entre os empregados, a maioria (63%) trabalha na mesma região em que mora, A percepção geral, contudo, é um pouco diferente, na medida em que 45% dos entrevistados afirmam não perceber oportunidades de emprego na região onde vivem.
A secretária de Trabalho e Empreendedorismo da Prefeitura de São Paulo, Aline Cardoso, apontou a necessidade da atuação do poder público para fomentar o desenvolvimento econômico nas periferias que, segundo ela, sofrem de se um círculo vicioso. "Quanto mais pobreza, mais desemprego. As pessoas não têm dinheiro para consumir, o que agrava ainda mais a situação."
Segundo ela, estimular o emprego regional é a saída para garantir maior qualidade de vida para a população. "As pessoas estão gastando dinheiro com condução, não têm qualidade de vida e provavelmente vivem com a vontade de mudar de região."
A situação é mais grave na zona leste, onde a maioria (53%) diz não encontrar nenhuma oportunidade de trabalho na região. O centro é apontado com a região com a maior oferta de oportunidades, seguido pela zona oeste.
"A gente sabe que a zona leste foi idealizada para ser principalmente uma região de moradia", ressaltou Alex Borges, do Banco Comunitário União Sampaio, que disse ainda que as pessoas das periferias não são pobres, mas "empobrecidas", porque obrigadas a se deslocar para trabalhar, acabam realizado a maioria dos seus gastos fora das regiões em que habitam.
Ele destacou que a atuação do banco visa a justamente corrigir em partes essas distorções, garantindo o financiamento para empreendimentos nas periferias, de modo a garantir a criação de empregos, sobretudo para a população mais jovem, os mais atingidos pela violência.
Gastos – Alimentação e moradia foram apontadas pelos paulistanos como as principais despesas no dia a dia. Gastos com comida preocupam mais as mulheres e as faixas de população acima dos 45 anos, enquanto custos com habitação foram destacados por aqueles que têm entre 25 e 44 anos. Gastos com saúde foram indicados pelos mais velhos e escolarizados, e para um em cada 10 jovens a educação é o gasto mais importante.
Para a criadora da Feira Preta, Adriana Barbosa, que também atua na incubação e aceleração de empreendimentos com a população negra, a concentração de gastos em alimentação, moradia e saúde demonstra que se trabalha a maior parte do tempo apenas para sobreviver. "Quando chega à população negra, essa situação fica mais gritante." Ela destacou o avanço da participação da população negra nas empresas, nos últimos anos, mas apenas em cargos subalternos, e ressaltou a quase inexistência de negros e negras nos escalões superiores, onde se concentram os maiores rendimentos.