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Chapéu
Golpe

Filme desnuda as mentiras que levaram ao impeachment de Dilma

Linha fina
Cineasta Maria Augusta conversou com o Portal CUT sobre ‘O Processo’, que estreou na quinta 17 em todo país. No documentário, ela mostra o que a CUT denuncia há dois anos: não foi impeachment, foi golpe
Imagem Destaque

Brasília, Senado, 29 de agosto de 2016, Dilma Rousseff fala em sua defesa aos senadores: “Caso eu seja condenada, sem crime de responsabilidade, estará ocorrendo no Brasil um golpe”. E ocorreu. Dois dias depois.

Foi um golpe jurídico, político e midiático mostrado ao Brasil e ao mundo pelas lentes turvas de uma imprensa parcial, usada como porta-voz dos golpistas e seus patrocinadores, para fazer o impeachment parecer legítimo e obediente aos ritos constitucionais, mas não foi.

Foi golpe, mesmo que somente agora, quase dois anos depois, seja enxergado dessa forma por boa parte dos que pediram “Fora Dilma”, enfrentados pela multidão que foi às ruas defender a presidenta.

Desconstruir essa visão falseada que foi passada à sociedade é justamente o que o filme O Processo, produzido e dirigido pela cineasta Maria Augusta Ramos, faz. A obra concede ao Brasil e à comunidade internacional a oportunidade de ver a realidade dos fatos e seus bastidores, sem paixões nem edição, e confirmar (ou concluir) que Dilma foi, sim, apeada da Presidência da República por meio de um golpe, e não de um processo legítimo.

“Gostei muito. Tudo foi bem relatado, mas o nome do filme deveria ser 'O Golpe' e não 'O Processo'”, opinou o aposentado José Viana Santos, de 86 anos, que, na noite de quinta-feira 17, assistiu ao documentário no CineSesc Augusta, em São Paulo, ao lado da mulher, Maria Augusta Santos, de 87 anos. Fazia 60 anos que o casal, apaixonado por Dilma e Lula, não ia ao cinema.

“O filme tem uma proposta de cinema reflexivo, de retratar a realidade na sua complexidade, nas suas diversas narrativas e, finalmente, ele dá voz aos argumentos da esquerda, contrários ao impeachment, algo que não aconteceu até agora. E faz isso de uma maneira correta, respeitosa”, definiu a cineasta Maria Augusta Ramos.

Ela falou ao Portal CUT na tarde de quinta-feira 17, dia em que O Processo estreou nas salas de cinema de todo o país. Uma fala que, talvez, explique e responda ao reparo feito pelo aposentado José Santos ao nome do filme.

A diretora admite que “o documentário não é isento, porque não existe obra isenta”. Essa é a afirmação que Maria Augusta repete aos seus entrevistadores desde que O Processo foi eleito pelo público entre os três melhores filmes do Festival de Berlim – palco do seu lançamento – onde foi aplaudido de pé.

“O documentário é uma visão subjetiva, que foi construída de forma cinematográfica e fez uma releitura de todo o processo, à luz dos fatos”, completa.

Premiado em três festivais internacionais de Cinema, o documentário, que desconstrói o impeachment de Dilma, tem lotado salas, sob aplausos e elogios, por onde passa. Também lotou as ruas da região central de Curitiba (PR), ao ser exibido em praça pública, no 1º de Maio nacional e unificado, organizado pela CUT, demais centrais sindicais e movimentos populares em defesa da democracia, dos direitos da classe trabalhadora e da liberdade de Lula para disputar a Presidência da República.

Emoção

“As pessoas têm saído do cinema emocionadas, comovidas”, afirma Maria Augusta. A diretora acredita que a boa repercussão e recepção do público, “acima das expectativas”, mostra que o filme, além do valor documental de retratar fatos reais sem apontar um lado, tem recebido valor cinematográfico.

A cineasta reconhece que não é um filme feito só para iniciados, militantes, petistas, esquerdistas. Avaliação que a chamada “crítica especializada” parece concordar porque foi quase unânime em elogios ao documentário, com destaque para esse aspecto.

Maria Augusta afirma que o impeachment foi golpe, mas destaca que o seu documentário mostra diferentes versões e visões “focadas no processo político-jurídico”. “Porque o filme se deu em torno dos fatos desse processo, das razões, das contradições”.

O documentário, diz a cineasta, “vai além da militância, não é panfletário”. “Não foi feito só no interesse de falar à militância que lutou contra o impeachment da presidenta, porque ele contempla os dois argumentos (pró e contra) e se propõe a nos levar a refletir”, define a diretora.

