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Seus direitos

Financiários decidem rumos da categoria

Linha fina
2ª Conferência Nacional debateu estratégias de luta, organização e apresentou atual estágio da categoria e da conjuntura do país
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Foto: Jailton Garcia / Contraf-CUT

São Paulo - A 2ª Conferência Nacional dos Financiários, que iniciou na sexta-feira 2 e se encerrou no sábado 3, na sede da Contraf-CUT, em São Paulo, discutiu as reivindicações apresentadas pela categoria e definiu as cláusulas prioritárias a serem encaminhadas às financeiras, durante a Campanha dos Financiários, cuja data base é 1º de junho. O acordo dos financiários, fechado na Campanha 2016, tem validade de dois anos, assim como a dos bancários. Portanto, as cláusulas econômicas já forma fechadas em 2016 e preveem, para 2017, reajuste salarial pelo INPC com mais 1% de aumento real.

Durante o encontro foram definidas reivindicações prioritárias que devem ser mantidas na pauta de negociação a ser discutida com as financeiras. Entre elas, a de auxílio educacional para os trabalhadores; o parcelamento do gozo de férias em até duas vezes e garantia de qualificação e requalificação profissional.

No caso de demissão, os participantes defenderam o envio de uma carta pelo empregador à entidade sindical com a justificativa do desligamento do trabalhador.

Um dos painéis da conferência abordou estratégias para a organização do ramo financeiro e reafirmou a importância da atuação sindical na luta pelos direitos dos trabalhadores. Para isso, segundo os participantes, é preciso que os sindicatos promovam mudanças nos seus estatutos que lhes permitam abranger novas representações. “Não conseguimos representar efetivamente os trabalhadores porque o estatuto não permite a representação de trabalhadores de cooperativas de crédito”, disse o dirigente sindical Jair Alves, coordenador da comissão de negociação dos financiários na Contraf-CUT, acrescentando que cada sindicato tem autonomia de fazer sua reforma estatuária.

Debates - O dia de debates, na sexta 2, foi aberto pela exposição das representantes do Dieese Cátia Uehara e Bárbara Vazques sobre as financeiras.

Catia explicou que o lucro nos últimos anos foi variável devido à situação econômica do país. “Em 2014, as financeiras tiveram lucro de 20%, porém, no ano seguinte, ocorreu uma redução de 37%. Em 2016, o resultado também foi negativo. Podemos observar a disparidade do lucro obtido pela Crefisa na comparação com as demais instituições.”

A Crefisa teve o maior lucro em 2016, com R$ 1,1 bilhão. O Itaú foi o segundo, R$ 237 milhões, seguido pela Midway, com R$ 210 mi. Em ativos, a BV Financeira está em primeiro lugar com R$ 40 bilhões, depois vem a Aymoré com R$ 31,2 bilhões e a Porto Seguro, com R$ 5,2 bilhões. Sobre o patrimônio líquido, a Crefisa aparece em primeiro lugar com R$ 3,9 bi; a BV Financeira R$ 1,7 bi; e Aymoré R$ 1,4 bilhões.

Bárbara Vazques mostrou que os financiários representam 0,8% do emprego no setor financeiro, sem contar os informais que prestam serviços para uma mesma holding. Segundo ela, 80% dos trabalhadores estão nas cinco maiores financeiras.

Disse ainda que existem mais financiários do que bancários e que há mais contratações nesse segmento. Enquanto houve aumento de 52% no número de financiários, entre bancários houve apenas 27%. Além de serem em maior número, os financiários são a categoria com o maior aumento da remuneração média, 67,9% de 2002 para 2015. “Esses dados não condizem com o ganho em acordos coletivos obtidos pela categoria e nem pelo patamar que a categoria se encontra, que é bem mais baixo que os de 2002.”

Mesa do Dieese (Foto: Jailton Garcia / Contraf-CUT)


O tempo de permanência no emprego chama atenção por ser inferior ao apresentado no sistema financeiro em geral. Os financiários ficam em torno de 6,4 anos e os bancários 8,1.

Um quinto da categoria trabalhadora é demitida ao ano. “Essa taxa é muito alta e é evidente que quando se faz desligamentos no setor, se contrata novamente e com menor salário.”

As mulheres são maioria com 53%, apesar de estarem com remuneração menor, com diferença de 28%. A participação dos jovens é expressiva com 20%. Quase toda a categoria está no curso superior.

Conjuntura política - O segundo debate do dia recebeu a professora da Unicamp e desembargadora aposentada Magda Biavaschi para comentar sobre a conjuntura política e econômica do país e os impactos negativos das reformas na sociedade brasileira.

Magda relembrou a luta de vários povos do mundo desde o século XIX para obter melhores condições de emprego. “Existia uma mão de obra livre para fazer trabalho de escravo, que eram subordinados e remunerados. Ocorreu uma total exploração da força de trabalho e uma agitação muito importante no campo da política. Foi a partir da luta, que os trabalhadores começaram no chão da fábrica, mesmo proibidos, conseguiram conquistar os seus direitos.”  

A professora rechaça a ideia de que as reformas são a única forma de salvar a economia. "Eles continuam dizendo que as instituições públicas são empecilhos para o crescimento do Brasil. O que as reformas do governo atual propõem na verdade é o retorno ao século XIX.” 

Com mais de 100 artigos da Constituição alterados, a reforma trabalhista vai além do poder do negociado sobre o legislado. “Isso permite acordos individuais sem a presença dos sindicatos. Aquilo que se negocia diretamente prepondera em relação a lei mesmo que se reduza direitos”, explicou.  Dentre os artigos alterados, está na mudança a lei do Teletrabalho. “A gente lutou muito para fazer uma lei mais generosa em relação às condições de trabalho e agora isso é retirado.” 

Magda Biavaschi (Foto: Jailton Garcia / Contraf-CUT)


Magda relembrou a PEC 55, que congela o gasto público por 20 anos. “Retira a capacidade do Estado de crescer economicamente. Se tornará um modelo de estado mínimo. Com isso vamos ter graves impactos na saúde e na educação. ” 

Organização e estratégia - Após as duas exposições, foram realizados grupos de trabalho onde os dirigentes sindicais debateram estratégias para organização do ramo financeiro e a luta a favor de melhores condições de empregos.

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