E completa: “O filme nos leva a questionar, é uma releitura que se propõe a ser uma obra aberta, por meio da qual cada um vai ver e rever o que aconteceu e enxergar as coisas que não foram capazes de captar naquele momento, no calor dos fatos”.

O retorno do público mostra que O Processo foi bem entendido. Várias pessoas procuraram a cineasta para dizer o quanto gostaram do filme. Esse gostar, segundo Maria Augusta, foi ainda mais declarado do público fora do Brasil, porque “não tinha nenhum acesso a informações sobre o impeachment, além das que recebiam via mídia (comercial)”.

Localizados à esquerda neste Brasil polarizado pela mentira do impeachment e abatido pela verdade do golpe, o casal José e Maria dos Santos confirma a fala da cineasta ao elogiar o filme, mas faz vários “reparos”.

Além da expectativa de um tom mais militante, os dois queriam ter visto Dilma falando mais com o povo; Lula discursando (ele aparece, mas não é entrevistado); a presidenta mostrada de uma forma “menos neutra” e que a luta contra o impeachment feita pela CUT e movimentos sociais não tivesse sido “resumida“ a bandeiras e o muro da vergonha em frente ao Congresso Nacional. Os dois, porém, aprovaram e aplaudiram O Processo por desnudar o golpe.

“O filme prova que Dilma não fez nada de mal, nada de errado. Ela e o Lula foram uma dupla muito boa para nós, para os pobres, para todos os brasileiros. Eu gosto da Dilma porque ela é uma mulher segura. Nem por tantas injúrias e injustiças que fizeram com ela, se achou derrotada", disse Maria dos Santos.

"Dilma foi muito valente e tem minha admiração e respeito, porque se saiu muito bem sendo primeira mulher presidente do Brasil. Ela foi humilhada, foi tudo, mas não se deixou abater e eu acho que o filme mostrou muito tudo bem isso”, completou.

Clique aqui para ler a íntegra da defesa de Dilma no plenário do Senado, em 29 de agosto de 2016

O impeachment

Em 2 de dezembro de 2015, começaria o processo de impeachment de Dilma, com o então todo-poderoso presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (hoje preso) dando prosseguimento ao pedido dos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e da advogada Janaína Paschoal, acusada de receber dinheiro para defender o pedido.

Foram 273 dias de tramitação, que acabaram em 31 de agosto de 2016, com o Senado confirmando decisão da Câmara de cassar o mandato de Dilma por crime de responsabilidade, por conta das inexistentes pedaladas fiscais e edição de decretos sem autorização do Congresso. A presidenta, porém, não perdeu seus direitos políticos.

No dia 17 de abril de 2016, após seis horas de sessão e por votação nominal, o Plenário da Câmara autorizou a abertura do processo de impeachment por 367 votos a favor, 137 votos contra e 7 abstenções, com um espetáculo de horror protagonizado pelos parlamentares que votaram sim. O Senado aprovaria por 61 votos a 20, em 31 de agosto do mesmo ano.

O filme

O Processo é um documentário de 136 minutos que conta como se deu o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Foram mais de 450 horas de gravações no Congresso Nacional e seus bastidores, que mostram falas da defesa, dos relatores, dos acusadores, de todos os parlamentares que tiveram postos de decisão em relação ao processo.

Mostra também as votações na Câmara e no Senado, a vergonha e vexatória forma como os deputados federais, aliados ao Temer e ao golpe, declararam o voto, e a divisão do gramado de Brasília em frente ao Congresso entre o vermelho dos que lutaram por Dilma e os amarelos que pediram seu impedimento. Exibe falas da defesa feita por Dilma ao plenário do Senado, retiradas das 14 horas de debates com os senadores, em que ela respondeu a mais de 350 questionamentos. Sempre firme e altiva, mas indignada.

O Processo revela o que a mídia editou para esconder e opinar. Maria Augusta não opina e, com essa decisão que poderá vir a ser interpretada como “isenção” e “neutralidade”, ela resgata ao espectador o direito de ver os fatos como eles foram e de tirar suas próprias conclusões, algo que a chamada grande e parcial imprensa brasileira precisa aprender a fazer.

> Confira aqui para conferir as cidades e as salas onde o filme está sendo exibido

Prêmios que o filme recebeu

Festival de Berlim (Alemanha) 3º lugar na votação do júri popular, Mostra Panorama

Festival Visions Du Reel, Suíça, vencedor na categoria documentário

Festival IndieLisboa, Portugal, Prêmio Silvestre e Prêmio do Público de melhor longa-metragem

Festival de Documentários de Madri, na Espanha, vencedor do prêmio de melhor longa-metragem internacional - mais de cem filmes de 32 países foram exibidos.

Confira o trailer oficial:

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